Arrolada como ré na ação que corre na Justiça de MS contra a empresa Minerworld, a empresária Rosineide Pinto de Lima, ex-integrante do chamado G10 da empresa Minerworld, procurou espontaneamente o MPE (Ministério Público Estadual) na última quarta-feira (17) e concedeu depoimento no qual revelou detalhes do funcionamento da empresa.

Ao MPE, Rosineide apresentou detalhes de como o lucro entre os associados acontecia, além de informações sobre o real comando da empresa e valores que a Minerworld teria lucrado somente com taxas de adesão em suas plataformas e demais produtos vendidos.

Em seu depoimento, Rosineide Pinto destacou que, além de repasse financeiro decorrente de lucro com suposta mineração de bitcoins, cada líder ganhava comissões de 10% em cima do investimento pago pelos novos associados trazidos à empresa: por exemplo, se um associado entrasse na empresa com uma cota de R$ 10 mil, o líder que indicasse o novato levaria mil reais.

Porém, além da porcentagem em dinheiro, os líderes que formassem longas redes eram beneficiados com pontuações, semelhantes a esquemas de milhagens de cartão de crédito, que posteriormente eram revertidos em premiações – viagens internacionais, prêmios em dinheiro e carros de luxo, como visto nas redes sociais da Minerworld.

Foi o caso de Rosineide, também conhecida como Rosi Lima, que afirmou que de maio de 2016 a fevereiro de 2018, recebeu cerca de R$ 300 mil em bônus e prêmios. Todavia, a empresaria declarou ao MPE ter reinvestido todo o dinheiro na Minerworld, que em outubro de 2017 deixou de efetuar os repasses de rendimentos a seus associados. Foi quando, segundo o depoimento, Rosineide publicou vídeo (posteriormente deletado) no qual anunciava seu desligamento da empresa.

Faturamento milionário

O depoimento da empresária afirma que a empresa Minerworld faturava não só com a venda de pacotes de associação, mas, também, com taxas de ingresso no escritório virtual (backoffice), que eram de pelo menos US$ 15, destinado supostamente à taxas operacionais. Segundo a empresária, a cobrança de tal valor dos associados teria resultado em pelos menos US$ 2 milhões, levando em conta cerca de 70 mil associados, e que cada um teria ao menos duas contas.

A empresa também teria faturado na migração para o sistema Miner.360, apontado em denúncias como um restart e nova tentativa de golpe em cima dos investidores. Isso porque uma taxa de US$ 50 teria sido cobrada para fazer a migração de dados de um sistema para o outro – de acordo com a Minerworld, a mudança de sistema seria necessária para auditar ativos e passivos da empresa, de forma a elaborar um plano de pagamento para os repasses atrasados.

Ex-G10 da Minerworld procura MPE e revela detalhes do funcionamento da empresa
Cícero Saad e Johnes Carvalho, diretores da empresa Minerworld, investigada por crime contra a economia popular (Reprodução)

Outros custos, decorrente de vendas de cartões de créditos, maquinas de cartão de crédito e até terminais de autoatendimento que operariam no câmbio de reais para bitcoin teriam sido vendidos para os investidores, mas jamais entregues. Mais de 12 mil cartões de crédito teriam sido encomendados ao custo de US$ 15 dólares, cada, e também jamais foram apresentados e o dinheiro não foi devolvido. Além disso, cerca de 150 terminais de autoatendimento, ao custo de US$ 1 mil, cada, também teriam sido vendidos e jamais foram vistos.

A ré também destacou que a criação da moeda Mcash seria assumidamente uma jogada de marketing da empresa, segundo teria dito Jonhnes Carvalho, em ocasião do lançamento internacional da criptomoeda. A construção da Minertech, única fazenda de mineração da empresa, e que apresentaria lucro mensal de cerca de R$ 1,5 milhão, segundo Rosineide, teria sido custeada com dinheiro dos líderes.

Ao MPE, a empresária reforçou que emprestou a Cícero Saad um total de 47 bitcoins para a construção da mineradora de Hernandárias, no Paraguai, transferidos diretamente para a carteira de bitcoins de Cícero Saad, e não para a da empresa Minerworld. Ela afirma que não teve o valor, estimado atualmente em R$ 1,46 milhão, devolvido por Saad até o momento.

Hierarquia da empresa

De acordo com Rosineide, o comando da Minerworld estaria concentrado em Cícero Saad Cruz, Jonhnes Carvalho. Porém, Hércules Gobbi e Luiz Yamashita também seriam poderosos, já que eram responsáveis pelo Setor de Tecnologia de Informática.

Yamashita, porém, seria o mais discreto e raramente seria fotografado, ao contrário de Gobbi, que era apresentado como diretor da empresa. Ambos foram arrolados como réu posteriormente, a pedido do MPE, após denúncia de envolvimento de ambos no esquema de pirâmide financeira.

Ex-G10 da Minerworld procura MPE e revela detalhes do funcionamento da empresa
Hércules Gobbi (à esquerda), diretor de tecnologia da Minerworld, foi incluído no polo passivo da ação (Reprodução)

Rosineide também destacou que a direção apresentou muitas informações inconsistentes quando os calotes começaram a ocorrer, em outubro do ano passado. A primeira informação, divulgada em reunião realizada em hotel da Capital, era de que 1500 bitcoins haviam sido alvo de ataque hacker no trader Poloniex. Somente depois o valor foi anunciado ao líderes e aos demais investidores como sendo 851 bitcoins.

De fato, a empresa chegou a apresentar publicamente diversas desculpas para justificar os calotes iniciados em outubro, de alteração no código do bitcoin a mau tempo no Paraguai. A informação do suposto ataque hacker, que não foi confirmado à reportagem pelo trader Poloniex, só surgiu em março deste ano, quando um terceiro plano de quitação dos passivos foi anunciado.

G10 como réus

Além de Rosineide, Ivan Félix de Lima, José Aparecido Maia dos Santos, Mayckon Voltaire Grisoste Barbosa, Elierri Medeiros de Oliveira e Mayko Alessandro Cunha Franceschi, que eram do grupo comumente chamado G10 da Minerworld, foram arrolados como réus a pedido do MPE, que apresentou dossiê com a participação de cada líder na propagação do esquema de pirâmide financeira. Ao MPE, Rosineide negou a acusação.

Ex-G10 da Minerworld procura MPE e revela detalhes do funcionamento da empresa
Rosineide Pinto, ao centro, de verde, procurou o MPE para revelar detalhes do funcionamento da Minerworld (Reprodução)