Os usuários do de devem dar adeus aos ônibus articulados. Apenas dois dias depois de apresentar 20 novos ônibus com direito a desfile e fogos de artifício, o Consórcio Guaicurus já recebeu da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) autorização para tirar os ‘sanfonados’ de circulação. Passageiros e funcionários temem que nos horários de pico a mudança piore ainda mais a qualidade do serviço.

De acordo com o diretor do Consórcio Guaicurus, João Rezende Filho, os 20 novos ônibus convencionais, que chegaram à Capital na semana passada, após as empresas deixarem em circulação diversos ônibus com a data de validade vencida, não serão adicionados à frota, mas sim substituir os 18 articulados pelas ruas da Capital.

Os articulados que rodam em Campo Grande têm dez anos de utilização e, de acordo com a legislação, que estabelece vida útil de 15 anos para este tipo de veículo, ainda poderiam rodar mais cinco anos. Segundo Rezende, a substituição dos 18 veículos tem como principal justificativa a acessibilidade, uma vez que nem todos os articulados são equipados com elevadores. Funcionários suspeitam que a decisão esteja relacionada aos custos com consumo de combustível.

“Vão sair de circulação nesta semana, no máximo, na outra, quando os novos, que estão sendo emplacados e revisados, vão entrar”, informa o diretor. Questionado se a troca não vai prejudicar os passageiros, Rezende explica que nem todos os articulados rodam o dia inteiro e que “dois convencionais vão entrar no lugar o outro, no horário de rush”.

Era cilada? Dois dias após apresentar novos ônibus, Agereg autoriza retirada de articulados das ruas
BRTs não serão aposentados. (Foto: Cleber Gellio/Arquivo Midiamax)

Muitos usuários, que já estão sabendo da informação, não gostaram da retirada dos ônibus articulados. Eles temem que a lotação nos horários de pico aumente e os ônibus convencionais fiquem em estado de “lata de sardinha”.

A linha 087 – que interliga os terminais General Osório e Guaicurus – deve ser uma das afetadas pela mudança. Sobre essa linha, especificamente, Rezende explica que a alteração, com foco na acessibilidade, vai ajudar os passageiros que utilizam a linha para ir ao CEM (Centro de Especialidades Médica), por exemplo.

O diretor do Consórcio Guaicurus justifica o remanejamento da frota de Campo Grande como parte de um cenário de mudança nos hábitos dos passageiros do transporte coletivo. Segundo ele, a frota de veículos de 2018, comparada a de 2013 foi reduzida em 1,6 ônibus. Já a queda no número de passageiros é de 19%.

“Não tem tanta demanda para eles [ônibus articulado]. Entre 2013 e 2018, a redução de passageiros foi de 20%. Não temos nem o direito de manter essa mesma frota. O número de pessoa diminui, não é somente porque o ônibus não tem um serviço que agrada. Tem muita gente que agora trabalha dentro de casa. Tem bairros como as Moreninhas, que tem hospital, cartório, rede de marcados. Temos que fazer o remanejamento da frota. Não é absurdo ajustar oferta à demanda”, analisa Rezende.

Aumento batendo na porta

O reajuste anual da tarifa do transporte coletivo é previsto no contrato de concessão assinado em 2012, pelo então prefeito Nelson Trad Filho com o Consórcio Guaicurus, que reúne as empresas Viação Cidade Morena, Viação São Francisco, Jaguar Transporte Urbano e Viação Campo Grande.

A data para reajuste é 25 de outubro e, antes disso, a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos) procede um estudo para definir o valor do aumento. O Consórcio Guaicurus também faz os seus cálculos e leva o valor à Prefeitura. O martelo será batido pelo prefeito Marcos Trad (PSD) e publicado no Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande).

Nos últimos anos, essa discussão se prolongou e os reajustes foram aplicados nos meses de novembro e dezembro. Em dez anos, a tarifa do transporte coletivo subiu de R$ 2,10 para R$ 3,70, aumento de 76%. Desde 2013, quando o valor do passe teve redução, passando de R$ 2,85 para R$ 2,70, o aumento foi de R$ 0,80.

O Jornal Midiamax procurou a Prefeitura de Campo Grande para se manifestar sobre a autorização para as empresas trocarem os articulados pelos ônibus menores que foram entregues oficialmente há dois dias. Em nota, a administração municipal garantiu que a mudança ‘não vai prejudicar os passageiros’. Confira a nota na íntegra:

Quanto a autorização para retirada dos veículos articulados por conta da chegada de novos ônibus, informamos que esta substituição já foi submetida ao Conselho de Regulação e aprovada, uma vez que foi apresentada ao Conselho uma proposta na qual a aludida substituição não comprometeria a operação, de modo que a relação demanda/oferta seria mantida.

Prefeitura Municipal de Campo Grande

Era cilada? Dois dias após apresentar novos ônibus, Agereg autoriza retirada de articulados das ruas