O idoso da etnia guarani-kaiowá Ambrósio Alcebíades, 70 anos, preso em Caarapó (a 280 quilômetros de Campo Grande), durante conflito entre funcionários de fazendeiros e indígenas, foi solto no final da semana passada. De acordo com indígenas que moram na área, (a Fazenda Santa Maria que está na Terra Indígena Guapo’y) ele ainda se recupera do tiro de bala de borracha que levou na data do confronto.
O idoso foi preso após o conflito (no dia 27 de agosto) e quando grande aparato policial foi encaminhado pelo governo do Estado à região. A tropa de Choque da Polícia Militar fez busca e apreensão na área em que os indígenas moram e Ambrósio foi preso, sendo indiciado por resistência à prisão e por roubo – justificativa apresentada pelos funcionários dos fazendeiros para o acionamento da Polícia Militar.

O comandante-geral da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Waldir Ribeiro Acosta, e o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, participaram da ação na fazenda Santa Maria. A corporação confirmou que os dois foram acionados até o local para acompanhar a situação “para ver a situação e dar um suporte”.
Conforme uma das moradoras da região, após sair do Presídio de Caarapó, Ambrósio foi levado ao hospital onde chegou a ficar internado. O desencontro de informações provocou grande preocupação na comunidade. “No dia 7 de setembro ele foi fazer curativo no hospital e achamos que ele tinha sumido, mas, na verdade, estava internado. Agora, ele já está bem e tem ainda que trocar o curativo, conta a indígena.
Ainda segundo a indígena, o clima na comunidade permanece sendo de apreensão. “Não conseguimos andar por lá [nas proximidades da sede da fazenda]. Os pistoleiros continuam por aqui”, diz.

A área reivindicada é por indígenas como de ocupação tradicional, inclusive, tendo sido reconhecida pela Funai (Fundação Nacional do Índio) como terra tradicional indígenas em 2016, mesma época em que os indígenas retomaram áreas da Fazenda Santa Maria.
No fim de agosto, representantes da ONU (Organização das Nações Unidas) procuraram o MPF (Ministério Público Federal) para fazer representação contra ação policial contra indígenas em Caarapó. Um advogado e o secretário regional da ONU solicitaram ao órgão acompanhamento ao inquérito já aberto para apurar a situação.
De acordo com os denunciantes, houve irregularidades na forma como os indígenas foram tratados durante a operação que contou com militares do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), da Força Tática da PM e também grupamento aéreo da PM.
O Ministério Público Federal (MPF) também abriu um inquérito civil público para investigar os acontecimentos. “Apenas após a conclusão da investigação será possível apontar se houve ilegalidade na operação”, diz nota enviada ao Jornal Midiamax.