Entrar em um carro de serviço de transporte por aplicativo é atravessar um portal para histórias peculiares, desabafos e reclamações: de passageiros e motoristas. Depois de quase dois anos do começo das operações em Campo Grande, é possível ver que o serviço, importado de outros países e cidades maiores já está incorporado ao cotidiano da cidade.

Do lado dos motoristas, o serviço ajudou a gerar empregos e até fazer pessoas descobrirem que gostam mesmo de ‘trabalhar com gente’ como dizem alguns. Do lado dos passageiros, aumentaram as possibilidades de transporte alternativo aos ônibus – alvo de queixas constantes- e de deixar o carro em casa, sem ser o táxi a única possibilidade de locomoção. Entre amor e ódio, o motorista e passageiros reclamam dos aplicativos, mas já não vivem.

Entre os passageiros, a queixa sobre Uber é principalmente sobre o preço dinâmico. Muitos usuários têm teorias sobre os motoristas forçarem preços mais altos e dizem que em, em dias de chuva, fica quase impossível utilizar o aplicativo. Um passageiro conta que nesta semana, no dia da chuva a corrida, de cerca de 4 quilômetros, estava custando cerca de R$ 60.

A Urban que não é conhecida nacionalmente, investiu na divulgação em campo Grande, desde que começou a operar na cidade em outubro do ano passado. O aplicativo costuma ser referência no preço mais acessível para passageiros, porém, muitos passageiros dizem não encontrar motoristas e nem entender o aplicativo, que não é tão simples de usar quanto o Uber.

Para quem está trabalhando, a reclamação sobre os passageiros é principalmente relacionada à sujeira. Eles até aguentam quem não dão um bom dia direito, mas sujar o carro, é imperdoável.

Sapatos cheios de barro e derrubar comida lideram as queixas de quem trabalha durante o dia. Já para quem também dirige a noite, a possibilidade de vômito pós-balada atormenta os trabalhadores. Para essas pessoas já vai o aviso: a Uber cobra a taxa de limpeza do passageiro que vomitar no carro.

“Antes, eles [a Uber] pagavam a lavagem do carro, mas não é justo, porque você fica sem trabalhar, perde o dia ou à noite. Acho que chegaram a um valor como de uma diária. Se fosse alguém passando, doente, acho que eu teria dó e só falaria para pagar a lavagem, mas quando a pessoa está bêbada, não dá. Aí a gente já avisa da multa que é pesada”, conta uma motorista.

Dirigindo um veículo Sedan deste ano, a mesma profissional chama a atenção para o estado dos veículos. Ela diz que o intuito do aplicativo seria ter carros mais novos para oferecer um serviço de maior qualidade e conforto aos passageiros, mas possibilidade de carros mais velhos acaba por tirar essa ‘visão dos motoristas’ de Campo Grande.

No sentido contrário, um motorista da Uber se queixa do Urban, pois não está mais conseguindo pegar corridas por conta da idade do carro. “Meu carro é bom, mas já não está mais servindo. Quando eles entraram aqui cadastraram todo mundo, tinha interesse da empresa, mas agora, não aceitam mais o meu carro”.

Entre os motoristas da Uber, a reclamação com relação à empresa é o valor que eles têm que repassar, superior ao 99 pop e do Urban. A conta dos motoristas é sempre a mesma: preço da gasolina alto, manutenção do veículo e sobra pouco para eles. A tática dos motoristas é trabalhar para mais de um aplicativo e pegar corridas em mais de um aplicativo. Inclusive indicando o Urban com a propaganda de que é mais barato.

Já o 99 Pop ficou esquecido dos campo-grandense e poucos se lembram dele na hora de sair. Quando chegou a Campo Grande, o aplicativo tinha a meta de cadastrar 4 mil motoristas. Em contato com a empresa não houve respostas sobre o número de motoristas ou qualquer informação sobre o 99 Pop ou ao 99 Táxi em Campo Grande.

Regulamentação

A chegada de algo novo como os aplicativos de transporte causou dúvidas. Diversas cidades, incluindo Campo Grande, fizeram a sua própria regulamentação, que acabou sendo sobreposta, na maior parte, pela lei que foi sancionada pelo Governo Federal no começo do ano.

Fora do Brasil, o barulho não é menor. A cidade de Nova York aprovou no começo deste mês, a limitação, pelo período de um ano, da emissão de novas licenças de veículos de aluguel com motorista (VTC), como Uber e Lyft, enquanto estuda o impacto do serviço no sistema de transportes urbanos.