Incertezas estariam afastando profissionais

Quem precisou usar os serviços da Uber em Campo Grande nos últimos domingos encontrou, o dia inteiro, o que a empresa chama de “preço dinâmico”, quando a tarifa cobrada pelas corridas fica mais cara, chegando a empatar e até ultrassar o valor dos táxis, em contrapartida aos montantes normalmente 50% menores. A mudança já foi notada pelos clientes e pode estar ligada ao debate para regulamentar o serviço na cidade.

Nos domingos, a alta nos preços se justifica  por, teoricamente, haver menos motoristas ligados à plataforma e trabalhando. Mas, essa situação, antes menos comum, tem se repetido durante a semana desde que a prefeitura anunciou a criação de regras rígidas para a atuação dos motoristas de aplicativos, chegando a editar um decreto, depois revogado, que limitava o número de autorizações a 490 e determinando o pagamento de impostos.

A assunto está sendo debatido, para a edição de regras, mas o efeito prático já é sentido por quem usa a plataforma de transporte. O Jornal Midiamax teve acesso a prints da tela vista pelos motoristas, mostrando o comportamento dos preços, e a diferença da tela antes do decreto e depois dele é gritante.

Antes, a cidade toda aparece em tom clarinho, que indica preço normal. Depois, em um print de sábado (11) à noite, os tons mudam para  alaranjado e vermelho, que indicam valores mais altos. O usuário é informado do preço dinâmico assim que pede a corrida, quando aparece um índice pelo qual o preço base será multiplicado.

Clientes relatam que o preço dinâmico agora aparece para os campo-grandenses invariavelmente sempre que começa a chover, por exemplo. Além disso, há relatos até de motoristas que estariam cancelando chamadas assim que percebem a ‘chegada’ do preço dinâmico com tarifas mais altas.

A empresa não revela o número de motoristas que trabalham para ela, mas chegou-se a falar em mais de 700 profissionais. Hoje, não se sabe quantos estão rodando na cidade.

Reflexo direto

Criada para representar motoristas ligados às plataformas de transporte, a Amu (Associação dos Motoristas de Aplicativos de Mobilidade Urbana), confirma que os preços aumentaram depois da edição do decreto, perto do Carnaval, e atribui à redução do número de profissionais nas ruas. O presidente da entidade, Wellington Dias, diz que apesar da revogação da medida, diz que muitos trabalhadores não voltaram a atuar. “Ficou um cenário de incerteza e muitos dos que atuavam para complementar renda não voltaram a trabalhar”.

O decreto foi baixada no dia 25 de fevereiro, sexta-feira de Carnaval, acompanhado do anúncio de que quem estava atuando, era de forma clandestina. A polêmica se instalou e no dia 7 de março, a publicação foi revogada e foi anunciado que as mudanças só ocorreriam depois de discussões, que incluem a realização de audiência pública no dia 23 de março, a próxima quinta-feira, na Câmara Municipal, a pedido do município.   

Não é bem assim

Para outra entidade que representa os profissionais ligados à plataforma, porém, não há relação entre o preço dinâmico e a regulamentação anunciada pela prefeitura. O presidente  Applic-MS (Associação dos Parceiros de Aplicativos e de Motoristas de Transporte de Passageiros e Motoristas Autônomos de Mato Grosso do Sul), Paulo Pinheiro, diz que no domingo, especificamente, o número de motoristas pode ter ficado menor em razão de muitos preferirem não trabalhar nessse dia e aproveitar para descansar.

Pinheiro é defensor ferrenho da regulamentação do serviço. Para ele, é preciso ter regras, inclusive, para garantir a segurança de passageiros e profissionais. Ele cita casos de violência em outros estados como motivo para adotar medidas por aqui que assegurem regras mais rígidas.

Entre os usuários do serviço, a mudança nos preços e também a espera maior pelo atendimento é perceptível, embora haja quem nem preste atenção. O estudante Vinícius Roa, 24, usa o serviço de vez em quando e observou que a noite o valor costuma até dobrar. A manicure Jaqueline Galhardo, 23, contou à reportagem que já pegou Uber algumas vezes, mas que nunca reparou na variação dos preços.

“Quando a demanda é grande é necessário que haja o preço dinâmico, para justificar o deslocamento de um carro que esteja mais distante”, pontua o motorista Fabiano Albuquerque, presta serviços à plataforma.

A própria Uber já havia sinalizado, logo que o prefeito Marquinhos Trad anunciou medidas de regulamentação da atividade, que a população seria a maior prejudicada. A empresa, consultada pelo Jornal Midiamax, informou que não comentaria o assunto.