Vizinhos de templos barulhentos sofrem com desrespeito à lei nos bairros

Sabe como denunciar os abusos às autoridades?

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Sabe como denunciar os abusos às autoridades?

Enquanto alguns templos religiosos viram pesadelo para os próximos, outros aplicam o bom senso e garantem a paz com os vizinhos, além de evitar multa por causa do barulho. Neste mês, a Igreja Assembleia de Deus das Missões, no Jardim Aeroporto, foi condenada a pagar indenização de R$ 15 mil por crime de poluição sonoraE não é a única alvo de queixas em Campo Grande.

Pelo menos por princípio, todas as igrejas deveriam respeitar a lei sem necessidade de as autoridades serem acionadas. Há até um trecho bíblico em que Jesus, pilar do cristianismo evangélico pentecostal, ensina aos seguidores a ‘dar a César o que é de César’. Teólogos concordam que é uma forma de ensinar que a lei, o Estado (representado por César no Império Romano) deve ser respeitado.

No entanto, templos dos ministérios pentecostais são campeões de reclamação. Em diversos bairros de Campo Grande, são apontadas como pesadelo dos vizinhos. Como nem sempre a conversa amigável resolve, quem mora perto de alguma igreja sem limites pode denunciar direto na Prefeitura de Campo Grande, na Polícia Civil ou ir ao MPE (Ministério Público Estadual), como fez a moradora que se irritou com a Assembleia de Deus das Missões, no Jardim Aeroporto.

Acham que Deus é surdo

“É todo dia pastor gritando”, diz uma comerciante do Universitário sobre a Igreja Deus é Amor no Pioneiros. Ela prefere não se identificar e conta que os cultos são diários, entre às 18h30 e 21 horas. O templo está cercado por residências.

“Acho abusivo. Não pensam nas outras pessoas. Meu filho que diz: Acham que Deus é surdo. Eles deviam respeitar mais”, diz a comerciante. 

A igreja perturba a vida da família da comerciante, mas não é a única que tira o sono no bairro. “Tenho uma amiga que morava aqui perto e tinha uma igreja evangélica do lado da casa dela. Ela ficou incomodada e resolveu se mudar. Ela tinha um terreno e já queria construir mesmo. Fez a casa e mudou. Três meses depois, abriu uma igreja do lado da casa nova”, conta a comerciante. 

No Santo Eugênio, morando a aproximadamente 300 metros da Igreja Evangélica Pentecostal A Palavra de Cristo, uma dona de casa já não aguenta mais o barulho dos cultos, especialmente, às segundas-feiras.

Igreja causa transtorno há 20 anos “Dia de segunda de tarde dá para escutar daqui. Acho que eles amarrando o diabo. É um abuso porque não respeitam. As vezes, as pessoas confundem as coisas. Deus é único e não precisa gritar. Para falar com Deus, basta entrar no quarto e falar baixinho que ele ouve”, reclama. 

Bem mais perto da igreja, outra dona de casa diz que viu a igreja ser construída há 20 anos e que é difícil conviver com os cultos.

“São gritos quase todos os dias e um volume muito alto nas músicas. Eu deito para dormir no meu quarto, com a janela fechada, e ainda consigo escutar. Também têm os carros. Muita gente estaciona na frente da minha casa”, reclama. 

Bom exemplo: Deus é amor (muito amor)

Mas nem todas as igrejas causam problemas para os próximos. Também no Santo Eugênio, o comerciante Adjair Pereira Guimarães é só elogios à Igreja Deus é Amor, instalada na frente da mercearia dele. Morando há mais de 15 anos anos no local, ele diz que  a igreja pôs fim ao pesadelo que era ter um bar como vizinho. Comerciante comemora a abertura da igreja na frente de casa

“Podem falar das outras, mas nessa daí, não tem barulho nenhum e não incomoda ninguém”, diz. Adjair diz que ter dois bar na mesma rua, com poucos metros de distância, era sinônimo de baderna.

“Tem culto todo dia e acabou a baderna. Ali foi uma igreja que fechou, veio o bar e depois voltou a ser igreja. Antes, na época do bar, tinha briga, chegava freguês aqui e eu tinha que fechar as portas para poder atender”, completa. 

Sem perturbar os vizinhos

No Universitário, separadas por aproximadamente 500 metros, estão a Igreja Batista Janelas do Céu e o Templo de Umbanda Pai Oxalá. Em comum entre os dois templos, nenhuma reclamação dos vizinhos sobre barulho.

Vizinhos de templos barulhentos sofrem com desrespeito à lei nos bairros“Olha, se incomoda alguém, é o vizinho do lado. Mas aqui não escutamos nada. Somos da paz, seria difícil nos incomodar”, diz a moradora da segunda casa ao lado do tempo de umbanda. 

Morando na frente da Igreja Batista, Zeneide Carvalho dos Anjos diz que não tem problemas com a igreja evangélica. “O que incomoda é barulho daquelas músicas funk que passam em carro. A igreja não incomoda ninguém e eu gosto dos hinos”, diz. 

No Taquarussu, José Francisco, conta que mora desde 1971 no bairro e que viu o surgimento de vários templos, mas que nenhum tem causado transtorno. “É um pessoal muito discreto. Quase não vê ninguém aí”, diz sobre a Tenda de Umbanda Cabocla Janaína.

Como se abre um templo religioso?

A forma de licenciar um templo religioso, inicialmente é o mesmo de uma outra atividade passível de licenciamento ambiental. Há a necessidade de formalizar um processo de licenciamento ambiental que tramitará dentro da Semadur. O processo de licenciamento ambiental possui três fases: A licença prévia (fase em que se aprova o local, atestando a sua conformidade); licença de instalação (fase em que se aprova projetos, os quais serão executados no local previamente aprovado) e a licença de operação (é a terceira e última fase, a qual se permite o funcionamento da atividade aprovada e instalada no local). 

Para quem reclamar?

Algumas pessoas não denunciam para não ‘procurar briga’, outras porque não sabem. Mas os templos que incomodam podem receber punições. Conforme a Semadur (Secretaria Municipal Meio Ambiente), as denúncias podem ser realizadas denúncias pelo ‘disque denúncia 156’, sendo que os agentes fiscais verificam se existe licença ambiental e é realizada aferição sonora por estudo físico como por exemplo decibelímetro  para localizar irregularidade de poluição sonora e caso haja irregularidade é aplicada a penalidade.

São realizadas vistorias para verificar se as atividades possuem a Licença Ambiental, constatada a ausência desse documento é procedida a expedição da notificação. Caso seja constatada a emissão de ruído acima do permitido é procedida a expedição do auto de infração e multa. 

Quem infringir a Lei Complementar n. 2.909 de 28/07/1992, que “proíbe perturbar o sossego e o bem estar público com ruídos, vibrações, sons excessivos ou incômodos de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma”, pode levar multa que varia de acordo com o volume do ruído. Quanto mais alto, maior a multa. 

Multa de R$ 15 mil

A 16ª Vara Cível de Campo Grande condenou a igreja Assembleia de Deus das Missões, do bairro Jardim Aeroporto, a pagar indenização de R$ 15 mil por crime de poluição sonora. A ação foi ajuizada por uma dona de casa que ficou incomodada com o barulho realizado durante os cultos. A sentença foi do juiz Marcelo Andrade Campo Silva.

Em Mato Grosso do Sul, a igreja está presente em Sidrolândia, Bandeirantes, Ribas do Rio Pardo, Rochedo, Rio Negro, Água Clara, Camapuã, Corguinho e Rochedinho, com sede em Campo Grande, onde possui também várias congregações.
 
Consta na ação que a dona de casa pediu a abertura de um inquérito do MPE-MS (Ministério Público Estadual), que tramitou na 5ª Vara do Juizado Especial Cível e Criminal de Campo Grande. A ação, no entanto, decidiu que a Assembleia de Deus deveria realizar doações a uma entidade sem fins lucrativos.

A Assembleia de Deus negou que os cultos impliquem em poluição sonora e que as reuniões ocorram todos os dias da semana. “A requerida tem seus cultos religiosos, as quarta-feira, sextas-feiras e domingos, das 19h30min às 21h00min; não existem reuniões o dia inteiro e nem cultos que comecei às 6h00min; seus nunca chegaram às 22h00min e nem estenderam à madrugada a fora, sendo certo, porém, que seus cultos ocorrem dentro da sonoridade permitida em lei”, afirmou.

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