Valores mudam e podem sair mais caro que táxi

A chegada do a parece ser um dos serviços que representam um pouco de oxigênio em um ano de crise econômica. A saída abrange tanto os motoristas – a maioria, em Campo Grande, possui outros empregos, mas trabalha na empresa para complementar a renda -, quanto usuários. Com o transporte público precário e implicado no impasse do rejuste da tarifa, o serviço é opção de muita gente, em especial para pequenos trajetos. Nos últimos dias, no entanto, usuários do aplicativo reclamam do aumento do que a empresa chama de preço dinâmico – que pode até quintuplicar o valor cobrado. A ‘bandeira' mais cara pode inibir alguns clientes, mas o que eles relatam é que na Capital, Uber ainda oferece vantagem.

Stéphanie Malulei, 29, é professora da Universidade Estácio de Sá. O bairro onde vive, de acordo com ela, é mal atendido pelo serviço de transporte público. “Basicamente, onde eu moro não tem muito transporte, eu moro atrás da federal [UFMS], só passa um ônibus aqui. Eu não dirijo e o ônibus que passa dá uma volta no bairro. Então, basicamente, se eu quiser pegar um ônibus eu tenho que andar até a Coca Cola”, explica.

A professora tem utilizado o aplicativo diariamente para ir ao trabalho. “Táxi daqui até a Estácio chega a dar R$ 20 reais e mototáxi uns R$ 15 reais, e o Uber dá R$ 7,50, e eu uso basicamente todo dia pra ir e pra voltar do trabalho”, relata.

“Com o preço dinâmico fica quase o mesmo preço do táxi, mas toda vez que eu ligo lá [central de táxi] de eu não consigo pegar, é um estresse tremendo. E até agora eu só conheci gente legal no Uber, motoristas. Inclusive têm amigos meus que já estão fazendo Uber também e, poxa, cada vez é uma coisa bacana. É alguém legal, a gente vai conversando, pra mim não tem nem comparação”, relata.

Outra avaliação positiva do serviço oferecido é da Lis Loureiro, 26, estudante. Cadeirante, ela analisa mais do que qualquer outro usuário do aplicativo: a gentileza e o cuidado com suas necessidades. “Um dos motoristas do Uber queria me pegar no colo, não se importou de colocar minha cadeira no banco de trás do carro, já que não cabia no portas malas. Quando eu cheguei na minha casa ele fez questão de me acompanhar até o portão. Estava chovendo muito, ele abriu o portão da minha casa e me ajudou a  entrar”, conta.

O Jornal Midiamax testou o aplicativo quando ele começou a funcionar na Capital (Foto - Tatiana Marin)

 

“Por essas e outros motivos uso e prefiro o Uber. Enquanto os taxistas ficam inventando desculpas pra não pegar cadeirante, os motoristas do Uber são super atenciosos. Já vi que subiu o valor, mas não me impediu de pegar não”, complementa.

Ainda assim, o preço dinâmico já desmotivou o uso do Uber e outros clientes relataram ao jornal Midiamax que deixaram de utilizar o serviço. A estudante, Nuala Lobo Cambará, de 22, foi uma das pessoas que já desistiu de viagens por conta do preço. “Já aconteceu algumas vezes. Aí acabo recorrendo pro táxi ou esperando algum tempo”, afirma. Sobre o serviço, ela, ainda assim, pensa que vale a pena. “Acho mais prático por ser via aplicativo e geralmente pedir táxi no app demora um tempo. É mais rápido e também mais barato, porém, ultimamente, o uber tem ficado com o valor muito alto por conta do preço dinâmico”, explica.

A mesma situação já ocorreu com a jornalista Lynara Ojeda, 29, que, ainda assim, considera o aplicativo vantajoso. Conforme relata, saber quanto vai “desembolsar”, antes da corrida, é outro aspecto positivo. “Acho prático. Sei que existem aplicativos das cooperativas. Mas Uber, você chama, acompanha e avalia. Também gosto do preço e de já pegar o carro sabendo quanto devo desembolsar com a corrida”.

O estudante Antonio Negruni, 23, que vive na Vila Maciel, afirma que já desconfiou do preço dinâmico. A explicação do Uber é que os preços aumentam quando a demanda pelo serviço é superior ao número de carros ofertados.

“A princípio, o preço é o maior atrativo e de quebra tem o conforto. No geral, os carros são limpos e os motoristas sempre bem educados, foram poucas as experiências negativas com o Uber aqui em Campo Grande. Eu uso Uber pelo menos umas quatro vezes por semana, em média com corridas com um preço médio de 15 reais, mas o tal do preço dinâmico incomoda bastante. A explicação é ótima e faz sentido, porém há horários e locais que quase sempre está com essa “taxa” e demora pra passar. Isso é triste porque depois que eu comecei a usar Uber eu nunca mais usei táxi e nem quero”, afirma.

Avaliação constante melhora o serviço

Outra questão analisada pelos usuários do Uber é a avaliação. O aplicativo permite que os clientes avaliem o atendimento dos motoristas, e o contrário também ocorre. A psicanalista Katiuscia Kincheve utiliza o Uber para pequenos trajetos e explica que a opinião de condutores e clientes é um dos pontos que destacam o serviço como benéfico à população.

“Além do desgaste do carro, devido aos buracos, gasolina, dificuldade de estacionamento, eu ganho, também, agilidade. Não preciso andar com dinheiro, já que a principal forma é o cartão de crédito. Por exemplo, o Shopping Campo Grande, se eu ficar lá 2h pra ir ao cinema eu pago R$ 8 reais de estacionamento, mas pra ir e voltar do Shopping eu gasto R$ 12 reais de Uber. Então, financeiramente, compensa. E além de achar absurdamente caro o táxi pra pequenos trajetos, esses profissionais do Uber se cuidam, porque estão sendo avaliados constantemente, então tem alguns vícios que taxistas têm, que eles não tem. E a gente também é avaliado. Há um cuidado com aquilo que não é nosso. Há um cuidado do cliente, um cuidado daquele profissional. Sinto como a época em que o computador veio substituir a datilografia”, relata.

Para ela, qualquer regulamentação deve priorizar os direitos dos motoristas. “Tem uma coisa sendo questionada, que é não ter recolhimento. 25% do que é arrecadado vai pra fora do país, pra onde a plataforma nasceu e eu me questiono se esses motoristas, que na teoria deveriam ter seus direitos trabalhistas, se eles realmente têm seus direitos respeitados, se vão ter uma associação séria, um sindicato sério. Então, eu acho que, ao invés de reclamar do Uber e fazer faixas e estandartes do tipo “volta, táxi”, esse serviço deveria ser regulamentado, inclusve pensar os impostos sobre ele”, finaliza.