MS registrou 562 tentativas de suicídio com uso de agrotóxicos
Dados são do Ministério da Saúde entre 2007 e 2013
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Dados são do Ministério da Saúde entre 2007 e 2013
Mato Grosso do Sul registrou 562 tentativas de suicídio de pessoas que tentaram se matar ingerindo agrotóxicos. Os dados são do Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos 2016, elaborado pelo Ministério da Saúde. O Estado ocupou o 2ª lugar da região Centro-Oeste, responsável por 21% de tentativas de suicídio desse tipo na região.
Um dado alarmante para o Ministério da Saúde é que, em todo o Brasil, 54,3% das intoxicações por agrotóxicos foram tentativas de suicídio. A questão contempla o uso agrícola, doméstico, na saúde pública (casos, por exemplo, de dedetizações) e produtos veterinários.
No Centro-Oeste, na frente de Mato Grosso do Sul vem Goiás: responsável por 53% dos casos. Foram 32 mil e 369 tentativas em todo o país entre 2007 e 2013, e a região contabilizou 2 mil 730.
Perfis
Outro dado que mostra o relatório é o perfil de quem tenta suicídio por ingestão de agrotóxicos: mulheres. Nos anos observados, as mulheres foram responsáveis por 52,2% das tentativas. As ocupações declaradas nas notificações indicam que, predominantemente, foram donas de casa que representaram mais tentativas do tipo.
“A categoria ‘dona de casa’ destaca-se em relação às ocorrências de tentativa de suicídio (21,8%), em sequência de ‘estudante’ (19,1%) e ‘trabalhador agropecuário’ (12,4%). Esses dados sinalizam para o desvio de uso dos agrotóxicos e retratam a necessidade de maior fiscalização de sua comercialização”, afirma o relatório.
Novamente, Mato Grosso do Sul volta a preocupar o Ministério. Isso porque o Estado está entre as unidades federativas que mais evoluíram em comercialização de agrotóxicos. “Entretanto, ao se analisar o indicador “uso de agrotóxicos”, conforme explicitado anteriormente, essa classificação se modifica. Nesse caso, os estados com maiores quantitativos de agrotóxicos comercializados por hectare, entre 2012 e 2013, foram Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Minas Gerais, Goiás, Maranhão e Mato Grosso do Sul”, explica o documento.
“Em 2012, o Mato Grosso do Sul ocupava a sétima posição na classificação dos maiores comercializadores de agrotóxicos do País. Em 2013, no entanto, o estado caiu uma posição na classificação, visto que a comercialização de agrotóxicos reduziu de 70 milhões para 54 milhões de quilos. Ainda assim, a comercialização é bastante significativa, tendo em vista que, em média, 12,68 kg de agrotóxicos foram comercializados para cada hectare de área plantada”, explica o relatório.
A preocupação se deve ao fato do Estado ter “intensificado” o uso de agrotóxicos, ou seja, aumentou o uso e não a área plantada, com uma incidência maior dos defensivos in loco. “A comercialização de agrotóxicos e afins no País tem aumentando ao longo dos anos, sem aumento proporcional da área plantada. Embora a produção brasileira tenha crescido, estudos demonstram que nem sempre o aumento na quantidade de agrotóxicos utilizada no plantio se reflete no aumento da produtividade. Em 2004, por exemplo, o aumento do consumo de agrotóxicos na rizicultura irrigada foi de 166%, enquanto a produtividade média aumentou apenas 10,3%”, explica o Ministério da Saúde.
Contaminação na água
Mato Grosso do Sul também faz parte da lista de Estados que, de acordo com o relatório, apresentam o VPM (Volume Máximo Permitido) de substâncias na água maior do que o recomendado. “Foram identificados pelo Controle 337 municípios (21%) com pelo menos algum resultado analítico acima do VMP para os parâmetros de agrotóxicos, distribuídos entre os estados da Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe, São Paulo e Tocantins”, afirma o relatório.
“Tais localidades são prioritárias para o desenvolvimento de ações de promoção da saúde e redução da exposição humana aos agrotóxicos”, complementa.
Dourados
Responsável pelos serviços de saneamento básico ofertados aos mais de 210 mil habitantes de Dourados, a 228 quilômetros de Campo Grande, a Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul) enfrenta acusações pesadas que vão de poluição de córregos com esgoto não tratado até o fornecimento de água contaminada por agrotóxicos através de tubulações com material cancerígeno.
Em processo atualmente suspenso na 5ª Vara Cível da Comarca, o MPE acusa o despejo de esgoto sem o devido tratamento em córregos que desaguam no Rio Dourados, principal fonte de abastecimento para os habitantes do município. E na 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados, promotores estaduais e o MPF (Ministério Público Federal) apontam a contaminação desse mesmo rio por agrotóxicos.
Ambas as denúncias são respaldadas por análises técnicas feitas por laboratórios. Mas os processos se arrastam desde 2012 e desde então não houve qualquer condenação ou decisão judicial que determinasse mudanças nesse quadro alarmante denunciado por promotores e procuradores.
Mas a Empresa de Saneamento nega essas irregularidades, garante manter controle constante da qualidade da água que fornece nos municípios em que possuiu concessão e pontua que “a população é a maior beneficiária, pois pode ter a tranquilidade de estar consumindo uma água de qualidade”.
Agora, a 1ª Vara da Justiça Federal de Dourados determinou que a União prove a qualidade da água. De acordo com o despacho divulgado no dia 27 passado, a União deveria ser intimada “para indicar, dentro do prazo de 10 (dez) dias a contar da intimação, novo laboratório com tecnologia condizente para investigar todas as 27 substâncias contidas na Portaria n.º 2.914/2011 do Ministério da Saúde, sob pena de incidência de multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) em caso de descumprimento”, […] “uma vez que o laboratório outrora indicado informou não dispor de capacidade para tanto”.
Para o relatório Mato Grosso do Sul deve “avançar na execução da proposta estadual”. O Ministério da Saúde afirma que o Estado cumpriu só 38% das ações propostas – que são regulamentadas pela Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos (VSPEA), do Ministério.,
O Estado também deve “ampliar o monitoramento de resíduos de agrotóxicos em água para consumo humano e melhor o processo de detecção e notificação de casos de intoxicação por agrotóxicos”.
As Secretarias de Saúde municipais também foram orientadas: elas devem “realizar análise de situação de saúde relacionada ao abastecimento de água para consumo humano, incluindo a definição de estratégias e indicadores para a priorização das áreas que possuem maior risco; Executar inspeção sanitária regular nos sistemas e soluções alternativas coletivas de abastecimento da localidade; Avaliar, com o Controle, a necessidade de inclusão de novas tecnologias durante as etapas de tratamento da água para consumo humano; Incentivar o Controle quanto à implantação dos Planos de Segurança da Água (PSA); Avaliar o histórico das ações executadas pelo Controle na localidade e desenvolver ações de informação e comunicação de risco à saúde”.
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