Confronto entre policiais e camponeses deixou 17 mortos

A Justiça do Paraguai condenou 11 pessoas pelo violento confronto ocorrido no dia 15 de junho de 2012 que ficou conhecido como “massacre de Curuguaty”, distrito localizado no departamento de Canindeyú, a 86 quilômetros de Paranhos, município sul-mato-grossense distante 463 quilômetros de Campo Grande. Na ocasião, 17 pessoas morreram, entre camponeses e policiais. O episódio selou o destino político do presidente Fernando Lugo Méndez, responsabilizado pelas mortes e cassado uma semana depois.

Na segunda-feira (11), chegou ao fim o julgamento do Tribunal de Sentença presidido por Ramón Trinidad Zelaya. Sem precedentes na história país vizinho, o processo tramitou com coletas de testemunhos até mesmo no período de férias do judiciário paraguaio, em janeiro, conforme o site ABC Color.

O massacre de Curuguaty aconteceu quando a polícia tentava cumprir um mandado de reintegração de posse do terreno pertencente à empresa Campos Morumbi AS e ocupado por camponeses sem-terra do Paraguai. As investigações apontaram que houve uma emboscada contra policiais; seis agentes morreram durante o confronto. Esse caso chocou o país vizinho.

Como informou ontem do ABC Color, jornal paraguaio que fez densa cobertura sobre o fato – desde o massacre até o julgamento -, o Tribunal de Sentença condenou Rubén Villalba a 30 anos de prisão e mais 5 anos de medidas de segurança. Apontado como líder do grupo que resistiu à reintegração de posse, ele foi considerado culpado por associação criminosa, invasão de imóvel particular, homicídio doloso com agravante e tentativa de homicídio doloso.

A imprensa paraguaia afirmou que Villalba foi acusado de ter disparado com uma escopeta um dos três tiros que mataram o chefe do Grupo de Operações Especiais da polícia, subcomissário Erven Lovera.

Outros camponeses condenados ontem foram Luis Olmedo (20 anos de prisão), Arnaldo Quintana (18 anos de prisão) e Néstor Castro Benítez (18 anos de prisão). Segundo o ABC Color, esses três foram considerados culpados por homicídio doloso e tentativa de homicídio, além de invasão de propriedade privada e associação criminosa.

O jornal paraguaio ainda informou as penas de seis anos de prisão impostas a Lucía Agüero, María Fany Olmedo e Dolores López. Elas foram apontadas como cúmplices de homicídio por terem forjado situação de tranquilidade aos policiais montando uma linha de frente com crianças e idosos.

Felipe Benítez Balmori, Adalberto Castro, Alcides Ramírez e Juan Tillería foram condenados a quatro anos de prisão por invasão de imóvel privado.

A imprensa paraguaia aponta esse sangrento conflito fundiário como fator decisivo para a cassação do então presidente Fernando Lugo. Uma semana depois do massacre de Curuguaty, ele foi destituído do cargo por “mau desempenho das funções” num processo de impeachment que durou 24 horas. Esse julgamento chegou a ser contestado por países vizinhos, dentre eles o Brasil, que defendeu a suspensão do Paraguai do Mercosul, o que de fato aconteceu temporariamente.