Apenas um dos entrevistados concorda com a prática criminosa

Quando o assunto é furto de energia elétrica, há quem diga que a prática não passa de falta de caráter e até falta de Deus, porém existem os defensores que alegam necessidade e também os altos valores cobrados por parte das concessionárias. E você, é a favor ou contra? O Jornal Midiamax percorreu o centro de Campo Grande para indagar a população sobre o furto de energia elétrica, conhecido popularmente como ‘gato’ e as respostas dividem opiniões.

Desde o mês de abril, o Jornal Midiamax tem acompanhado diversas denúncias de ‘gato’ em residências e até operação policial para investigar esquemas de desvio de energia em campo Grande. As descobertas mobilizaram fiscalizações e a curiosidade sobre qual o tamanho do ‘rombo’. Afinal, alguém terá de pagar pelo prejuízo causado. Conforme a Polícia Civil, somente no esquema investigado, o prejuizo pode chegar a R$ 500 milhões.

Ailton Decknes, de 77 anos, foi o primeiro a discordar do crime. Para o aposentado, mesmo com certeza de não ser preso pelo crime, não furtaria energia elétrica. “Nós temos que andar direito. Eu nunca fiz e não vou fazer. As pessoas furtam energia por opção”, disse Ailton.

O jardineiro, Marcos Oliveira, de 30 anos, acredita que o exemplo vem de Deus. Indagado sobre o que leva as pessoas a praticarem o furto também afirma que é uma opção. “Eu acho errado. O exemplo vem lá de cima e esse tipo de crime vai do carater de cada um”, respondeu.

O casal Isabella Mayara, de 16 anos e Marcos Vinicius, de 18 anos, apesar de ainda não serem responsáveis pelos pagamentos em casa, também criticam o crime, mas acreditam que a cobrança da energia ‘pesa’ no bolso.

A estudante Lorraine Burgos, de 21 anos, disse a reportagem que muitas vezes o furto de energia está ligado a necessidade e pontua os valores cobrados pelas fornecedoras de energia. 

Questionadas sobre a certeza de impunidade, caso praticassem o crime, mãe e filha, 
Ana Angélica e Veruska de Olivera, ficaram na dúvida, pois apesar de acharem errado, afirmaram que o verdadeiro roubo vem na conta de luz.

Erivaldo Pereira Bento, de 37 anos, foi o único a concordar com a prática criminosa. “Os políticos roubam mais que nós. Minha mãe com, um salário mínino sustenta seis filhos e paga R$ 190 de luz, isso é um roubo. O preço da energia leva as pessoas a fazerem o gato e se eu tivesse certeza de não ser preso também faria”, disse.

CASOS

Uma das primeiras denúncias acompanhadas pelo jornal, ocorreu no dia 15 de abril, em uma loja de artigos sertanejos localizada na Rua Marechal Rondon, no Centro de Campo Grande, que chegou a ter o fornecimento de energia interrompido, depois que a Energisa – concessionária responsável pela distribuição de energia na Capital – constatar o furto.

No dia 29 de abril, uma moradora do Condomínio Reinaldo Busanelli II, que está localizado na rua Cláudio Coutinho, 14000, bairro Jardim Centro-Oeste, denunciou um gato na energia. Segundo ela, o condomínio atrasou a conta e para não ficar sem o serviço optou pela ilegalidade. A Energisa foi até o local verificar a situação e constatou mais de 30 ligações irregulares do condomínio, todas foram retiradas. 

Já no dia 12 de maio, o leiturista Daniel Ramirez, de 34 anos, e o comerciante Dejailton Galdino dos Santos, de 34 anos, foram presos em flagrante por corrupção ativa e passiva. O funcionário terceirizado da Energisa, como pontuado pela empresa, e o dono de um supermercado da Capital, foram detidos por irregularidades nas contas de luz do estabelecimento. 

No dia 19 de maio, mais duas pessoas foram detidas por envolvimento com o esquema de desvio de energia descoberto pela Energisa no dia 12 de maio. Em continuação as investigações, equipes da 5ª Delegacia de Polícia Civil localizaram outras 40 pessoas que pagavam a um leiturista terceirizado da empresa para ter o consumo de energia reduzido e agora a fraude pode chegar a R$ 500 milhões. Entre os presos está um suspeito de ‘apagar’ os rastros da fraude.

A todo o momento, a polícia reforçou que as descobertas até agora são apenas a ponta do iceberg, e que passam do Estado para o Brasil. “O esquema é forte, com muitas pessoas envolvidas e os números são alarmantes”, revelou o delegado Jairo Carlos Mendes. Os suspeitos foram ouvidos e liberados, mas nesta quinta-feira (19) voltaram a delegacia para participar de novas diligências.

O Jornal Midiamax indagou a assessoria de imprensa da Energisa sobre o total de prejuízos na Capital com relação ao furto de energia, que informou que o levantamento do prejuízo gerado pela fraude investigada pela Polícia Civil está em andamento. Pontuou ainda que as perdas comerciais, que envolvem furtos e fraudes como essa, além de serem crimes, geram impactos nas tarifas de clientes regulares.
Hoje, 7% da composição da tarifa de energia elétrica é referente à perda.
 
A assessoria destacou que os furtos, geralmente praticados por meio de ligações clandestinas, oferecem sérios riscos à população, sobrecarregam e comprometem a confiabilidade da rede de distribuição de energia.
 
Ainda conforme a concessionária, o combate ao furto de energia retorna como benefício aos consumidores como redutor na revisão tarifária. Isso acontece em todas as concessionárias do País e é conduzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL. 
Para denúncias, o cliente deve sempre entrar em contato com a Energisa pelo 0800 722 7272.

(Sob supervisão Mayara Sá)