Dionei Guedin foi preso na segunda-feira pela Polícia Federal

O advogado do último fazendeiro preso pela força-tarefa (FT) Ava Guarani do MPF (Ministério Público Federal) na segunda-feira (25), Maurício Rasslan, afirmou que Dionei Guedin estava viajando quando as prisões preventivas dos outros quatro fazendeiros foram cumpridas pela Polícia Federal.

“Não foi encontrado, ele estava viajando de férias com a família, em Corumbá, tão logo ligaram ele me procurou, já procurei o delegado falando que ele ia ser apresentar espontaneamente”, afirmou Maurício.

Dionei Guedin é apontado, junto de Jesus Camacho, Virgílio Mettifogo, Eduardo Yoshio Tomonaga e Nelson Buainain no envolvimento do assassinato do agente de saúde indígena Clodioude Aquileu Rodrigues de Souza, 26, no dia 14 de junho na fazenda Yvu, na região de Caarapó. Ele está detido na Penitenciária de Segurança Máxima de , onde também estão Jesus Camacho, Vigílio e Eduardo. Nelson está preso em Campo Grande.

Habeas Corpus

O juiz federal Moisés Anderson da Costa Rodrigues da Silva, da 1ª Vara Federal de Ponta Porã, negou na quarta-feira (23) o pedido de revogação da prisão preventiva dos fazendeiros investigados pelo envolvimento no assassinato, conforme informou o advogado Felipe Cazuo Azuma.

Felipe, que defende Jesus Camacho, Virgílio Mettifogo, Eduardo Yoshio Tomonaga e Nelson Buainain, ingressou recurso junto ao TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª região) pedindo o Habeas Corpus dos quatro ruralistas.

Maurício, que defende Dionei Guedin e o funcionário que trabalhava na fazenda de Guedin, Paulo Sérgio Amorim, explicou que ainda não protocolou o pedido. O advogado declarou que no momento reúne informações.

“Estamos agindo, levantando mais dados ainda. Estamos com bastante cautela, com cuidado, robustecendo o pedido, tem muita coisa, estamos detalhando bem, trazendo mais testemunhas dos fatos, fazendo as coisas mais pensadas. Ainda não tem previsão pra protocolar”, declarou.

Investigação

Os cinco fazendeiros foram presos pela Força-Tarefa (FT) Avá Guarani, do MPF, que foi instituída pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para apurar crimes contra comunidades indígenas em Mato Grosso do Sul.

Em 10 meses de investigações, doze pessoas já foram denunciadas por formação de milícia privada contra os índios em outro caso e, agora, cinco foram presas preventivamente. No dia 5 de julho, a Justiça Federal de Dourados deferiu requerimento do MPF e expediu os mandados de prisão, que, segundo o MPF, aguardaram a execução pela Polícia Federal por mais de 40 dias.

A PF respondeu, por meio de nota, para justificar a demora. “Primeiramente, não ocorreu qualquer atraso injustificado para o cumprimento das decisões judiciais, sendo que causa espécie esta manifestação, uma vez que o MPF participou de todo o processo de investigação, acompanhando todas as necessárias diligências realizadas pela Polícia Federal para o deslinde da questão”, declarou.

Para os integrantes da força-tarefa, no entanto, a demora é reflexo da “falta de priorização da questão indígena pelo Executivo em todo o país”. “Apesar da morte de um índio e da lesão de outros nove, foi necessário aguardar 44 dias para que os responsáveis pela violência fossem presos. Se não houvesse essa demora injustificada, ao menos seria possível evitar o segundo ataque à comunidade, que feriu três indígenas”.

Ocupação

No dia 12 de junho, índios kaiowá e guarani da reserva Tey Kuê ocuparam a Fazenda Yvu, que incide sobre a Terra Indígena (TI) Dourados Amambai Peguá I, chamada pelos indígenas de ‘tekoha guasu’, grande tekoha, em guarani. A TI prevê outras 86 fazendas incidentes no território tradicional, que possui 55 mil hectares. O relatório de delimitação e identificação foi publicado no dia 13 de maio pela Funai (Fundação nacional do índio).

No dia 13 de junho, agentes da Polícia Federal foram notificados da ocupação por fazendeiros que os levaram até o local. De acordo com o MPF, os policiais não encontraram reféns e foram informados pelos indígenas de que o proprietário poderia, em 24h, retirar o gado e seus pertences do local.

Além dos fazendeiros presos, cerca de 300 proprietários rurais, com armas de fogo e rojões, organizaram-se para expulsar os kaiowá à força no dia 14 de junho. Testemunhas afirmam que foram mais de 40 caminhonetes que cercaram os índios, com auxílio de uma pá carregadeira, e começaram a disparar em direção à comunidade. Os kaiowá e guarani também afirmam que motocicletas foram queimadas e enterradas pelos fazendeiros.

No ataque, oito ficaram feridos e um faleceu. Dos indígenas lesionados, um deles tinha apenas 12 anos e levou dois tiros. Um dos feridos continua internado.