Sem insumo que dá ‘gás’ ao produto, fábricas de refrigerante freiam produção

Desde o início de março, fabricantes regionais de refrigerante enfrentam a falta de fornecimento de CO2 (dióxido de carbono) para a produção da bebida. Várias pequenas indústrias interromperam ou reduziram o ritmo de produção por conta da escassez do insumo que é insubstituível e responsável pelas borbulhas no refrigerante. Segundo o presidente da Associação dos […]

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Segundo o presidente da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Foto: Agência Brasil)

Desde o início de março, fabricantes regionais de refrigerante enfrentam a falta de fornecimento de CO2 (dióxido de carbono) para a produção da bebida. Várias pequenas indústrias interromperam ou reduziram o ritmo de produção por conta da escassez do insumo que é insubstituível e responsável pelas borbulhas no refrigerante.

Segundo o presidente da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras), Fernando Rodrigues de Bairros, o problema começou quando a White Martins interrompeu a entrega de CO2 para as pequenas empresas.

“Simplesmente eles mandaram um comunicado dizendo que, por motivos de força maior, liberavam a compra do contrato de exclusividade. Como é possível achar outro fornecedor de CO2 no mercado da noite para o dia?”, questiona. O executivo diz que a multinacional brasileira é a maior produtora de CO2 para o setor Sem o CO2, não é possível fazer refrigerante e a bebida vira um xarope.

“É a primeira vez que temos crise de CO2”, conta a Dayane Titon, diretora da Bebidas Grassi, de Tubarão (SC). Há 25 anos no mercado, a empresa produz refrigerante com a marca Capricho, vendido no Estado, e o energético Baly, comercializado nacionalmente.

Desde que teve o fornecimento do insumo interrompido, a fábrica está operando com metade da capacidade de produção. A empresa viu suas vendas caírem 50%. Sem matéria prima, a companhia deu férias para 40% dos funcionários nos últimos dois meses.

A diretora conta que foi ao mercado para comprar CO2 de fornecedores regionais e encontrou vários obstáculos. Além de os pequenos não terem capacidade para atender à demanda pelo insumo no volume necessário, o preço do CO2 explodiu. Pelo quilo de CO2, que ela pagava R$ 1,50, chegou a desembolsar até R$ 30. A executiva diz que não consegue repassar a alta de custo do insumo para o preço dos produtos. “Estou tendo prejuízo.”

Investigação

Nas contas da Afrebras, entre 15 a 20 associados que têm contrato de exclusividade de fornecimento de CO2 com a White Martins enfrentam problemas. Quando começaram as reclamações, Bairros conta que a entidade fez uma investigação e constatou que a White Martins manteve o fornecimento do insumo para as grandes fabricantes de refrigerantes em detrimento dos pequenos

A investigação faz parte do pedido de abertura de inquérito contra White Martins para apurar crimes contra a ordem econômica, protocolado pelo deputado Enio Verri (PT-PR) em meados deste mês, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As pequenas fabricantes de refrigerantes acusam a multinacional de selecionar clientes para a entrega da matéria-prima.

“No Brasil, o mercado de bebidas é concentrado em todos os sentidos: do início da cadeia produtiva até o final”, diz Bairros. Segundo ele, são três fornecedores de CO2 (White Martins, Air Liquide e Messer Gases), três fabricantes de embalagens de vidro, dois fabricantes de resinas e 99% da produção de ácido cítrico estão nas mãos de duas indústrias. As 100 indústrias associadas à Afrebras respondem 10% da produção ou um bilhão de litros de refrigerantes.

Fornecedores

A White Martins informa, por meio de nota, que seus clientes estão sendo abastecidos com CO2 em todo o Brasil, com restrições em algumas localidades específicas. “Diante do cenário da falta da matéria-prima para a produção de CO2, gerado pela parada de manutenção da empresa que fornece CO2 bruto à planta de produção da White Martins, localizada em Cubatão (SP), a empresa continua trabalhando arduamente para manter o suprimento a todos os seus clientes, independentemente do porte”, diz o comunicado.

Segundo a empresa, a situação voltará à normalidade assim que receber a matéria-prima dessa fonte. A expectativa é que isso aconteça nos próximos dias. Também acrescenta que seus clientes foram avisados antecipadamente de que poderia haver restrições temporárias no suprimento de CO2 em função da falta da matéria-prima.

O comunicado ressalta ainda que “está empreendendo todos os esforços para manter o fornecimento aos seus clientes, independentemente do seu porte, trazendo o produto da Argentina, Bolívia, Colômbia e Estados Unidos, além da transferência do CO2 de outras plantas da empresa na Bahia e em Minas Gerais”.

Procurada, a Air Liquide informa, por meio de sua assessoria, que não está afetada pela falta de insumo. Acrescenta que “mantém o fornecimento a seus clientes, pois possui unidades produtoras em diferentes localidades, o que lhe permite garantir suas entregas com segurança e confiabilidade”.

A Messer Gases, outra fornecedora de CO2, informa, por meio da sua assessoria, que não comenta o tema.