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Brasil

STJD retira punição e devolve 3 pontos do Brusque por ato racista contra Celsinho

Na ocasião, o jogador relatou que foi chamado de macaco por alguém que estava no camarote do estádio do time catarinense, assistindo à partida
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Julgamento do recurso foi realizado nesta quinta-feira (18)
Julgamento do recurso foi realizado nesta quinta-feira (18)

Às vésperas do Dia da Consciência Negra, no próximo sábado, 20, o Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva retirou a pena de perda de pontos do Brusque por ato racista praticado pelo conselheiro Júlio Antônio Petermann contra o meia Celsinho, do Londrina, em uma partida da Série B. O clube catarinense havia sido punido em setembro com perda de três pontos, mais R$ 60 mil de multa, por injúria racial praticada pelo conselheiro.

A sessão teve a presença do meia Celsinho, vestindo uma camisa do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, organização que monitora casos de racismo e ações afirmativas no futebol brasileiro. O jogador precisou ouvir várias vezes no julgamento a expressão racista praticada pelo conselheiro do Brusque. Ele também revelou os problemas pessoais que enfrentou após o episódio.

“(A ofensa) partiu de um presidente do conselho de um clube que deveria dar um exemplo. Isso é inadmissível. Ninguém me procurou depois para saber como eu estava, o que tinha acontecido ou um mínimo pedido de desculpas. E soltaram uma nota como se eu quisesse procurar essa situação. Um dos meus filhos já me perguntou se deveria evitar deixar o cabelo como o meu para não acontecer algo assim com ele. Foi um dano profissional e peso grande para mim”, lamenta.

O Brusque vive situação delicada na Série B. A equipe está em 15º, agora com 44 pontos, três a mais que o próprio Londrina, primeiro da zona do rebaixamento. O time catarinense recebe o Operário, pela 37ª rodada da Série B, nesta sexta-feira, às 19h. Além de advogados do Londrina e do Brusque, estavam presentes no julgamento representantes das federações Catarinense, Paranaense e Baiana, além do Vitória e da Ponte Preta, times que lutam contra a queda para a Série C, assim como o clube denunciado.

O advogado do Brusque no caso, Osvaldo Sestário, tentou relativizar o episódio de injúria racial e pediu para que a proximidade do Dia da Consciência Negra, no próximo sábado, não afetasse o julgamento. “A decisão não pode ser pautada pela primeira nota oficial do Brusque (após a denúncia do caso) nem por estar nas vésperas do Dia da Consciência Negra. Cachopa (expressão usada pelo conselheiro) eu não sabia o que era, nem o atleta disse que sabia. Cachopa de abelha pode ser uma ofensa, mas um jogador branco que tem um cabelo… vamos citar o David Luiz, ele pode ser chamado assim. Seria uma injúria racial? Atletas do Brusque têm cabelo similar ao do Celsinho”.

O advogado do meia Celsinho e do Londrina, Eduardo Vargas, rebateu os argumentos da defesa e contextualizou o racismo estrutural na sociedade brasileira. “Esse comentário do advogado do Brusque de que ele não é racista, mas tem até um amigo neguinho… Até quando aceitaremos isso? O advogado (branco) disse que sabe o que o Celsinho está sentindo. Sabe?”, questionou.

O Brusque foi enquadrado no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) por “praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito”. O texto diz que “caso a infração prevista neste artigo seja praticada simultaneamente por considerável número de pessoas vinculadas a uma mesma entidade de prática desportiva, esta também será punida com a perda do número de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição, independentemente do resultado da partida, prova ou equivalente”.

O CASO CELSINHO

No final do primeiro tempo do jogo entre Brusque e Londrina pela Série B, no dia 26 de agosto, o meia Celsinho, da equipe paranaense, disse ao quarto árbitro ter sido alvo de falas racistas de uma pessoa do staff quadricolor em um dos camarotes do Estádio Augusto Bauer.

“Por volta dos 45 minutos do 1º tempo, o atleta do Londrina, sr. Celso Luis Honorato Junior, informou ao quarto árbitro que foi ofendido com as seguintes palavras: “vai cortar esse cabelo seu cachopa de abelha”, por um homem na arquibancada, que foi identificado pelo coordenador da CBF, sr. Ricardo Luiz, como Julio Antônio Petermann, staff da equipe do Brusque”, diz a súmula do árbitro sergipano Fábio Augusto Santos Sá Júnior.

Após a denúncia, o Brusque publicou uma nota no dia seguinte se eximindo de culpa no caso e acusando Celsinho de “oportunismo. “O atleta, por sua vez, é conhecido por se envolver neste tipo de episódio. Esta é pelo menos a 3a vez, somente este ano, que alega ter sido alvo de racismo, caracterizando verdadeira “perseguição” ao mesmo. Importante esclarecer que, ao árbitro, o atleta não relatou ter sido chamado de “macaco”, mas sim que teriam dito “vai cortar esse cabelo de cachopa de abelha”, o que constou da súmula e revela a total contradição nos seus relatos”, diz um trecho.

Em resposta ao Brusque, o Londrina divulgou um vídeo nas em que é possível ouvir um grito de “macaco”. A mensagem do clube catarinense teve grande repercussão negativa, e a diretoria emitiu uma nova nota, dessa vez, pedindo desculpas pelo “posicionamento equivocado”. Na sequência, também anunciou o afastamento por tempo indeterminado do conselheiro responsável pela ofensa racista e a instalação de câmeras para captar o áudio das arquibancadas.

CELSINHO FOI VÍTIMA DE OUTROS DOIS CASOS DE INJÚRIA RACIAL

Além desse episódio, Celsinho foi vítima de xingamento racista em dois outros casos em 2021. Em julho, em uma partida contra o Goiás, um narrador e um comentarista de rádio usaram termos como “cabelo pesado”, “bandeira de feijão” e “um negócio imundo” para comentar o cabelo do meia. Os dois pediram desculpas nas redes sociais. Já na partida contra o Remo, em julho, outro narrador se referiu ao cabelo de Celsinho como “meio ninho de cupim”.

Em entrevista ao Estadão, em setembro, Celsinho disse que a situação não vai mudar se não houver luta. “Representatividade para mim é atitude, vai além do gesto. De nada adianta vestir camisa ou abrir faixa se não houver posicionamento. Tem de agir na causa, punir, porque isso é crime. Tem de fazer cumprir a lei Temos de saber os nossos direitos e eles precisam ser respeitados”.

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