‘Diante dos nossos olhos, muitos ficaram soterrados’, diz sobrevivente

Um mês depois do rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), Sebastião Gomes, de 53 anos, um dos dois sobreviventes que estavam em uma caminhonete da empresa, contou que faz tratamento psicológico para tentar superar o que passou ao lado do colega Elias Nunes. Segundo ele, as lembranças permanecem […]

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Um mês depois do rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), Sebastião Gomes, de 53 anos, um dos dois sobreviventes que estavam em uma caminhonete da empresa, contou que faz tratamento psicológico para tentar superar o que passou ao lado do colega Elias Nunes. Segundo ele, as lembranças permanecem na memória. Em entrevista à Agência Brasil,

“Nós estávamos na caminhonete Hilux, eu e o Elias e depois que conseguimos nos salvar, saímos da caminhonete e fomos procurar outras pessoas que provavelmente estariam ali na área do carregamento. Quando entramos na área, antes da barragem se romper, havia vários maquinistas ali trabalhando no carregamento dos minérios com as retroescavadeiras”, relatou Gomes.

De acordo com Gomes, pouco depois tudo mudou na sua frente. “Muitas máquinas desapareceram diante dos nossos olhos, muitos ficaram soterrados ali. Achamos um rapaz o Leandro que estava em um trator, conseguimos tirar ele dali estava soterrado com o trator. Conseguimos com as mãos mesmo cavar a terra e até tirar o corpo dele ali de dentro, aí o helicóptero chegou e resgatou a gente.”

Pesadelos

Após a tragédia, Gomes disse que passou a ter “pesadelos horríveis” e ouvir vozes dos outros trabalhadores que tentaram se salvar. Técnico em manuteção de máquinas, ele disse que sua rotina mudou e teve de incluir o uso de remédios para dormir e sessões com psicólogo e psiquiatra.

“Os primeiros quatro dias para mim foram muito difíceis. Ficava só tendo pesadelos lembrando da tragédia que tinha acontecido. Desde então, estou tomando medicamento para dormir. Mudou a minha rotina. Antes eu não tomava remédio para nada, nem para pressão, nem para depressão, para nada.”

Apesar de ter procurado pessoalmente um psicólogo, ele informou que quatro dias depois, a Vale o procurou para oferecer o tratamento.

“Quando o pessoal me ligou para oferecer ajuda psicológica, já tinha procurado eu mesmo, porque estava precisando. Não é que eles deixaram de me procurar, porque na certeza tinha pessoas precisam mais que eu. A tragédia atingiu muita gente. O pessoal me procurou sim”, disse. “Vou apresentar os recibos para a empresa me reembolsar os medicamentos e as consultas.”

Formatura

Empregado da Vale há 9 anos, Gomes trabalhou nos quatro primeiros, na manutenção de equipamentos pesados e os restantes no saneamento ambiental da área de produção minerária do Complexo de Paraopeba, onde estava localizada a barragem 1, na Mina Córrego do Feijão. No ano passado, ele se formou em engenheiro ambiental e cola grau no próximo dia 16.

No momento em que Gomes realiza o sonho de receber o diploma, lembra com tristeza dos amigos que morreram e daqueles que estão desaparecidos.

“A gente vai levando do jeito que pode. Muitas pessoas desaparecidas ainda. Apesar de ter um mês já e a equipe dos bombeiros se desempenhando bastante, a gente fica triste. A gente está fazendo de tudo para botar a cabeça em ordem. Uma tragédia que abalou o país inteiro não só a nossa cidade. É muito sofrimento. Tem muitas vítimas desaparecidas ainda”, contou. “Muitos amigos meus estão lá ainda”.

Ao mesmo tempo, Gomes disse que segue empregado da Vale e não sabe quando retornará às atividades nem em vai trabalhar.

“Estou esperando até mesmo porque o Ministério Público disse que não podia transferir ninguém por agora e nem mandar ninguém embora. Estou esperando pra decidir para onde eu vou, quando eu vou. Amanhã [26] estou indo na unidade de saúde da Vale em Nova Lima para apresentar o relatório médico. Vou entregar pessoalmente.”

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