‘Facebook perdeu importância para a ‘Folha”, diz editor
Jornal decidiu não postar mais conteúdo na rede social
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Jornal decidiu não postar mais conteúdo na rede social
Jornal decidiu não postar mais conteúdo na rede social. Em entrevista, editor-executivo Sérgio Dávila diz não temer grande queda na audiência e apostar que outros veículos seguirão passos da publicação.O jornal Folha de S. Paulo decidiu nesta quinta-feira (08) não postar mais seu conteúdo no Facebook em resposta às mudanças de algoritmo implementadas pela rede social, que passou a privilegiar conteúdos de interação pessoal em detrimento dos distribuídos por empresas, como por exemplo, das que produzem jornalismo profissional.
Em entrevista à DW Brasil, o editor-executivo da Folha, Sérgio Dávila, afirmou que não teme uma grande queda de audiência e que o posicionamento da rede social incentiva a criação de “bolhas” ou “condomínios de convicções”, nas quais leitores não têm contato com pessoas que têm informações e posições diferentes das deles.
Ele diz acreditar que outros grandes veículos seguirão os passos do jornal e deixarão de postar no Facebook. “Obviamente nós somos só um jornal, embora sejamos o maior jornal do terceiro maior mercado do Facebook”, frisou Dávila. “Se outros veículos fizerem a mesma coisa no Brasil e em outros países, acredito que o Facebook rediscutirá sua decisão.”
DW Brasil – Por que a Folha decidiu não publicar mais seu conteúdo no Facebook?
Sérgio Dávila – É uma decisão que nós temos discutido há alguns meses, e a gota d’água foi a mudança no algoritmo anunciada pelo Facebook em janeiro. Essa alteração, embora tenha sido vendida de uma forma muito “eufemística”, ela acaba, de fato, banindo o jornalismo profissional das páginas do Facebook. Assim, analisamos que, com essas condições, não vale mais a pena para a Folha continuar postando seu conteúdo na página oficial do jornal na rede social.
DW Brasil – A Folha não teme perder audiência com a decisão?
Sérgio Dávila – Felizmente, a audiência da Folha é muito saudável: no gráfico com as origens da audiência do jornal, as redes sociais são uma fatia importante, mas não tão importante. E, dentro das redes sociais, o Facebook já não é uma fatia tão importante – aliás, ela é declinante desde o ano passado. Nós tememos por uma queda de audiência, mas não tão grande que vá impactar o nosso negócio. E, ao mesmo tempo que anunciamos a saída do Facebook, tomamos uma série de medidas para buscar essa audiência que possa desaparecer via Facebook em outros lugares e outros canais.
DW Brasil – Então a Folha continuará publicando seu conteúdo em outras plataformas, como Twitter, Instagram e LinkedIn?
Sérgio Dávila – Sim. Enquanto essas redes sociais não mudarem seus algoritmos em linha com o que o Facebook fez, nós achamos que vale a pena continuar no Twitter, Instagram, LinkedIn e até em aplicativos de compartilhamento de conteúdos como WhatsApp. E, principalmente, usando um tipo de comunicação direta com o leitor: a newsletter. Diz-se que o e-mail e as newsletters iriam morrer – pelo contrário, nós estamos vendo a revalorização desses dois canais e investindo muito nas newsletters. Hoje temos quase uma dezena e devemos aumentar esses canais de newsletters para os leitores.
DW Brasil – Ao anunciar sua decisão, a Folha falou sobre os “aspectos problemáticos das redes sociais”. Quais seriam?
Sérgio Dávila – As redes sociais tendem muito a criar “bolhas” e “condomínios de convicções”. As pessoas tendem a se relacionar nas redes com outras que são e pensam como elas. E nós encaramos o jornalismo profissional – em oposição a esse “condomínio fechado” das redes sociais – como uma praça pública. É uma missão cívica do jornalismo profissional ser essa praça pública em que leitores encontram pessoas, pensamentos e ideias que nem sabiam que existiam e que poderiam encontrar. Essa constante exposição ao contraditório faz toda a diferença na formação do cidadão, então, achamos que o jornalismo tem esse papel – e ele não estava sendo bem desempenhado numa rede social como o Facebook.
DW Brasil – Na opinião da Folha, essa decisão do Facebook é um “tiro no pé”, já que usuários em busca de informação qualificada precisarão sair da rede social para acessar jornais e blogs confiáveis?
Sérgio Dávila – O Facebook é um gigante com 2 bilhões de usuários. Mas acredito que sim [que é um tiro no pé]: eles fizeram um cálculo de que, ao mudar o algoritmo, eles perderiam também audiência. Estudos recentes mostram que cerca de um terço do conteúdo compartilhado pelo usuário do Facebook é conteúdo proveniente do jornalismo profissional. Quando eles mudam esse algoritmo em detrimento do jornalismo profissional, é possível que parte desse um terço impacte a audiência do Facebook. De fato, eles já estão começando a ter uma queda na audiência – desde a criação da rede social, o número de horas gastas pelos usuários na rede diminuiu -, mas acredito que eles esperam que isso aconteça com essa decisão.
DW Brasil – A Folha encara o Facebook ou outras redes sociais como concorrentes na luta pela atenção dos usuários?
Sérgio Dávila – A Folha encara – ou encarava – o Facebook usando a expressão em inglês “frenemy”, que dizer, como “amigo-inimigo”. “Amigo” no sentido de que o compartilhado nesta rede gera audiência para o jornal, mas um “inimigo” ao disputar a atenção do leitor. E ainda tem a questão da verba publicitária: o Facebook pode dizer o quanto quiser que não é uma empresa de mídia, mas, de fato, eles são uma empresa de mídia que vive de anúncio. É a definição clássica de uma empresa de mídia: veicula conteúdo e vive de anúncio. Então, quando eles entram no mercado, como exemplo no americano, em que o duopólio Google-Facebook tem 90% do mercado publicitário digital, a rede social é uma força destrutiva neste sentido.
DW Brasil – A Folha certamente investiu para obter quase 6 milhões de seguidores no Facebook. O jornal se arrepende disso?
Sérgio Dávila – Não. Parecia uma estratégia válida enquanto o algoritmo nos favorecia: é onde boa parte dos leitores está, então, gostaríamos de estar lá também. Nós decidimos parar de atualizar essa página por causa da mudança no algoritmo, que é de janeiro. Se o Facebook resolver reavaliar a decisão, a Folha fará o mesmo e voltará, certamente, a postar na rede social. Não foi um esforço em vão, mas, nos últimos meses, já não vale mais a pena [postar no Facebook].
DW Brasil – A Folha acredita que outros grandes veículos seguirão os passos do jornal e deixarão de postar no Facebook?
Sérgio Dávila – Sim. Pelo movimento que temos visto nas últimas horas e pelas reações à nossa decisão, acreditamos que sim, que outros veículos brasileiros deverão seguir esse caminho. E nós ficamos muito felizes se isso acontecer, porque quanto mais formos nessa ação, maior será o impacto dela. Então, se outros veículos resolverem fazer o mesmo, acredito que é bom para a causa.
DW Brasil – Essa pressão das mídias poderá fazer com que o Facebook reveja a redução do alcance das postagens de páginas de veículos de comunicação na rede social?
Sérgio Dávila – Essa é a intenção. Estamos mudando nossa posição na esperança de que o Facebook reavalie a deles. Obviamente nós somos só um jornal, embora sejamos o maior jornal do terceiro maior mercado do Facebook. Então, essa força também não é desprezível, mas somos um jornal num universo de 2 bilhões de usuários. Agora, se outros veículos fizerem a mesma coisa no Brasil e em outros países, eu acredito que eles, pelo menos, rediscutirão essa decisão.
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