Apesar de obras, São Paulo ainda precisa de chuva para evitar nova crise hídrica

Secretario de saneamento falou sobre assunto

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Secretario de saneamento falou sobre assunto

Em março, enquanto especialistas e chefes de Estado estarão debatendo a gestão sustentável dos recursos hídricos no planeta, no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, a capital paulista completa exatos dois anos do anúncio do fim da crise hídrica no estado. À época, em 2016, a informação era de que a Grande São Paulo não enfrentava mais problemas de falta de água e que os reservatórios que abasteciam a cidade estavam em níveis seguros. Especialistas concordam que a situação atual é melhor, mas alertam que os riscos do desabastecimento não estão totalmente afastados. Hoje, em pleno verão, o reservatório da Cantareira, o principal da metrópole, apresenta os mesmos níveis da fase anterior ao início da crise, quatro anos atrás.

Em entrevista à TV Brasil, o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo e presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, afirmou que a situação atual é mais tranquila e que obras e a conscientização da população ajudaram nessa melhora. “Estamos numa situação relativamente tranquila do ponto de vista dos recursos hídricos. Passamos em 2014 e 2015 uma situação muito complexa, mas as obras que executamos e as medidas que foram tomadas no controle do uso das águas pelas pessoas tiveram uma colaboração importante”, ressaltou. Embora considere a situação normal, o secretário espera pelas chuvas: “Estamos aguardando as chuvas do verão para que a gente possa encher os reservatórios e ficar mais sossegados ainda no início do ano que vem”.

O engenheiro especializado em gestão de recursos hídricos e professor da Universidade Mackenzie, Paulo Ferreira, concorda que a situação está mais tranquila, mas, segundo ele, não há água de sobra no estado. “Hoje estamos no limite, o que produz gasta, e nós não temos reserva. Dizer que estamos fora da crise hídrica é um pouco temerário. Se ficarmos com um período hidrológico de um ano irregular, acho que voltamos para a crise. A Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] tem gestão eficiente para trabalhar, tem recursos, capacidade técnica para enfrentar, então vai ser minimizado esse problema, mas não vai deixar de existir, estamos no fio da navalha em termos de consumo e produção”. Ferreira também já atuou como diretor da Sabesp e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).

Obras hídricas

A interligação Jaguari-Atibainha é uma das principais obras em execução para ampliar os níveis de segurança hídrica da região metropolitana de São Paulo, e liga as represas Jaguari, na Bacia do Paraíba do Sul, e Atibainha, uma das que compõem o Sistema Cantareira. Segundo a Sabesp, quando estiver concluída, a interligação permitirá transferências de água a uma vazão média de 5.130 litros por segundo (l/s) e máxima de 8,5 mil l/s da represa Jaguari para a Atibainha, e de 12,2 mil l/s no sentido contrário, garantindo assim o abastecimento de toda a população atendida pelos dois sistemas. “Hoje, o Sistema Cantareira abastece cerca de 9,5 milhões de pessoas e o Paraíba do Sul, 3 milhões. Ao conectarem-se ao sistema integrado que abastece a Grande São Paulo, mais de 20 milhões de pessoas serão beneficiadas. As obras foram 96,5% concluídas”, disse em nota. A companhia não informou a data de inauguração.

Os índices dos sistemas de abastecimento de água da Grande São Paulo são divulgados diariamente pela Sabesp. De acordo com última atualização, o índice global de armazenamento de água marcava 58,9%. Já no Sistema Cantareira o índice era de 51,9% armazenado. O Cantareira é o maior e o mais importante reservatório do Estado de São Paulo e abastece cerca de 9,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo.

De acordo com a Sabesp, a obra é fundamental para o abastecimento da capital. “A interligação Jaguari-Atibainha é uma obra prioritária da Sabesp para garantir o abastecimento à população, ao lado do novo Sistema Produtor São Lourenço e da captação no rio Itapanhaú.” O investimento de R$ 555 milhões é financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na opinião do professor Paulo Ferreira, a interligação Jaguari-Atibainha vai apenas amenizar o Sistema Cantareira: “É uma obra que melhora a eficiência, a flexibilidade do Sistema Cantareira, não vai ajudar em nada no Paraíba, é uma válvula de escape do Cantareira se tiver esse problema [falta de água]”. O engenheiro explicou que o Jaguari é uma vertente do Rio Paraíba. “Essa água pertenceria à bacia do Paraíba, do outro lado você tem a bacia do Cantareira. No desespero da crise hídrica, o Paraíba tinha mais água”, disse.

Composto por seis represas, que juntas têm uma capacidade de armazenamento de quase 1 trilhão de litros de água, o Cantareira é, segundo a Sabesp, o maior sistema produtor da região metropolitana de São Paulo. As represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha estão localizadas na Bacia Hidrográfica dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), enquanto que as represas Paiva Castro e Águas Claras localizam-se na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê.

As represas são interligadas por cerca de 28 quilômetros de túneis e canais e contam com uma estação elevatória com capacidade para impulsionar 33 mil litros por segundo de água em um desnível geográfico de cerca de 120 metros. O tratamento é feito na estação do Guajaú, a maior instalação de tratamento da Grande São Paulo.

Já o Sistema Produtor São Lourenço é uma Parceria Público-Privada (PPP) entre a Sabesp e um consórcio de empresas para instalar um novo sistema produtor de água para a Região Metropolitana de São Paulo. Ele vai bombear até 6,4 mil litros de água por segundo da represa Cachoeira do França, em Ibiúna (SP), até a Estação de Tratamento de Água (ETA) em Vargem Grande Paulista.

“Essa água abastecerá cerca de 2 milhões de pessoas em Barueri, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Santana de Parnaíba e Vargem Grande Paulista. A obra, um investimento de R$ 2,21 bilhões, gerou cerca de 4,5 mil empregos diretos e indiretos durante sua execução. Os testes de pré-operação do Sistema Produtor São Lourenço já se iniciaram”, informa a Sabesp.

Outra obra para ampliar a oferta de água para a capital e a Grande São Paulo foi autorizada pelo governo estadual: as obras de reversão das águas do Rio Itapanhaú para o Sistema Produtor Alto Tietê permitirão bombear em média 2 mil litros de água por segundo na média anual, respeitando a outorga definida e a disponibilidade hídrica da bacia. Essa vazão equivale ao consumo de 600 mil pessoas.

Com investimento de R$ 91,7 milhões, será feita uma estrutura de bombeamento no ribeirão Sertãozinho, um formador do Rio Itapanhaú. A água captada do ribeirão será transferida por tubulação até o reservatório Biritiba-Mirim, que faz parte do Sistema Alto Tietê. “Dessa forma, a Sabesp terá mais água à disposição para tratar e distribuir às casas, comércios e indústrias”, informou em nota o governo estadual. A obra deve gerar 1.070 empregos diretos e indiretos.

O bombeamento das águas do Itapanhaú beneficiará diretamente cerca de 4,5 milhões de moradores que são abastecidos pelo Sistema Alto Tietê e, indiretamente, cerca de 21 milhões de pessoas que moram e trabalham na capital e Grande São Paulo, já que a Sabesp possui um sistema interligado e que pode realizar manobras operacionais no aproveitamento dessa água nova.

O modelo de captação escolhido pela Sabesp para esta obra é semelhante ao utilizado em Nova York (The Catskill Aqueduct). Há pelo menos 150 anos, a água que abastece os nova-iorquinos vem das montanhas que ficam a cerca de 160 quilômetros da cidade. A água tem qualidade superior, já que os rios praticamente não sofrem impacto da ação humana. “O mesmo acontece com a água que será captada do rio Itapanhaú”, afirma a nota.