Exames de DNA confirmam troca de bebês em maternidade há 32 anos
O parto das duas ocorreu no dia 15 de maio de 1984
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O parto das duas ocorreu no dia 15 de maio de 1984
Resultados de exames de DNA confirmaram que duas mulheres foram trocadas há 32 anos logo após nascerem no Hospital Municipal de Quirinópolis, região sul de Goiás. De forma e motivação ainda desconhecidas, Keila Martins Borges e Elisângela Vicente Maciel foram entregues a famílias com as quais não tinham laços sanguíneos. Os envolvidos ainda tentam entender e lidar com a situação inesperada.
O parto das duas ocorreu no dia 15 de maio de 1984. Keila, gerada pela dona de casa Percília Vicente, de 56 anos, deixou o hospital com a autônoma Maria Martins Pereira, de 50, mãe biológica de Elisângela. Por sua vez, Elisângela foi levada por Percília.
As suspeitas só surgiram há cerca de dois meses, quando uma prima de Keila viu na igreja que frequentava uma mulher muito parecida fisicamente com ela. A mulher em questão se trata de Eliane Maciel, de 38 anos, que também é filha de Percília.
Keila diz que os exames foram apenas uma confirmação oficial, pois já tinha certeza da troca. Inclusive, ela resolveu conhecer a mãe biológica antes mesmo dos resultados.
“Eu já esperava. Desde o primeiro momento já achei que não precisava de exame. Ficou todo mundo assustado, deu um nó na nossa cabeça, mas fiquei feliz porque já gosto muito da minha nova família. Não quero e nem vou perder minha mãe que me criou, mas também não vou abrir mão da minha mãe de sangue. Quero ter as duas”, disse ao G1.
O G1 tentou falar com Elisângela, mas o marido dela disse que ela não quer se pronunciar sobre o caso.
Misto de sentimentos
Na cabeça de Percília, que mora na zona rural de Quirinópolis, ainda existem sentimentos opostos: a tristeza em ser vítima dessa situação e a alegria por saber que tem mais uma filha. A ideia, segundo ela, também é aglutinar todos os lados envolvidos na história.
“Já sofri tanto com isso. Só quem passa por isso sabe como é a dor. Por que entre tantos bebês o meu tinha que ser trocado? Isso tudo surgiu como uma bomba. Mas a Keila é uma pessoa que tive um carinho especial desde pela primeira vez que vi. Também a amo. Para mim não tem diferença. Jamais vou rejeitar ou maltratar”, afirmou.
A dona de casa também já deixou claro que Elisângela vai seguir sendo sua filha, independente de tudo. Mas admite que ela ainda está assustada e com receio de se aproximar da mãe biológica. “Vai ter que dar um tempo”, diz.
Percília afirma que jamais desconfiou da troca. Mas revela que se lembra de Maria ainda no hospital e que amamentou Keila sem saber que ela era sua filha. Na ocasião, a autônoma não estava conseguindo dar leite. Para Percília, tudo aconteceu naquele momento.
Suspeitas após parto
Maria já tinha contado ao G1 que suspeitou de uma troca logo após o parto. Ela se lembra de um conjunto de fatos “suspeitos” que, na época, a fizeram questionar se o bebê era mesmo aquele gerado em seu ventre.
“Vou confessar que tinha uma suspeita. Quando minha filha nasceu, ela foi levada para o berçário. Minha mãe a viu antes e me disse: ‘Sua menina é linda, branquinha, parece o pai’. Quando ela veio para o quarto, minha mãe também estava e questionou que não era o mesmo bebê por ser bem mais morena. Além disso, ela estava com uma roupinha diferente das duas que eu tinha levado para o hospital para que ela vestisse. Acho que a troca aconteceu ali”, disse.
Outro fator que chamou a atenção foi o fato da recém-nascida não estar com a pulseira de identificação com o nome da mãe. A autônoma diz que questionou a enfermeira sobre a situação, mas ouviu que o objeto tinha caído além da confirmação de que aquela era sua filha. “Na hora eu acreditei e fui cuidar da minha filha. Depois nunca mais passou pela minha cabeça questionar essa situação”, lembra.
Um dia após dar à luz, Maria deixou a unidade de saúde com Keila no colo e voltou para Gouvelândia, a 35 km de Quirinópolis, onde sempre viveu.
Troca ainda é mistério
As circunstâncias em que a possível troca de bebês se deu ainda é uma questão cheia de mistérios. A direção do Hospital Municipal de Quirinópolis não possui os registros dos servidores que atuaram nos partos daquele dia, pois diz ser obrigada por normativa do Conselho Federal de Medicina (CFM) a guardar documentos somente por um período de 20 anos.
As duas mulheres foram registradas no Cartório Civil de Quirinópolis. Apesar da data de nascimento, Keila foi registrada em 1985, e Elisângela somente no ano seguinte. Não há qualquer informação mais detalhada fora aquelas de praxe como nome dos pais e data de nascimento.
A tabeliã Aparecida Maciel afirma que é praticamente impossível saber exatamente quantas crianças nasceram naquele dia na cidade. “Os arquivos não são digitalizados e, além disso, como nos casos das duas, o registro é feito muito tempo depois. Então teríamos que analisar em todos os livros ao menos dois dados”, explica.
Na prefeitura também não há informações disponíveis sobre escalas de trabalho ou nomes dos profissionais que estavam em serviço.
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