O jornalista Dacio Malta, que foi relevante editor de jornais do Rio de Janeiro, teve a feliz iniciativa de reunir em um livro alguns trabalhos publicados por seu pai, um expoente do jornalismo por seis décadas, Octavio Malta.

O livro também é um pouco da história do Brasil nesta época, de impressionante pluralismo de jornais que se multiplicavam entre os anos 20 e o início da Grande Guerra. Embora não tenha sido a intenção do autor, a obra passa a ser indispensável no conhecimento da vida cultural na fase em que o Rio poderia se igualar em ativismo intelectual a Paris e Nova York, que viviam também grandes momentos.

O rol de amigos e companheiros de Octavio Malta é de uma seleção de craques, como Samuel Wainer, seu parceiro em Diretrizes e na Última Hora – que tem uma notável biografia de Karla Monteiro –; Carlos Lacerda, brilhante e marcante, mas de caráter duvidoso; Rubem Braga, grande texto em temperamento difícil; Osório Borba, respeitadíssimo, Paulo Francis, ainda muito jovem. A fundação de Última Hora, que foi a modernização do jornalismo e da valorização da fotografia, pagando bons salários, é ponto alto da narrativa.

Os artigos alinhados foram publicados em diferentes jornais e revistas, sendo que os últimos na Folha da Semana, Revista Nacional- de Mauritonio Meira,e na revista do Diners Clube.

Curioso é que tendo sido um homem de formação de esquerda, com passagem no Partido Comunista, assinou vigorosos artigos já no período militar. Com relação ao presidente Castelo Branco, foi duro nas críticas. Usou e abusou de associar o regime ao fascismo. Curioso é que pela releitura dos textos se verifica que a “ditadura” não era tão ditadura assim, pois se escrevia criticando e denunciando excessos sem maiores problemas. Na verdade, a censura que predominou alguns anos foi dirigida mais a dois ou três jornais e revistas, como Veja, Estado de S. Paulo e Tribuna da Imprensa, além de pouco tempo no JB.

A vida de Octavio Malta – toda ela dedicada ao jornalismo, à defesa da liberdade de imprensa, ao rico convívio com o mundo intelectual, como Jorge Amado, José Lins do Rego e Marques Rebelo – é uma referência para as novas gerações. Sempre teve, independentemente das posições políticas, compromisso com a verdade, com o fato e com o leitor, que não pode ter informação sonegada por motivo político ou ideológico.

Percebe-se que o livro comemorativo dos 120 anos que o retratado estaria fazendo pede outro no mesmo estilo e reunindo textos enriquecedores para os que apreciam a história. Para se entender o Brasil e ter esperança de melhores dias, é bom recordar essa geração de idealistas.


Por Aristóteles Drummond