Morreu aos 73 anos na tarde desta quinta-feira (3) o ator, bailarino e diretor Jair Damasceno, uma das figuras mais ilustres e emblemáticas da arte sul-mato-grossense. Jair estava internado há 5 dias no Hospital de Câncer Alfredo Abrão, em Campo Grande, e lutava contra um câncer há mais de um ano.

Nascido em Tefé no Amazonas, Jair aprendeu a ler e decorar textos com poesias. Morava com os pais na beira do rio no interior do Estado. O pai, militar, foi uma inspiração musical desde cedo. Mas para estudar seguiu para a capital do estado onde conheceu o Amazonas. Passou por Manaus, Belém e entre os nove e quinze anos, mas veio à Campo Grande aos 17. Até vir ao Mato Grosso, antes da divisão do Estado, só tinha assistido às peças teatrais. Foi na hoje Capital sul-mato-grossense que começou os 48 anos de carreira completos em 2021.

Pioneiro na área e além da resistência artística durante o regime militar entre 1964 a 1985, Jair foi o primeiro bailarino homem do Estado e abriu caminho para outros artistas. “Foi um escândalo. No teatro não, porque as pessoas de qualquer lugar do mundo pagam o teatro. Me convidaram para uma escola de dança, uma academia pelo meu trabalho corporal no palco. Depois fiquei sabendo que era o primeiro bailarino do estado. Porque só as meninas faziam isso. Sapatilha, collant e saltava”.

Formado em Pedagogia, Jair atuou durante 35 anos em empresa da iniciativa privada e as artes cênicas sempre foram atividades paralela e fruto da curiosidade e interesse que lhe permitiu conhecer pelo país grandes nomes das artes brasileiras com quem aprendeu através de cursos e oficinas, além de ter assistido centenas de espetáculos, nacionais e estrangeiros. Inovou com o primeiro nu em cena em Campo Grande na peça “Sangue Eletrônico”, texto de Veríssimo, encenado pelo Grupo Alma de Circo da UFMS.

(Foto: Carlos Yukio)

 

O seu último trabalho foi a peça “Ensaio sobre a Lua”, que estreou em 12 e 13 de outubro de 2019 no teatro Circo do Mato. Na ocasião, Jair celebrou 48 anos de atuação como artista brasileiro.

Nos últimos dois anos, devido à pandemia e ao câncer, Jair se reservou a cuidar da saúde, por isso não estreou um novo espetáculo que já estava em seus planos. Nos últimos trabalhos, Jair fez pesquisas com iluminação alternativa no teatro, apenas com o uso de lanternas. Fique com uma reflexão do artista por ele mesmo indagada por este repórter em 2018:

“Não é frescura não, mas eu não sei (silêncio) não sei quem eu sou. Sou uma pessoa que vive de certa forma fazendo o que gosta. Não sou pessimista, nem otimista, sou realista. Me pergunto o tempo todo ‘como posso me definir?' (silêncio novamente). Alguém que busca fazer o que gosta e nunca está satisfeito com o mundo querendo que as coisas deem mais certo para a humanidade toda, mas não sabendo como isso pode acontecer. Sou uma pergunta. Então não sei te dizer”.

O sepultamento de Jair será nesta sexta-feira (4), às 10h30 no cemitério Park Monte das Oliveiras, na Avenida Guaicurus, próximo ao José Antônio Pereira. A família pede que os amigos evitem causar aglomerações em decorrência da pandemia de Covid-19.