comemora os 123 anos no próximo dia 26 de agosto. A também conhecida como ‘Cidade Morena' abrigou pessoas de todo o mundo nesse mais de um século de existência. ‘Olhares experientes' presenciaram as mudanças do município e contam como era viver em ‘Campão' que fazia jus ao nome.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 120 mil pessoas acima de 60 anos residem na Capital de Mato Grosso do Sul. Campo-grandenses ou não, quem mora na cidade não troca por outro lugar. Os idosos consideram o município como um lugar seguro e com várias opções para desfrutar da terceira idade.

Márcio Justino, de 66 anos, é nascido e criado em Campo Grande, mas ressalta que nem sempre os moradores tiveram o desenvolvimento na ‘palma da mão'. Há meio século as coisas eram bem diferentes e o aposentado se lembra que precisava ‘se virar nos 30' para realizar tarefas do cotidiano.

Justino se lembra que a maioria dos moradores eram peões e a cidade parecia uma fazenda. Márcio ri ao lembrar da dificuldade de realizar uma viagem de curta distância.

“A viagem era de trem e que às vezes ia muito lotado. Como eu era criança, pulava pela janela e segurava um lugar para minha avó ir sentada. Muita gente viajava em pé, eu cansei de ir para dentro de um trem lotado. Na volta, a gente não pegava táxi, era uma charrete”, lembrou.

Com o passar dos anos, Campo Grande foi se desenvolvendo e Márcio acabou presenciando as mudanças bem de perto. “Cresceu muito, hoje em dia existem bairros que nunca nem ouvi falar. Nasci, cresci e vou morrer aqui nessa cidade, não troco por nada”, disse.

Ajudando a construir Campo Grande com as próprias mãos

Braz Trevisan, de 68 anos, é um paulista que tem Campo Grande no coração. Ele se mudou para a Capital de Mato Grosso do Sul há mais de 50 anos e ajudou na construção de vários lugares da cidade.

Orgulhoso de ajudar a construir Campo Grande com as próprias mãos, Braz se lembra como as coisas funcionavam no município há mais de meio século.

Braz ajudou a construir Campo Grande. (Foto: Anna Gomes)

“Vim de para trabalhar na construção de Campo Grande. Já trabalhei em várias obras da cidade. Auxiliei a fazer prédios, a primeira grande loja e até o primeiro terminal de transporte coletivo. Ainda moro no mesmo bairro e me sinto orgulhoso ao ver como a cidade cresceu e eu ajudei no desenvolvimento”.

Moradores de todos os estados do país

Campo Grande recebeu muitos moradores de outros estados que vieram para a cidade em busca de novas oportunidades de vida, como foi o caso de Jaime Antônio, de 75 anos. Gaúcho, ele trabalhou com transporte durante toda a vida e destaca que conheceu todas as capitais do Brasil, mas considera a Capital de Mato Grosso do Sul, a melhor do país.

Jaime considera Campo Grande a melhor Capital do país. (Foto: Marcos Ermínio)

“Passei por vários lugares do Brasil. Trabalhei com transportes e conheci todas as capitais do Brasil. Campo Grande foi a melhor de todas. Moro há dez anos e a considero a mais segura. Aqui podemos passear e encontrar os amigos em uma praça, por exemplo”, destacou.

Do outro lado do mundo

Campo Grande conta com a terceira maior colônia de imigrantes japoneses do país, com cerca de 15 mil descendentes, considerando até a 4ª geração. Otávio Aiko, de 78 anos, mora em Campo Grande há 12 anos, após passar uma longa temporada do outro lado do planeta. Ele viveu mais de duas décadas no Japão e, mesmo assim, considera a Capital de Mato Grosso do Sul um bom lugar para se viver.

Otávio está morando na Capital de MS após passar uma longa temporada no Japão. (Foto: Marcos Ermínio)

“Minha filha casou com um rapaz de Campo Grande e resolvemos morar na cidade. Morei 21 anos no Japão, é um choque de realidade, mas gosto de viver aqui”.

Pandemia deu pausa nos encontros da praça

Quem mora em Campo Grande sabe que os idosos amam a reunião na Praça Ary Coelho, mas os últimos anos foram bem complicados para quem era considerado ‘alvo' da doença. Agora, com a vacina, o número de contágios caiu e os encontros dos idosos na praça voltaram a acontecer.

Jaime conta que todos os dias ele se reunia com os amigos para bater um papo, mas quando a pandemia apareceu, cada um foi para um lado e o grupo de colegas perdeu contato.

Pandemia deu uma pausa nos encontros da Praça Ary Coelho. (Foto: Marcos Ermínio)

“A gente se encontrava todas as manhãs, era um grande grupo de amigos, mas devido à pandemia nós ficamos afastados e isolados. Agora estamos voltando a nos encontrar”, explicou.

Diversão na terceira idade

Passatempos e atividades de são essenciais para manter a mente e o corpo saudáveis na terceira idade. Além de favorecerem a qualidade de vida e o humor, outros benefícios podem ser percebidos, como a melhoria da concentração, da coordenação motora e da agilidade das capacidades cognitivas.

Idosos durante atividades no Vovó Ziza. (Foto: Anna Gomes)

Com as atividades, é possível evitar os problemas de saúde comuns ao envelhecer. Alternativas como dança, e servem como fonte de conhecimento, proporcionando entretenimento e momentos divertidos.

Apesar da idade, muitos idosos continuam mantendo uma rotina ativa quando o assunto é diversão e esportes. Alguns esbanjam energia e chegam a passar o dia todo realizando atividades.

O Vovó Ziza é quase um complexo esportivo da terceira idade em Campo Grande. O local oferece hidroginástica, pilates, ginástica, sinuca, dança, teatro, violão, artesanato, etc. Até agosto de 2022, o centro está atendendo 702 idosos, mas antes da pandemia já chegou a atender mais de mil pessoas acima de 60 anos.

Idosos recebem lanche gratuito no Vovó Ziza. (Foto: Anna Gomes)

Rita Denice Rodrigues, de 79 anos, e Antônio Rodrigues, de 76 anos, estão casados há mais de meio século. Ambos não nasceram em Campo Grande, mas são apaixonados pela ‘Cidade Morena'. O casal frequenta o Vovó Ziza há mais de uma década e diz que as atividades são fundamentais para a saúde física e mental na terceira idade.

“Eu sou do Ceará e nos mudamos para Campo Grande ainda na década de 70. Vimos tudo mudar. O que era mato hoje em dia é prédio. As coisas melhoraram, principalmente os meios de locomoção. Considero a cidade um município grande, mas ainda tranquilo por ser uma Capital. Ela nos oferece qualidade de vida. O Vovó Ziza é um exemplo disso, aqui eu faço hidroginástica e adoro. Cuidamos da saúde e também conseguimos fazer amigos”.

Antônio também diz já se considerar campo-grandense. Ele também já embarcou em muito trem para ir até as cidades do interior. Em relação às atividades, o ‘Seo Rodrigues' é um esportista e, às vezes, chega a passar o dia todo no centro de convivência.

Rita e Antônio são casados há mais de meio século e praticam atividades físicas juntos. (Foto: Anna Gomes)

“Já embarquei em muito trem para ir até Aquidauana. Campo Grande era apenas a região central e hoje em dia cresceu muito, mas ainda considero um ótimo lugar para passar a terceira idade. Gosto de fazer esportes, não podemos ficar parados devido à idade. Faço atividades o dia todo, pratico vôlei, hidroginástica e várias outras atividades. Às vezes, passo o dia no Vovó Ziza, além dos esportes eles até nos oferecem lanches gratuitos. O almoço é muito barato”, destacou.

Ninguém fica parado no baile

Só o nome é considerado ‘da terceira idade', mas o baile que o Vovó Ziza promove é animadíssimo. Idosos de toda a cidade se reúnem para dançar, se divertir e, claro, para paquerar.

Baile da terceira idade anima os idosos de Campo Grande. (Foto: Anna Gomes)

História dupla em Campo Grande

Aos 73 anos, Maria Aparecida Nakasato conta a história de Campo Grande ao ar livre. Além de residir na Capital do Estado há quase 70 anos, ela também é dona de uma banca localizada no Mercadão Municipal, um dos cartões postais da cidade.

Maria Aparecida tem uma banca no mercadão há meio século. (Foto: Marcos Ermínio)

Maria de Presidente Prudente foi a Campo Grande ainda criança. Aqui na ‘Cidade Morena' ela cresceu e se casou com o Paulo Nakasato, de 79 anos. Casados há 50 anos, ambos tiveram filhos, netos e estão à espera do primeiro bisneto que vai nascer nos próximos meses.

Maria e Paulo na banca da família. (Foto: Marcos Ermínio)

“A banca era dos meus sogros e depois que casei comecei a cuidar do espaço juntamente com meu marido. Estamos à frente do comércio há meio século. Eu amo Campo Grande e não trocaria por nenhuma outra cidade do planeta. Aqui que construí a minha vida e minha família. Sou muito grata”, disse.