Comprometida a investir US$ 1,1 bilhão no Brasil até 2032, a Hyundai deve destinar a maior parte desses recursos ao desenvolvimento de novas tecnologias, com ênfase na produção do chamado hidrogênio verde – combustível que já abastece alguns modelos produzidos pela sul-coreana, entre veículos leves e caminhões, em circulação no mundo.

O CEO da subsidiária da montadora no Brasil revelou que a empresa deve expandir sua área de engenharia com uma fatia do montante anunciado em 22 de fevereiro pelo presidente global do grupo, Euisun Chung, valor que, hoje, equivale a cerca de R$ 5,5 bilhões.

Conforme o portal Infomoney, Airton Cousseau disse que a ideia é contratar pelo menos 100 engenheiros para reforçar o time, que hoje conta com 39 profissionais. Os esforços entram em vigor já este ano.

“A parte de equipamento nós já temos, os laboratórios em Piracicaba [onde fica o Parque Automotivo da empresa]. A área física já existe, a gente só precisa colocar o capital humano”, afirmou aos jornalistas, em evento para anunciar os próximos lançamentos da montadora.

“A Hyundai trabalha com hidrogênio há 20 anos, então ela domina essa tecnologia. […] Só que o hidrogênio é caro em termos de infraestrutura, para produzir, transportar e armazenar. E, aqui no Brasil, a gente tem um tesouro que é o etanol”, explica.

Esforços de conversão

Junto a pesquisadores, empresas correm para encontrar formas eficientes de converter etanol em célula de combustível, que gera eletricidade para os carros. É o reformador que faz essa conversão e, aqui no Brasil, essa tecnologia vem sendo desenvolvidas pela Usp (Universidade de São Paulo) em parceria com produtores de combustíveis e montadoras.

Em sua passagem pelo país, o CEO global da Hyundai chegou a se encontrar com reitor da universidade para tratar do assunto, já que a empresa trabalha no desenvolvimento de células de combustível.

Cousseau explica que a conversão reduz custos de transporte e armazenagem do hidrogênio verde, pois pode ser feito nos próprios postos de combustíveis. Porém, o reformador da USP, por enquanto, só consegue produzir cinco quilos de hidrogênio por hora – quantidade de capaz de encher uma vez o “tanque” do Nexo, o SUV movido a hidrogênio da Hyundai.

No mês que vem, a empresa deve trazer um desses modelos ao Brasil para uma demonstração.

O executivo reconhece que ainda há um longo caminho para que esse tipo de veículo seja produzido no Brasil. Mas sinalizou que, no curto prazo, a Hyundai deve iniciar a produção de modelos híbridos-flex por aqui.

Esses veículos possuem mais de um motor, movidos com diferentes fontes de energia. “É uma prioridade, principalmente após o Mover”, disse Cousseau, se referindo à iniciativa do governo federal.

Quase R$ 100 bi em investimentos

O programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação prevê incentivos fiscais para empresas que investirem em descarbonização. Pelos cálculos do governo, serão aproximadamente R$ 19 bilhões em créditos concedidos até 2028.

A Hyundai faz parte do grupo de montadoras que, nas últimas semanas, anunciaram investimentos bilionários no Brasil ne esteira desse programa. A empresa mais recente da lista é a Stellantis, dona de marcas como Fiat e Citroen, ao prometer recursos da ordem de R$ 30 bilhões entre 2025 e 2030.

A montadora afirma que, nesse intervalo de tempo, deve lançar mais de 40 modelos no país, incluindo híbridos e elétricos.

“Os 30 bilhões de reais serão todos no Brasil, serão investidos para renovar os nossos carros existentes, fazer novos lançamentos, introduzir a tecnologia ‘bio-hybrid’ e investir em novos negócios”, disse o presidente da Stellantis na América do Sul, Emanuele Cappellano, no anúncio feito ontem (6).

Durante evento na Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), na noite de ontem, o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o volume de investimentos no setor automotivo chegou a R$ 97,3 bilhões.

Onze multinacionais do setor anunciaram novos recursos ou ampliaram seus planos de investimentos. Também nesta semana, a Toyota anunciou que vai destinar R$ 11 bilhões para ampliação de capacidade de produção de veículos e motores com tecnologia híbrida no Brasil até 2030.