Bocejar pode revelar mais sobre a personalidade do que sobre o grau de cansaço ou tédio
O bocejo ainda é um mistério na sociedade científica, e o fato de ser contagioso é o que mais intriga os especialistas. Um estudo realizado pela Universidade de Pisa e da Unidade de Primatologia Cognitiva da ISTC-CNR, na Itália, aponta que o grau de contágio do bocejo está intimamente ligado à empatia, ou seja, a capacidade de reconhecer e compartilhar as emoções que a outra pessoa sente.
Os pesquisadores observaram 109 voluntários selecionados aleatoriamente na Europa, na África e nos Estados Unidos, ao longo de um ano.
A proximidade entre as pessoas (amigos, parentes ou desconhecidos) pode influenciar a rapidez e a frequência do contágio dos bocejos. Na pesquisa, o contágio foi maior entre parentes que entre amigos. No caso dos amigos, o bocejo se “propaga” mais que entre conhecidos e, seguindo o mesmo padrão, entre os conhecidos o contágio é maior que entre os desconhecidos.
Indivíduos com determinado grau de parentesco demonstraram uma taxa maior de contágio de bocejos tanto em ocorrência quanto em frequência.
O estudo destaca o fato dos bebês, por exemplo, não bocejarem por verem outros fazendo e explica que o bocejo só começa a ser contagiante a partir de quatro ou cinco anos, quase ao mesmo tempo que a empatia. O mesmo acontece com as pessoas com autismo, condição associada a níveis mais baixos de empatia, também são menos propensos a serem contagiados.
O estudo ainda destaca que o ato de bocejar ser contagioso não quer dizer que seja uma doença. O estudo apenas reafirma a ligação direta com a empatia, normalmente entre pessoas que compartilham algum vínculo emocional.
Mas por que bocejamos?
Um mal entendido comum sobre bocejar é a ideia de que fazemos isso quando precisamos de mais ar. Mas de acordo com uma pesquisa da Universidade de Albany, o bocejo acontece como uma espécie de sistema refrigerado para o cérebro, que tem a ter a temperatura maior quando estamos cansados.
A ação de bocejar vai trazer mais ar pelos ouvidos e boca, esfriando assim a temperatura do sangue facial e baixando também a temperatura cerebral, segundo a pesquisa.
Estudos também mostram que bocejar regula a pressão sanguínea, estica os músculos faciais e aumenta o foco. E quando espreguiçamos ao mesmo tempo, alongamos todos os músculos e os deixamos prontos para serem usados a qualquer momento.
No mundo animal, o ato de bocejar segue padrões parecidos com o de humanos, embora cada espécie faça por objetivos diferentes. Um rebanho de presas, por exemplo, boceja junto para ficar alerta junto. Quando o primeiro animal bocejar, fará com que os outros animais fiquem alertas. Já os pinguins, bocejam para encontrar parceiros.
Para humanos, a duração média de um bocejo é de cerca de 6 segundos e o contágio não necessariamente acontece com contato visual. Os pesquisadores indicam que apenas ouvir, ler, ou mesmo pensar sobre, pode desencadear a ação. Então é provável que durante a leitura dessa matéria, um bocejo tenha sido inevitável.