Esta terça-feira, 6 de agosto, é emblemática para a família de Dayane Xavier da Silva. Isso porque o marido Tiago Echeverria Ribeiro, acusado de matá-la em março deste ano, com facadas na virilha no bairro Nova Campo Grande, enfrenta o júri popular cinco meses após o crime. Aos prantos, o réu negou o feminicídio.

O casal estava junto há cerca de 10 anos e tinha três filhas, com 1 ano e 3 meses, cinco anos e oito anos. Tiago conta que o crime ocorreu após uma discussão entre os dois, que teria sido iniciada após ele sugerir uma separação, porque se negou a ir a um pagode com a esposa.

Conforme depoimento dele, Dayane disse que “se ele não ficasse com ela, não iria ter uma vida de solteiro com mais ninguém”. Então, entraram em luta corporal, mas Dayane foi até a cozinha pegar a faca.

Ela voltou para sala com a faca e ele empurrou ela para não ser atingido. “Acho que foi nesse momento que a faca acertou ela”. Depois, ela caiu no sofá e puxou ele para cima dela. “Foi aí que ela falou com as seguintes palavras: ‘acho que fui ferida com a faca’. E saiu correndo de casa”, afirma.

Amiga do casal foi ouvida – (Foto: Victória Bissaco)

A mulher foi morta na casa de uma amiga, onde o casal morava havia dois meses. A “comadre” foi a primeira a ser ouvida nesta manhã. Ela relatou que esteve ao lado da amiga durante toda a manhã, inclusive, no momento em que Tiago a matou com facadas.

Conforme relato da amiga que estava com o casal, a briga entre Dayane e Tiago começou porque ele colocou a mão nas partes íntimas dela e apertou. A mulher desferiu um tapa na cara do marido “no automático” e repreendeu a ação dele. “Ele disse para ela ‘o que eu disse para você que aconteceria se você encostasse em mim?’ e ela disse ‘não fala não, pega e faz’ e ele respondeu ‘ta bom’. Mas a gente não achou que fosse dar em nada, porque conhecia o ‘ta bom’ dele”, relata.

Tiago foi até a cozinha e voltou com uma faca. A amiga conta que Dayane chegou a ver o cabo da faca e falar que ele pegou a faca para elas. As duas, então, levantaram-se do sofá para correr, mas o homem conseguiu prender o corpo de Dayane com o dele e desferir as facadas.

A amiga relata que chegou a dar uma ‘gravata’ no agressor, e que ele tentou esfaquear ela, mas não conseguiu porque era muito mais alto que ela. Nesse meio tempo, Dayane conseguiu andar cerca de 26 metros até a casa da vizinha e caiu com o corpo entre a varanda dela e a calçada da rua.

Dayane andou 26 metros ferida antes de cair – (Foto: Victória Bissaco)

Na casa, a amiga e o filho dela, de 17 anos, conseguiram entrar em luta corporal com o autor e tirar a faca da mão dele. Ele fugiu em seguida e a amiga foi até a casa da vizinha ver como a amiga estava. “Eu falei que estava ali e para ela ficar calma, porque o socorro estava vindo, ela me olhava, mas já não respondia mais”.

Crianças não viram, mas ouviram

A amiga de Dayane explicou que as filhas da vítima e a filha dela estavam em casa, mas não presenciaram as facadas. “Não estava as crianças, porque na hora que eles começaram a discutir, elas correram, porque já tinham medo dele”, explica.

Em depoimento especial, a filha mais velha dele relatou que viu o pai com a faca na mão, mas que depois correu para o quintal. Sobre a versão da criança, também nega. “Não sei se teve influência de alguém, até respeito, mas duas das minhas filhas estavam dormindo e outra estava do lado de fora com a amiga de Dayane”.

Não foi justo

Tiago afirma que foi para fora de casa e a amiga do casal aconselhou ele a fugir. Ele, então, ficou andando pelo bairro e depois foi informado de que a esposa morreu. Aos prantos, diz que resolveu se entregar, porque “não achei justo com ela, comigo nem com minhas filhas”.

Dayane possuía medida protetiva contra o marido. “A gente tinha muitas brigas devido ao alcoolismo. Em uma das vezes, cheguei a sair de casa e dormi no meu carro, com minhas filhas, na frente da casa do meu tio. Ela disse que ia pedir medida protetiva para me prejudicar”.

Ainda, disse que foi Dayane quem pediu para ele voltar para casa, porque a filha deles estava doente. Também que chegou a questionar sobre a medida protetiva, mas que ela afirmou que havia pedido revogação. “Até o irmão dela me disse que não era para eu voltar, porque ela iria me prejudicar”.

Chorando, disse que não teve a intenção. “Sempre tive uma convivência inexplicável com minha esposa, não tem porque eu fazer isso”.