Preso por matar mulher com tiro na cabeça pediu à filha para mentir sobre acidente, diz delegada
Autor ficou em silêncio durante depoimento na Deam e responderá por feminicídio, com pena de 20 a 40 anos
Victória Bissaco –
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Preso por matar Lucilene Freitas dos Santos, 33 anos, na última sexta-feira (11), o suspeito teria pedido à filha, de 12 anos, para mentir à Polícia que o caso se tratava de um acidente. A informação foi divulgada nesta segunda-feira (14) pela delegada Analu Lacerda Ferraz, durante coletiva de imprensa na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
Conforme a delegada, o autor optou por ficar em silêncio durante interrogatório na Deam, e disse que se manifestaria apenas na presença de advogado. A menina, contudo, disse ainda na cena do crime bastante emocionada que o pai ‘brincava’ com a arma quando a mãe passou na frente e acabou sendo atingida.
A filha foi ouvida em depoimento especializado na Delegacia e relatou que o pai, antes de fugir da casa, pediu para ela dizer que o caso havia sido um acidente. “Para mim, isso já materializa esse crime, fora outra testemunha que estava na casa. O inquérito vai ser finalizado como feminicídio”, explicou Analu Lacerda Ferraz.
Confessou o crime
Mais cedo na manhã desta segunda-feira, o comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que realizou a prisão do autor, disse à imprensa que o marido confessou o crime. “Prontamente ele confessa o crime, relata que foi um acidente, que foi brincadeira, uma brincadeira de muito mau gosto, mas preso, imediatamente preso”, declarou o tenente-coronel Rigoberto Rocha da Silva.
Para as delegadas da Deam, como o autor não confessou durante interrogatório, o que será considerado durante a confecção dos autos do processo será o depoimento das testemunhas, especialmente o da filha, além da análise pericial que, segundo Analu Lacerda, indica que não foi acidente.
“A própria perícia no momento do local do crime disse que o tiro que veio a atingir a vítima teria sido na cabeça, de cima para baixo. Ou seja, percebe-se a dificuldade em acreditar que o crime tenha sido acidental”, declarou a delegada.
A delegada explicou que o casal veio recentemente do Paraná para Campo Grande e não há registros de violência doméstica do marido contra Lucilene nesse tempo em que estão aqui no estado. “Mas, pelo depoimento da criança, não era incomum o pai fazer uso de arma de fogo para ameaçar a vítima”, explica.
Pena aumentada
O autor do feminicídio responderá pelo crime do artigo 121-A, ou seja, pelo feminicídio como um crime autônomo e não como qualificadora. A Lei 14.994/24, que amplia a pena para o crime de feminicídio, foi sancionada na última quarta-feira (9). Agora, as penas passam de 12 a 30 anos de reclusão para 20 a 40 anos.
O primo do suspeito, que ajudou a escondê-lo após a fuga, também foi preso durante a ação do Choque em parceria com a Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado). Ele responderá por favorecimento pessoal. “Não tem que dar guarita para os autores de feminicídio, porque a pessoa também vai responder criminalmente”, ressaltou a delegada-titular da DEAM, Elaine Benicasa.
O caso
O homem teria afirmado ser o autor do disparo contra a esposa. “Matei minha mulher”, teria gritado desesperado, antes de fugir, segundo informou um vizinho, que acionou o socorro. Os filhos da mulher dormiam na casa quando a vítima foi ferida. Conforme apurado no local, na residência moram três famílias com cinco crianças.
Segundo testemunhas, ocorria um churrasco no imóvel, quando foi ouvido um disparo. Um vizinho disse que achou que se tratava de uma ‘bombinha’, até que passou a ouvir gritos.
Então, saiu para ver o que era e viu o homem gritando desesperado: “Matei minha mulher, matei minha mulher”. Além disso, afirmou que o marido fugiu a pé, dizendo que tiraria a própria vida.
Uma familiar da vítima, que estava na casa no momento, teria contado ao vizinho que eles estavam ‘brincando’ com a arma, quando houve o disparo. A mulher foi encontrada caída no quarto. As crianças foram levadas para a casa do vizinho, porque queriam ficar em cima da vítima.
Ainda segundo as testemunhas, os envolvidos são vizinhos tranquilos, que nunca deram problema na vizinhança. Eles moravam há poucos meses no local.
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