Famílias cobram sensibilidade das escolas nos bilhetes que ainda vão só para a mãe

Polêmica esteve nas redes sociais esta semana

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Polêmica esteve nas redes sociais esta semana

Há pouco, a imagem de um bilhete escolar assinado por uma mãe viralizou nas redes. No Rio de Janeiro, a usuária Kate Lane publicou no Facebook um recado para a escola do filho Jorge, que em outra mensagem, solicitava com a palavra “mamães”, ingredientes para uma salada de frutas. Kate frisava, na resposta, que eles não deveriam vir direcionados apenas para as mães e também para os pais. “Entendo que muitas vezes é a mãe quem se encarrega das tarefas domésticas e dos filhos, mas precisamos lembrar que ‘papais’ também são responsáveis e que muitas crianças são criadas por outros membros da família, como avós, tios, tias, etc. Assim, seria uma maneira de não repetirmos esse discurso que só responsabiliza a mãe/mulher pelo cuidado com a casa e os filhos (as)”, dizia o recado. 

Em Campo Grande, a discussão pode ser aprofundada já que também é recorrente em algumas escolas, segundo relata a administradora de empresas Amanda de Brito. “Recebo sempre os bilhetes apenas para mim. Já recebi alguns direcionados aos dois pais, principalmente os de reunião, já que meu marido é quem vai nas reuniões dos pais por ter um horário de trabalho mais flexível que o meu. O último bilhete da escola vinha solicitando uma porção de salgados para uma comemoração em sala de aula, e vinha ‘mamãe, por favor providencie’”, relata. Seus filhos, Luany de 8 anos e Arthur de 5, receberam bilhetes diferentes nessa ocasião. “Para ela os bilhetes sempre vêm relacionados à comida”, relata. 

Segundo a psicóloga Talita dos Santos, a questão está enraizada na distribuição de funções sociais em nossa sociedade, e muitas vezes a escola nem percebe o que está colocando no bilhete. “As pessoas ainda, infelizmente, acreditam que as obrigações com os filhos são exclusivas da mãe. Inclusive, pensam que o pai que faz alguma coisa pelos filhos está apenas ‘ajudando’, quando na verdade as funções domésticas também precisam ser realizadas pelo pai de forma igualitária, já que as mães trabalham e ainda têm que dar conta dos afazeres domésticos”, explica a psicóloga. Dessa forma, a escola não se atenta para algo banal, que está extremamente pontuado em nossa estrutura social. 

Posicionamento nas escolas

Famílias cobram sensibilidade das escolas nos bilhetes que ainda vão só para a mãeA publicitária Josi Guerra Niz, mãe do pequeno Pedro, diz não ter problemas com isso na escola do filho. “Quando fui pesquisar a escola para ele, sempre tive curiosidade sobre a comunicação que é aplicada. A maioria das escolas particulares que conheço fazem um filtro e sabem quais são os alunos, por exemplo, criados pelos avós, pelos tios, mas mesmo assim na escola do Pedro os bilhetes sempre chegam direcionados aos pais e responsáveis. Eu percebo muito que isso é uma coisa da escola, que pode incentivar a participação dos pais. Por exemplo, na escola do Pedro, no dia dos pais, são eles que conduzem o evento”, relata Josi.

Ela acredita também que o “erro” pode vir do pai que não se posiciona, e a escola acaba não tendo contato com esse pai, direcionando tudo à mãe, e que isso nunca ocorreu com ela pois seu marido é participativo e está sempre ligado à escola. 

 

Publicitária Josi Guerra Niz mostra o caderno do filho Pedro, onde os bilhetes são direcionados aos 'responsáveis' / Foto: Arquivo pessoal

 

Segundo a diretora da escola Gappe Sandra Ferreira, a comunicação da escola com os pais deve ser equilibrada, isenta e cuidadosa. “Temos que ter esse cuidado pois hoje os responsáveis pelas crianças são os mais variados possíveis, tem quem vive só com o pai, avós, outras pessoas, então a comunicação tem que ser mais abrangente. Outra questão que trabalhamos muito é a linguagem com as crianças, explicamos para elas que os bilhetes vão para os pais, ou seja, o responsável”, informa a diretora. Além disso, a escola se propõe a incluir todos os pais – independente do grau de parentesco com a criança – em todas as atividades para enaltecer o laço da instituição e dos pais. 

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