Peregrinações em busca de atendimento pediátrico na saúde pública marcam 2016
Famílias denunciam a falta de atendimento infantil
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Famílias denunciam a falta de atendimento infantil
Em uma segunda-feira de dezembro, a auxiliar de lavanderia Maria de Lourdes da Silva Leite, 33, saiu às 7h de casa com o filho, Daniel Valério da Silva, de 11 meses, que apresentava uma crise de bronquite, em busca de atendimento pediátrico. Depois de 7 horas e três UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) Maria de Lourdes se viu obrigada a desistir e voltar para casa sem consulta para o filho.
Naquele dia a mãe precisou faltar emprego, levou também a filha Isadora, de 3 anos, que estava com conjuntivite e a sobrinha Jéssica, 14, para ajudar. Ela dirigiu-se para a UPA das Moreninhas e lá foi informada que somente a UPA Universitário teria pediatras. Chegando ao local foi encaminhada para a UPA Coronel Antonino com a mesma promessa. Porém, ao lá chegar, teve a mesma frustração.
“São duas horas da tarde, saí às 7 da manhã. Não tinha pediatra em nenhuma UPA. Estou o dia inteiro atrás e não consegui. Disseram que só tem a noite. Como vou voltar à noite? Vou pra casa. Eles estão com fome e cansados. Deixei serviço. Andar o dia inteiro com criança, em dia de chuva, o menino está ruim. Ninguém faz isso em vão”, reclama Maria de Lourdes com lágrimas nos olhos.
Outras histórias, mesmos problemas
A história da auxiliar de lavanderia, de 33 anos, Maria de Lourdes se confunde com a história de tantas outras Marias que não encontram pediatras na rede pública de saúde. Mudam-se os nomes, os detalhes, as doenças, mas as dificuldades em conseguir atendimento pediátrico permanecem.
A falta de pediatras nos postos como testemunhado pelas famílias atendidas pela UBS (Unidade Básica de Saúde Silvia Regina) que ficou mais de um ano sem pediatra. Descasos como a falta de informações que fez uma mãe pegar 4 ônibus e por questão de 12 minutos não conseguir pediatra. Esperas intermináveis como a que o pai e o flho de 13 anos tiveram de suportar na UPA Vila Almeida, mesmo após a inauguração da UPA Santa Mônica que prometia desafogar o movimento da primeira. E tragédias como a do menino que morreu nos braços dos pais, depois de terem levado a criança a duas unidades de saúde e serem orientados a se dirigirem a uma terceira.
A falha da rede pública de saúde com a insuficiência de atendimento infantil foi verificada em várias ocasiões, como quando a UPA Santa Mônica foi inaugurada e não possuía pediatra. Segundo a ajudante de descarga Ana Paula dos Santos Ferreira, 28, o problema continua. “Na UPA do Santa Mônica, não tem pediatra, se tem febre tem que levar no Vila Almeida, que está sempre cheio. Tem que ficar esperando até 5 horas para conseguir atendimento”, reclama.
Enquanto que a escada de médicos divulgada diariamente pela Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) mostrava deficiência de profissionais da área repetidamente. Principalmente quando se tratava de atendimento emergencial. O que faz com que mães e pais tenham que fazer verdadeiras peregrinações para encontrar pediatras.
Descaso e desinformação
É sabido de muitas mães e pais que ao precisar de atendimento emergencial pediátrico é necessário ligar para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel a Urgência) para saber em que unidade há pediatras de plantão. Entretanto nem sempre as informações são precisas.
“Numa emergência tem que ligar no Samu e perguntar onde tem pediatra, mas eles não dão informações precisas. Já aconteceu de ir numa unidade e não tinha, ou às vezes tinha numa unidade mais próxima da minha casa e eles não falaram. Tenho sorte de não precisar muito, pois meu filho não tem problemas de saúde, mas tem muita gente que tem filhos com asma e bronquite e sofrem bastante”, relata a estudante Mirele Melo, 24.
Maria de Lourdes também foi vítima do descaso. “É falta de comunicação, se não tem, fala que não tem! É uma falta de respeito. Deveria ter pediatras em todos os postos! Moro no Jardim Canguru e no posto Mário Covas não tem pediatra”, declara. A mãe decidiu medicar o filho com remédios que já haviam sido receitados quando ficou internado, há três meses no HU (Hospital Universitário) e aplicou inalação no filho, de acordo com a receita que já possuía.
“Se acontece o pior agente é culpado. Pra onde vai? Sem encaminhamento, hospital não atende. Quando resolve dar medicação por conta própria é culpada, não pode dar”, reflete, revelando um impasse.
Apesar das demoras, um ponto positivo
O Centro de Especialidades Infantil foi inaugurado em agosto deste ano com a promessa de realizar 5 mil atendimentos por mês. Para lá são encaminhados os casos específicos originados de consultas realizadas nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e UBSFs (Unidades Básicas de Saúde da Família).
A dona de casa Jurema da Silva do Nascimento, 30, esteve pela primeira vez no CEI para levar o sobrinho de 3 anos que ainda não fala para uma sessão com fonoaudiólogo. “Achei bom. Ele passou pela consulta no posto e depois de 4 meses conseguimos o encaminhamento. É bom, mas é demorado”, afirma.
O atendimento no CEI também foi aprovado pela ajudante de descarga Ana Paula dos santos ferreira, 28. Ela levou o filho Arthur Guilherme Ferreira da Silva, de 2 anos, para passar por uma consulta com especialista. “O atendimento aqui foi rápido e o médico é bom. Meu filho precisa de atendimento por causa da fimose. Primeiro ele passou pelo pediatra no posto, fiz o processo em casa e não evoluiu. Então recebi encaminhamento para ver se precisava de cirurgia”, explica.
Declarações da Prefeitura
Segundo a assessoria de imprensa da Sesau, as “UBSs e UBSFs trabalham com agendamento de consulta” e afirma que “todas as unidades contam com Pediatras”. Porém faz a ressalva de que os postos de atendimento não contam com atendimento infantil em todos os dias. Ainda de acordo com a Sesau, os plantões são escalados “conforme a demanda agendada”.
A Sesau também foi consultada sobre o número de atendimentos realizados pelo CEI desde a inauguração, entretanto até o fechamento desta reportagem não houve retorno. O número de pediatras atendendo de forma ambulatorial e emergencial também não foi informado.
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