Ministério da Saúde facilita acesso à medicação do HIV

O objetivo é ampliar o acesso à população de forma geral

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O objetivo é ampliar o acesso à população de forma geral

O acesso à medicação usada para prevenção após exposição ao vírus HIV será facilitado a partir deste mês. Portaria do Ministério da Saúde publicada no Diário Oficial unifica o tratamento chamado profilaxia pós-exposição (PEP), ofertado após situações de risco. Até então, o atendimento era diferenciado de acordo com o grupo exposto — profissionais de saúde, vítimas de violência sexual e pessoas que tiveram relação sexual desprotegida — e dependia de consulta a um especialista em aids. O novo protocolo prevê o uso de quatro medicamentos únicos ofertados em unidades de saúde não especializadas, como prontos-socorros. O objetivo é ampliar o acesso à população de forma geral.

Para a infectologista Valéria Paes, do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a mudança é importante porque agiliza o acesso ao tratamento, essencial para a eficácia. “Quando usada no prazo de 72 horas após a situação de risco, a medicação reduz a infecção em até 81%, em comparação a quem não usou a substância”, afirmou. O ideal, contudo, é procurar um médico até duas horas após a exposição. Ela aponta que a adoção de uma medicação única em mais serviços de saúde em vez do uso de medicações variadas em serviços específicos é vantajosa porque, muitas vezes, os centros especializados não estão abertos à noite e nos fins de semana.

Após a prescrição na rede de saúde, é preciso tomar a medicação por 28 dias, com acompanhamento médico. Nesse período, também são incluídos outros cuidados, como anticoncepção de emergência, profilaxia a outras doenças sexualmente transmissíveis, imunizações, investigação epidemiológica e avaliação clínico-laboratorial. O tratamento pode ser modificado para se ajustar às necessidades de cada paciente. Os efeitos colaterais da medicação mais recorrentes são enjoo e olhos amarelados

Emergência

A Secretaria de Saúde do Distrito Federal lembra que os medicamentos são de controle especial, regulamentados pela Portaria n° 344/1998 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e não devem ser banalizados. A infectologista do HUB alerta que a PEP só deve ser usada em casos emergenciais, devido aos efeitos colaterais e por não prevenir contra outras doenças sexualmente transmissíveis. Além disso, o uso recorrente da medicação pode aumentar a resistência da população ao vírus, uma vez que as pílulas são as mesmas usadas em pacientes soropositivos. “É importante reforçar que o uso do preservativo é necessário”, afirma Valéria, especialmente diante do aumento do perfil de risco dos brasileiros. “A gente nota que, apesar de terem informações, nem sempre as pessoas têm consciência da necessidade de usar o preservativo no dia a dia”, completa.

Na avaliação da infectologista Ana Cristina Ferreira, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a falta de conhecimento de outras medidas preventivas é uma das causas das contaminações recorrentes.“Estudos apontam que há um uso inadequado das estratégias de prevenção. Elas precisam ser mais amplas. Não basta só bater na tecla de usar a camisinha. Tem que reforçar isso, mas a pessoa tem que saber também que, se não usou, pode recorrer a esse serviço”, afirma. Ela ressalta que a eficácia do tratamento depende de fatores como o tempo entre a exposição ao vírus e o uso da medicação, o tipo de situação de risco, a variação do micro-organismo e se a pessoa já teve doença sexualmente transmissível.

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