Investigados pelos desvios de R$ 8,9 milhões da Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), o ex-coordenador da entidade, Paulo Henrique Muleta Andrade e seu contador João Antônio de Freitas Silva ‘distribuíram’ R$ 1.117.509,99 em poucos dias após a deflagração da Operação Turn Off, que resultou na prisão de Muleta, além de empresários e servidores por fraudes em contratos na saúde e educação com o governo do Estado.
Conforme investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), tão logo Muleta deixou a prisão, em dezembro de 2023, iniciou processo de ocultação de valores ilícitos, para evitar o bloqueio do dinheiro.
Consta no pedido de prisão assinado pelo juiz Robson Celeste Candeloro, que Muleta transferiu R$ 585.809,09 da conta de uma de suas empresas de fachada, a Estomacare Produtos Hospitalares, para sua conta pessoal.
Depois, transferiu R$ 198 mil da conta da JA Comércio de Produtos Hospitalares para a conta de João Antônio. Em seguida, mais R$ 333.700,00 da Mimedical Comércio e Distribuidora também para a conta do contador, que se desfez de R$ 900 mil para contas de terceiros.
Assim, o Gaeco ressalta que “em poucos dias, quase 01 (um) milhão de reais desviados da Apae, no âmbito do Convênio com o Estado, são transferidos para terceiro”.
A manobra considerada lavagem de capitais teve objetivo de evitar bloqueio de suas contas, já que passaram a ser investigadas após a Turn Off.
Empréstimo e fuga do país
Paulo Henrique Muleta Andrade, queria empréstimo milionário para fugir do Brasil. Preso na segunda-feira (10) pela segunda vez, Andrade tinha R$ 412,4 mil investidos em conta bancária.
Contudo, o investigado sacou o valor e depositou R$ 411 mil para terceiros. A Caixa Econômica Federal relatou a situação, em 17 de fevereiro de 2025, à Justiça.
Conforme o relato, houve falha sistêmica que impediu o bloqueio integral do valor na conta do investigado. Assim, os R$ 411 mil seguem na instituição financeira, ainda aplicados. Porém, agora em conta de terceiros.
Na Justiça, Paulo Andrade tentou autorização para viajar à Espanha para participar de suposto casamento. A Justiça lembrou que o ex-coordenador da Apae já teria demonstrado interesse em fugir para a Itália.
Neste sentido, apontou mensagens que teriam sido enviadas por Andrade ao contator:
Ex-coordenador: “[…] Ver se pego um empréstimo milionário e fujo do Brasil”
Contador: “Rapaz, eu vou te buscar onde quer que esteja!”
Então, Andrade teria convidado o contato para ir junto à Vicenza. “Demonstram inequívoca intenção de fugir do distrito da culpa, notadamente em razão das diversas ações penais que está respondendo na 2ª Vara Criminal da Capital”, defendeu o juiz Robson Celeste Candeloro.
MPMS deu parecer favorável
Quase um ano antes de pedir a prisão do ex-coordenador da Apae por obstrução da Justiça, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) foi a favor de pedido feito pelo acusado por desvios de R$ 8 milhões da entidade para se mudar para a Itália.
Conforme nota oficial do MPMS, um dos pontos levantados pela investigação para pedir a prisão do ex-coordenador da Apae pelos desvios de R$ 8 milhões da entidade foi a tentativa de obter cidadania italiana para deixar o país.
Além disso, o Gaeco apontou que Muleta fez manobra para tirar de suas contas o valor de R$ 412 mil. Ele passou o dinheiro para contas de terceiros.
As investigações começaram em 2021. No entanto, em 30 de abril de 2024 a promotora de Justiça, Paula da Silva Volpe, se manifesta a favor do pedido, sem ressalvas.
Na inicial do processo, Paulo Henrique e outras cinco pessoas da família expressam claramente a intenção de deixar o país. Vale lembrar que o ex-coordenador responde processo por corrupção, o qual chegou, inclusive, a ser preso.
Assim, a defesa da família Muleta, agora Moletta, anexou documentos que comprovam a descendência italiana e afirma: “O objetivo da presente demanda se caracteriza pelo fato de os Requerentes estarem reunindo a documentação necessária para obter a dupla cidadania italiana, pois pretendem morar e trabalhar no país de origem de seus antepassados”.
Segunda prisão
Devido à movimentação financeira e suposta intenção de fugir do país, o juiz argumentou que “as medidas cautelares não se mostraram suficientes”. Logo, deferiu a prisão preventiva de Paulo Andrade.
O ex-coordenador foi preso pela segunda vez, após o Gaeco na manhã da segunda-feira (10).
A defesa do ex-coordenador, feita pela advogada Rejane Alves de Arruda, informou ao Jornal Midiamax que iria se manifestar. No entanto, apenas após obter o acesso aos autos, o que ainda não ocorreu.
Conforme apurado pela reportagem, Paulo Henrique está sob custódia do Gaeco, antes de seguir para o presídio.
A prisão ocorre em meio às investigações, iniciadas em 2021, que apura desvios de R$ 8.066.745,25 na entidade. Os valores eram repassados pela SES (Secretaria de Estado de Saúde) para tratamento de pacientes ostomizados. O Gaeco revelou que o então coordenador, juntamente com empresários e agentes públicos, se utilizavam de empresas de fachada para simular vendas para a rede pública de saúde.
A primeira prisão ocorreu em novembro de 2023, durante deflagração da Operação Turn Off, que revelou esquema de desvios de contratos que superam os R$ 68 milhões.
A ação também denunciou os empresários Lucas Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho Junior. Além do ex-secretário de educação, Edio Antônio Resende de Castro, além dos então servidores, Thiago Haruo Mishima e Simone de Oliveira Ramires Castro.
Já referente a prisão desta segunda-feira, o Gaeco informou que Muleta tentou obstruir as investigações ao tentar se desfazer de R$ 500 mil para evitar bloqueio. Além disso, o Gaeco afirma que o ex-coordenador pediu cidadania italiana para deixar o país.