As maiores concentrações dos 15,8 mil incidentes registrados na BR-163, em Mato Grosso do Sul, são em trechos urbanos. Nos últimos 11 anos, o km que marcou maior número de ocorrências é o 485. Placa que sinaliza o km 485 frequentemente é cenário de fundo de acidentes no trecho da rodovia que passa por Campo Grande e concentra grande fluxo de veículos diariamente.
São 845,9 quilômetros de extensão da rodovia que passa por todo o Estado. Sendo que, em diversos trechos, a estrada ‘corta’ cidades ou contorna o perímetro urbano dos municípios de MS.
A BR-163 possui concessão bilionária da CCR MSVia, que pode renovar a responsabilidade da estrada na próxima quinta-feira (22).
Os registros citados são da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), com informações de acidentes por quilômetro ao longo da rodovia. Os dados utilizados para a reportagem possuem recorte de outubro de 2014 até janeiro de 2025.

KM mais perigoso
Assim, são 267 acidentes registrados apenas no km 485 da BR-163. Podemos visualizar que a cada 3,75 metros um acidente foi registrado neste quilômetro da rodovia.
São frequentes os acidentes no trecho da rodovia próximo à região do Jardim Veraneio, em Campo Grande. Caso da última quinta-feira (15) terminou com a morte de um motociclista.
A própria CCR MSVia admite que o km 485 é crítico. Em relatório de ocorrências e ações de conscientização realizadas no último ano, a Concessionária apontou o trecho como o mais crítico da BR-163.
Além disso, afirmou que no km 485, em 2024, houve um aumento de 54% no Índice de Acidentes em relação a 2023.
BR-163 em Campo Grande
Dos 15 trechos com mais registros de acidentes da rodovia, 10 são em Campo Grande. Os quilômetros mostram grande incidência de ocorrências na BR-163 quando há fluxo urbano.
Isso porque a rodovia cerca o município, sendo usada como alternativa para o trânsito urbano. Ademais, segue com os veículos pesados que usam a rota intermunicipal.
Ao contrário de São Paulo, que possui um dos rodoanéis mais conhecidos — o Rodoanel Mário Covas — Campo Grande não possui solução para o fluxo misto (de rodovia e urbano).
O rodoanel citado contorna a região metropolitana de São Paulo, interligando as rodovias Dutra, Régis Bittencourt e Anhanguera. E o principal: possibilita aos condutores urbanos alternativas como vias expressas.
Ao Midiamax, a CCR MSVia informou que “mantém o Programa de Redução de Acidentes, em que são realizadas ações educativas, de fiscalização e de engenharia em trechos críticos”. A Concessionária identifica os trechos “a partir de estudos feitos com base em dados estatísticos, em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal”.
Assim, garantiu que “toda a sinalização da BR-163/MS está de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito”. Ademais, sobre o km 485, apontou “melhorias nos trechos em questão, como melhor sinalização horizontal (tachões e faixas) e vertical (placas), além de faixas de aceleração e desaceleração em determinados pontos da rodovia”.

Fluxo de áreas urbanas
Dos 845,9 quilômetros de extensão da BR-163 em MS, 15 trechos concentram mais de 90 acidentes por quilômetro. Nos últimos 11 anos, os maiores registros de ocorrências por km aconteceram em áreas urbanas.
Então, estão concentrados em trechos da rodovia que contornam cidades ou até mesmo passam por dentro dos municípios sul-mato-grossenses.
Tabela do relatório do PRA (Programa de Redução de Acidentes) da CCR MSVia, de janeiro de 2025, aponta que o fluxo de veículos é maior em áreas urbanas.
Ou seja, em áreas onde a BR-163 atravessa cidades sul-mato-grossenses, existe maior circulação de veículos. São carros que usam a estrada para trajeto rodoviário intermunicipal ou interestadual; e também os condutores que habitam no município e trafegam pela rodovia como rota urbana.
Perigo ‘mora’ dentro
Uma das cidades em que a BR-163 adentra o município é Bandeirantes. Distante 70 quilômetros de Campo Grande, a cidade tem duas regiões: a do lado esquerdo da rodovia e a do lado direito.
Com isso, pedestres e ciclistas circulam de um lado para o outro, cruzando a rodovia. O resultado de uma estrada com fluxo de veículos pesados e soluções para o trânsito urbano é o aumento no número de acidentes.
Em novembro de 2024, uma jovem de 20 anos morreu atropelada por um carro no km 548 da rodovia. Arrastada no capô por cerca de 40 metros, faleceu no local do acidente. O caso mobilizou moradores, que cobraram providências e instalação de sinalização.
Morador do município e motorista profissional, Joséias Ferreira, de 61 anos, trafega diariamente na BR-163. “É bem perigosa, a gente tem que ser bem esperto”, disse ao Midiamax.
Entre idas e vindas na rodovia, presenciou diversas ocorrências. “A gente sempre vê acidente. São 13 anos para lá e para cá, sempre passa por um por outro”, lamentou.

Duplicação é sonho distante
Enquanto dirige pela rodovia, Joséias sonha com a duplicação da BR-163. “Se fosse duplicado, era bem melhor, menos perigoso. Mas não sei, vai duplicar”.
A alternativa traria mais segurança para os condutores. Exemplos citados pela reportagem são parâmetros entre os motoristas que já saíram do Estado e aguardam o tipo de melhoria na BR-163.
“Você pode ver essa Rodovia Marechal Rondon (SP-300) lá de São Paulo. Lá você vê que passa o dobro do carro daqui, não tem acidente. Por quê? Porque é duplicada, bem sinalizada, separada a via”, citou o motorista.
Enquanto isso, as mudanças ficam apenas na expectativa para MS. “A duplicação aqui vai ser um sonho para um futuro, e bem longe, uns 50 anos mais ou menos. Sonho distante. Sonho distante”, frisou Joséias ao Midiamax.
Repactuação e leilão
Então, houve manifestação para relicitação da concessão. Os questionamentos e solicitações chegaram ao TCU (Tribunal de Contas da União). Em novembro de 2024, a maioria dos ministros votou pela repactuação do contrato de concessão. Meses depois, em 30 de janeiro de 2025, a ANTT lançou o edital de leilão da BR-163 em MS.
A solução promete o avanço das obras sem a necessidade de um processo de relicitação — tentativa de driblar o atraso das melhorias aguardadas para a rodovia. A repactuação aponta mudanças nas obrigações de investimentos. Entre elas, a redução dos trechos a serem duplicados.
Antes prevista a duplicação de 806,3 km no contrato original, agora serão 203 km nos novos termos.
Ou seja, os condutores terão menos de 50% da rodovia duplicada. Ainda que 203 quilômetros sejam duplicados, junto aos 150 quilômetros que contêm a duplicação, apenas 41% da estrada terá este tipo de melhoria — que promove segurança aos condutores.
Por fim, a Concessionária confirmou ao Midiamax a participação no leilão. “A participação da Concessionária no leilão se dará na forma do Edital de Processo Competitivo nº 1/2025. A CCR MSVia reafirma o cumprimento integral de suas obrigações contratuais e sua dedicação à operação e manutenção da rodovia, com foco na segurança e na qualidade dos serviços aos clientes”.
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