Oficial de Justiça do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) fez batida em reunião política realizada no último dia 20 de setembro, no comitê central do candidato do PSDB à prefeitura de Campo Grande, Beto Pereira.
A reunião ocorreu seis dias antes da reportagem do Jornal Midiamax revelar denúncias do despachante David Cloky Hoffaman Chita de que Beto Pereira seria o chefe do esquema de fraudes no órgão.
A fiscalização ocorreu após denúncia de que servidores do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito) teriam sido coagidos a comparecerem em reunião no comitê central de Beto Pereira, na Avenida Calógeras, 950. Ainda, que deveriam estar uniformizados no QG do tucano.
O denunciante anexou prints de mensagens compartilhadas em grupo de funcionários do CEI do Detran, que é a creche que fica dentro do órgão. As imagens mostram a ‘pressão’ para comparecer à reunião, com direito até a lista de presença e mensagens reforçando a importância da participação.
Além disso, a mensagem é clara ao dizer que a reunião é destinada aos funcionários do Detran. “Amanhã os funcionários do Detran estarão nesta reunião com o Beto Pereira“.
Diante das provas anexadas, o juiz Albino Coimbra Neto, da 35ª Zona Eleitoral de Campo Grande, determinou que o oficial de Justiça realizasse constatação para verificar se os funcionários confirmariam coação, se estariam uniformizados, assim como eventual lista de presença ou outra forma de controle, que evidenciaria pressão para comparecimento dos servidores.
Conforme auto de constatação juntado no processo, o oficial alega que chegou quando a reunião já havia ‘recém-finalizada, com dispersão de dezenas de participantes’.
Dessa forma, diz no documento oficial que interrogou seis pessoas para saber se a participação deles havia sido voluntária, ou não, e se havia lista de presença. Todos confirmaram serem funcionários do Detran-MS, confirmaram que receberam convite pelo WhatsApp e o oficial de Justiça afirmou ao juiz que sequer teve acesso ao texto do convite.
Então, o magistrado arquivou a denúncia.
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A reportagem questionou o candidato Beto Pereira e a assessoria de comunicação da campanha do PSDB para se pronunciar sobre as denúncias, mas não obtivemos respostas até esta publicação. No entanto, o espaço segue aberto para posicionamentos.
Despachante aponta Beto Pereira como chefe de corrupção no Detran-MS
Pedido de delação premiada proposto por David ao MPMS (Ministério Público de MS) aponta conluio de membros do MP, delegados e políticos para blindar o chefe do esquema de fraudes no órgão de trânsito, que seria Beto Pereira.
Ao Jornal Midiamax, servidores que terão identidade preservada confirmaram que fraudes no órgão se intensificaram no ano de 2023, após nomeações que teriam sido feitas por influência de Beto Pereira.
Reportagem publicada nesta segunda-feira (30) pelo Jornal Midiamax mostra que nomeações foram feitas em sequência, no início de 2023, poucos dias após reunião em que David afirma ter sido convidado por Beto Pereira para impulsionar o esquema.
Primeiro foi a prima de Beto, Priscila Rezende de Rezende, que assumiu a diretoria de registro de veículos em 17 de janeiro de 2023. Logo depois, em 23 de janeiro, saiu nomeação de Juvenal de Assunção Neto para cargo de diretor-adjunto. Por fim, em 2 de fevereiro, Yasmin Osório Cabral é nomeada. Ela está em prisão domiciliar por fraudes no sistema.
Conforme a denúncia, o acordo seria uma troca. Beto Pereira usaria sua influência para facilitar o esquema dentro do Detran-MS e blindagem em troca de pagamentos mensais para turbinar o caixa não-oficial de sua campanha.
Chita aponta que fez vários pagamentos mensais de R$ 30 mil ao tucano, que queria receber até R$ 300 mil na reta final da campanha.
Fontes dentro do Detran-MS revelaram que o assessor direto e ‘braço direito’ do parlamentar tucano, Thiago Gonçalves, ‘não saía de dentro’ do órgão e se tornou figura comum nos corredores, mesmo não sendo nomeado.
Esquema já existia e ganhou força
O esquema de propinas e fraude no sistema de cadastro do Detran-MS não é novo e foi denunciado antecipadamente em reportagem do Núcleo de Jornalismo Investigativo do Jornal Midiamax em 2020. Na época, esquema para anular multas de ‘playboys’ mostrou a corrupção dentro do órgão. Operação policial confirmou as denúncias e até chegou a alguns servidores, mas a suposta blindagem de políticos na atuação do MPMS e de delegados de polícia manteve o grupo a salvo.
Então, no início já de 2023 o esquema de fraudes ganha força e logo entra na mira da Cotra.
Os planos do grupo eram derrubar um delegado, mas como isso não ocorreu, as alterações suspeitas feitas no sistema ficam escancaradas e começam a ser alvos de ações policiais.
Somente entre o fim de 2022 e início de 2024 foram cinco ações policiais contra o mesmo esquema de fraudes, que não chegaram aos ‘padrinhos poderosos’, segundo revelaram fontes.
Assim, em 14 de junho de 2023, com poucos meses de atuação da ‘nova quadrilha’, a Polícia Civil deflagra a Operação Gravame. Já em 29 de junho, desdobramento da Gravame, a Operação Miríade já dava indícios de que o grupo criminoso contava com ‘blindagem’.
Poucos dias depois, em 12 de julho, a Operação 4º Eixo é deflagrada por constatar fraudes em mais agências do interior.
