Edital publicado nesta sexta-feira (26) torna pública investigação sobre impactos de construções no entorno do Complexo dos Poderes, em Campo Grande. A 34ª Promotoria de Justiça, do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), conduz os trabalhos.

A apuração foi aberta enquanto protestos sobre riscos de desmates dentro do Parque dos Poderes e da retomada de proposta para tombamento do Complexo dos Poderes ganharam evidência.

A princípio, o edital assinado pelo promotor Luiz Antônio Freitas de Almeida na quinta-feira (25) trata apenas da apuração sobre “eventuais impactos ambientais relativos à drenagem na região do Complexo dos Poderes, provenientes da edificação de condomínios ou empreendimentos que estão no seu entorno”. O documento integra o Diário Oficial do MPMS desta sexta.

A investigação, porém, começou ainda em 2023, quando foi instaurada notícia de fato sobre o caso no Complexo dos Poderes. Questionamentos feitos aos órgãos competentes até aqui – Planurb (Instituto Municipal de Planejamento), Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) e Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) –, porém, foram além dos impactos de drenagem. Eles incluíram, por exemplo, os efeitos no trânsito.

Acionado, o Imasul informou ao promotor que, desde 2020, termo de cooperação transfere à prefeitura a competência quanto ao licenciamento ambiental de condomínios. Dessa forma, o instituto se manifesta apenas mediante demanda de processos requeridos no órgão ambiental municipal.

Imasul soma 5 manifestações sobre licenciamentos

Entre 2020 e 2023, por exemplo, o Imasul emitiu pareceres para licenciamentos na zona de amortecimento do Parque Estadual do Prosa para cinco empreendimentos. Entre residenciais, loteamento e centro comercial, eles estão localizados na Avenida do Poeta, Rua Presidente Manoel Ferraz de Campos Salles e Rua Rio Doce.

Um condomínio na Avenida do Poeta teve manifestação contrária. Os demais obtiveram manifestação favorável sob condicionantes.

Acionada pelo MPMS, a Semadur, primeiramente, explicou o que é uma “zona de amortecimento”. Trata-se da área de entorno de uma UC (unidade de conservação) na qual são restritas as atividades humanas. Estas ficam sujeitas e normas e restrições para minimizar os impactos na UC de referência.

No caso do Parque Estadual do Prosa, instituiu-se uma área de influência no entorno da UC para funcionar como uma “zona tampão”. Assim, nessa área, que se estende para regiões como o Jardim Veraneio e o Parque das Nações Indígenas, há “disposições de usos específicos diferenciados. Isso de acordo com o Plano de Manejo específico”.

Semadur apontou existência de 'zona tampão' em parte do Complexo dos Poderes (Reprodução)
Semadur apontou existência de ‘zona tampão’ em parte do Complexo dos Poderes (Reprodução)

Em ofício assinado em 31 de agosto de 2023, apontava-se nas imediações do Parque Estadual do Prosa a tramitação de 4 processos de licenciamento ambiental referentes a empreendimentos imobiliários no órgão ambiental municipal. Juntos, eles totalizam 237 unidades.

Planurb fez 18 apontamentos no entorno do Complexo dos Poderes

Uma das últimas movimentações da notícia de fato, em 9 de fevereiro deste ano, trata do recebimento de informações do Planurb sobre o total de GDUs (Guias de Diretrizes Urbanísticas) emitidas no entorno do Parque Estadual do Prosa. Embora o órgão apontou 18, detalhou apenas 17 na resposta.

Alguns dos documentos têm mais de 10 anos. É o caso da GUIV 81/2011, que trata de um clube social; da GUIV 97/2013, referente a um multirresidencial de 76 unidades; e da 125/10, que trata da regularização de área de equoterapia.

Documentos referentes a órgãos públicos também integram a resposta do Planurb. A GDU 133/2010, por exemplo, fala do Centro de Pesquisa e de Reabilitação da Ictiofauna Pantaneira e Aquário (Bioparque Pantanal). A GDU 133/2018, da construção do Centro de Atendimento e Fiscalização da Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda). A 39/2023, sobre a ampliação da sede do MPMS; e a 91/2019, da construção de edifício de 10 mil metros quadrados para a Procuradoria-Geral do Estado.

Ainda foi solicitado que o Núcleo Ambiental da Semadur informe sobre a possibilidade de apoio técnico para apuração do impacto sinérgico (a capacidade de um efeito específico induzir a ocorrência de um novo, ao interagir com outro, associado ou não ao mesmo empreendimento ou atividade, conforme o Instituto Brasileiro de Estudos Ambientais).

Desmate de áreas e tombamento em debate

O uso de áreas dentro do Complexo dos Poderes, mais especificamente no Parque dos Poderes, criou uma questão sensível entre poder público e ambientalistas. O próprio MPMS se viu no olho do furacão, quando costurou acordo com o Governo do Estado que libera o desmatamento de 28 hectares na região.

O próprio promotor Luiz Antônio Freitas de Almeida se manifestou a favor de argumento do Estado contra decisão que anulou o trato. Isso porque a medida foi assinada por juíza que não estaria designada para responder pelo processo no caso da ausência do titular. O acordo serviria para “esquentar” desmatamento feito sem autorização.

Ao mesmo tempo, a vereadora Luiza Ribeiro (PT) busca apoio ao tombamento do Complexo dos Poderes. A medida, já apresentada por ela na Câmara Municipal, visa a garantir a preservação da área, que contaria com espécies de outros biomas, como da Mata Atlântica.