Prefeito de Ponta Porã adota manobra para maquiar bens e fica R$ 2,8 milhões mais ‘pobre’

‘Brecha’ faz candidatos parecerem menos ricos do que realmente são

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Prefeito de Ponta Porã e candidato à reeleição, Eduardo Campos (PSDB) (Reprodução, Instagram)

Um dos dados públicos disponíveis nas eleições sãos os bens dos candidatos. Assim, qualquer eleitor pode consultar o que cada pretendente a cargos eletivos possui, por meio da plataforma DivulgaCand, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Trata-se de ferramenta importante que pode revelar evolução patrimonial inconsistente com os rendimentos do candidato, bem como possíveis conflitos de interesse, caso seja eleito.

Então, chamou atenção de eleitores de Ponta Porã, a 345 km de Campo Grande, o ‘empobrecimento’ do candidato à reeleição, Eduardo Esgaib Campos (PSDB). Ele ‘perdeu’ R$ 2,8 milhões em bens na comparação das eleições de 2020 para este ano.

Porém, trata-se de manobra para ‘maquiar’ o real valor dos bens declarados à Justiça Eleitoral. Isso porque regras permitem ocultar a valorização de bens, que resulta na subavaliação dos bens do candidato.

Nas eleições passadas, em que foi eleito vice-prefeito na chapa com Hélio Peluffo (PSDB), Eduardo Campos declarou possuir R$ 6.018.373,62 em bens. Ele assumiu como prefeito em janeiro de 2023, quando Peluffo assumiu a Secretaria de Infraestrutura e Logística de Mato Grosso do Sul.

Já este ano, como candidato à reeleição, Campos informou possuir ‘apenas’ R$ 3.154.478,65.

Diferença nos valores dos bens de Eduardo Campos nas eleições de 2020 (esquerda) e para 2024 (Reprodução, DivulgaCand TSE)

Ele mesmo confirmou a manobra à reportagem. “A diferença está que na eleição de 2020 constou na declaração de bens assinada pelo candidato o valor de mercado do patrimônio, enquanto nesta, optamos por apresentar a declaração de IR que traz o valor fiscal. Daí a equivocada impressão de que o patrimônio teria reduzido”, disse o prefeito ao Jornal Midiamax.

Eleição após eleição, os candidatos declaram ao TSE imóveis e outros bens pelo valor da compra, ignorando a valorização dessas propriedades ao longo do tempo. Essa manobra permite que os candidatos pareçam menos ricos do que realmente são, como é o caso de Eduardo Campos.

Advogado especialista em direito eleitoral ouvido pela reportagem confirmou que é permitido informar valores declarados à Receita Federal.

Para isso, Campos se aproveitou de ‘brecha’ no Fisco. Isso porque a Receita Federal exige que seja declarado valor de aquisição do imóvel, para ajudar na taxação da diferença entre o preço original e o de venda.

Mas, nada impede que o candidato informe o real valor do bem para dar mais transparência, caso venha a ser eleito e ocupe cargo público.

Leia também – Ponta Porã: Filho do presidente da Câmara ganhou contrato de R$ 5,4 milhões na gestão de Eduardo Campos

Na ‘prática’, o valor é outro

A declaração de bens dos candidatos não tem efeito prático para a Justiça Eleitoral, que não faz análise para atestar a veracidade das informações prestadas pelo candidato. No entanto, o Ministério Público ou qualquer cidadão pode fazer representação, caso encontre alguma inconsistência.

Mas, ao comparar item por item, é possível perceber a discrepância de valores nos bens do prefeito Eduardo Campos. Por exemplo, nas últimas eleições, a declaração do tucano informa uma casa na rua Duque de Caxias pelo valor de R$ 313.891,23. Porém, ao informar apenas o valor fiscal, o imóvel passa a constar valendo R$ 32.960,74.

Ou seja, o imóvel ‘perdeu’ 89,4% do valor.

Outra informação que ‘saltou aos olhos’ dos eleitores foram dois imóveis rurais que valem R$ 12 mil. Que também tiveram valor fiscal declarado.

“O imóvel rural, adquirido em 1999 e 2001, e a casa na Rua Duque de Caxias, adquirida em 1966, foram lançados em minha declaração de imposto de renda com os valores da época, não tendo sido promovida a alteração de tais valores por conta de valorização de mercado porque isso não é permitido pela Receita Federal”, disse o candidato.

Um imóvel localizado na Rua 7 de Setembro, naquele município, de propriedade de Eduardo Campos, havia sido declarado com valor de mercado de R$ 465.726,53 em 2020. Agora, o mesmo imóvel aparece por R$ 36.473,50.

Essa defasagem não é ilegal, mas acaba sendo favorecida pela falta de regras claras para as eleições.

Denúncia de omissão de valor

Chegou ao Jornal Midiamax denúncia de que Eduardo Campos estaria omitindo o real valor de um terreno localizado no Riviera Boulevard Residence e Resort, condomínio de luxo em Ponta Porã.

Eduardo Campos afirma que pagou R$ 240 mil em terreno no Riviera Boulevard Residence e Resort (Divulgação)

Isso porque, consta na declaração de bens do candidato o valor de R$ 45 mil.

À reportagem, Campos afirmou que são informações do Fisco. Assim, o prefeito apontou que o valor informado trata-se apenas das parcelas pagas e que adquiriu o terreno por R$ 240 mil.

No entanto, em sites de venda de imóveis não é possível encontrar terrenos abaixo dos R$ 330 mil.

Em contato com a corretora Lotus, foi informado que o terreno mais barato no condomínio custa R$ 396 mil. Dependendo da localização e tamanho, o comprador pode ter que desembolsar quantias superiores a R$ 500 mil.

Questionado pela reportagem sobre a diferença de valores, Campos disse que pagou o “valor que me ofereceram e que estou pagando”.

Menos informações

Essa é a primeira eleição com vigência da LGPD – que começou a vigorar em setembro de 2020. Logo, o eleitor tem acesso a menos detalhes sobre o patrimônio dos candidatos.

Por exemplo, na descrição do item, são disponibilizadas informações genéricas como terreno, casa ou veículo automotor. O TSE considerou que, por questões de segurança, não iria mais disponibilizar dados pessoais dos candidatos, como número da casa ou do apartamento, por exemplo.

Últimas Notícias

Conteúdos relacionados

prefeitura de iguatemi