O concurso da prefeitura de Corumbá que prevê contratação de 645 novos servidores recebeu 1.469 pedidos de recurso da prova objetiva. Polêmica envolve a participação de familiares do prefeito Marcelo Iunes (PSDB), secretários e parentes de secretários.

Segundo a Fapec (Fundação de Apoio à Pesquisa, ao Ensino e à Cultura), o resultado referente aos recursos da prova objetiva já foram publicados na ‘área do candidato’ de cada inscrito que entrou com o pedido de recurso.

Também houve 15 pedidos de recurso sobre a prova escrita. Estes resultados serão publicados para os autores na ‘área do candidato’ na segunda-feira (13).

Polêmica do resultado

O resultado preliminar da prova escrita foi publicado em Diário Oficial desta quarta-feira (8). Chamou atenção o fato de um irmão do secretário de finanças ter alcançado a nota máxima.

Conforme a publicação, Luiz Álvaro Maia de Paula, irmão do secretário de finanças do município, Luiz Henrique Maia de Paula, obteve a maior nota para o cargo de analista de gestão governamental. Ele pleiteava o cargo com vencimento básico a partir de R$ 4.968,32, mas que pode chegar a R$ 7.452,00 com o adicional de 50%. O próprio secretário se inscreveu para o certame, para o cargo de auditor, mas não compareceu à prova.

Quem também faz parte da gestão e participou do concurso foi o diretor da fundação de esportes de Corumbá, Luciano Silva de Oliveira. Ele obteve a 9ª melhor pontuação para o cargo de gestor de atividades institucionais (profissional de educação física).

Por outro lado, Marconi de Souza Júnior, que preside a agência municipal portuária, e a diretora da fundação do meio ambiente do Pantanal, Ana Cláudia Moreira Boabaid, reprovaram. Já o responsável pela fundação da cultura e patrimônio histórico, Joilson Silva da Cruz, não compareceu para fazer a prova.

Vale ressaltar que não há impedimento legal na participação de familiares e secretários. No entanto, a inscrição em peso de pessoas ligadas à alta cúpula da gestão do prefeito do PSDB levantou suspeitas dos candidatos e gerou até denúncia de vereador no município.

O prefeito atendeu o Jornal Midiamax na manhã desta quarta-feira (8). “Nada a declarar, qualquer um poderia prestar o concurso, parabéns para ele”, disse sobre o concursando.

Até primeira-dama participou de concurso

Marcelo e Amanda Iunes. (Reprodução Redes Sociais)

No caso dos familiares, a primeira-dama Amanda Iunes fez prova para concorrer ao cargo de Analista de Gestão Governamental – Ciências Econômicas, cujo salário pode chegar a R$ 7.454,51 (vencimento base de R$ 4.968,34 + adicional de 50%). Porém, reprovou por não obter nota suficiente.

Já o irmão do prefeito, José Batista Aguillar Iunes, se inscreveu para a vaga de biomédico, que pagará o salário de R$ 4.489,27, mas não conseguiu a nota mínima necessária para estar apto ao cargo. O mesmo irmão já viu a empresa J.B.A Iunes (José Batista Aguilar Iunes) – conhecida como Citolab Laboratórios – ser alvo de mandado de busca e apreensão em 2020 durante investigações sobre desvio de dinheiro público. 

A sobrinha do prefeito, Bianca Garcia Iunes, também concorre a uma vaga no cargo de Técnico de Atividades Organizacionais I (Técnico de Atividades Organizacionais I). O vencimento, neste caso, é de R$ 2.233,77. Ela também não conseguiu aprovação.

A reportagem solicitou posicionamento oficial da prefeitura sobre as denúncias, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria. O prefeito Marcelo Iunes também foi procurado para comentar o resultado do concurso, mas não atendeu às ligações e não respondeu às mensagens. O espaço segue aberto para posicionamento.

Após denúncias, certame é investigado

Com reclamação de candidatos sobre quebra de isonomia – que nada mais é a garantia de que a lei seja aplicada igualmente entre os cidadãos –, uma vez que pessoas do alto escalão da gestão municipal poderiam ser favorecidas de alguma forma, denúncias foram protocoladas para autoridades investigarem.

Uma delas já consta no sistema do TCE-MS (Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul) e foi encaminhada ao gabinete da presidência para análise, segundo informou a Corte ao Jornal Midiamax.

A Fapec – organizadora do concurso – foi procurada pela reportagem para comentar a investigação de possível irregularidade. Nesta sexta-feira (10), informou que “a Fapec vem cumprindo com todos os ritos de legalidade, transparência e segurança, encaminhando denúncias e estando em contato direto com o órgão regulador, o MPE/MS, assim como já informado a esse veículo de reportagem, o que garante total legalidade ao concurso em questão”.