A Comissão Regional de Soluções Fundiárias do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) realizou visita técnica a fazendas de Antônio João – a 295 km de Campo Grande – em área revindicada por indígenas guaranis-kaiowás. Na região, com áreas ocupadas desde setembro de 2023, um grupo da etnia pretende implantar a terra indígena Ñande Ru Marangatu.

Conforme a assessoria da JFMS (Justiça Federal de Mato Grosso do Sul), foi a primeira vez que um juiz federal esteve no local em mais de 25 anos de conflito entre indígenas e proprietários rurais. A vista foi realizada pelo juiz federal Rodrigo Vaslin, da 1ª Vara Federal de Naviraí, membro titular da Comissão Regional de Soluções Fundiárias.

As ações nas quais proprietários e indígenas disputam a posse das terras da Ñande Ru Marangatu tramitam em Ponta Porã. “Fomos impactados pela situação dramática vivida pelos dois lados, ao longo de mais de 25 anos. Esse é um caso que não pode mais esperar porque as partes ficam numa situação de insegurança jurídica”, afirmou o juiz federal.

A situação, ainda conforme o magistrado, cria um impasse entre os envolvidos. De um lado, fazendeiros têm receio de investir no plantio de grãos sobre a incerteza quanto ao futuro. Do outro, indígenas encontram dificuldades em obter apoio do poder público para a instalação, por exemplo, de escola e poço artesiano. Isso porque as terras cobradas para a Ñande Ru Marangatu são palco de litígio.

Indígenas estão em fazenda que faria parte da Ñande Ru Marangatu desde setembro de 2023 (JFMS, Divulgação)
Indígenas estão em fazenda que faria parte da Ñande Ru Marangatu desde setembro de 2023 (JFMS, Divulgação)

“Os ânimos estão aflorados dos dois lados, que suplicam por uma solução”, pontuou Vaslin. O juiz disse ter sido bem recebido por indígenas e produtores rurais. Ambos frisaram ser a primeira vez que um juiz foi ao local do conflito.

Conflito na Ñande Ru Marangatu existe desde 1998

O conflito na Ñande Ru Marangatu existe desde 1998. Em 2005, houve a homologação da terra indígena, contudo, o decreto foi suspenso.

Então, em setembro de 2023, um grupo de indígenas invadiu a Fazenda Fronteira, de 1,4 mil hectares, sendo 400 deles destinados ao plantio de soja. A Polícia Militar, ainda segundo a JFMS, realiza rondas permanentes na região diante do temor de que a tensão aumente.

Pedido de reintegração de posse teve acolhimento em 19 de dezembro de 2023, em decisão liminar da Justiça Federal de Ponta Porã. Contudo, o TRF3, na sequência, suspendeu a decisão. O processo da Ñande Ru Marangatu chegou à Comissão de Soluções Fundiárias em janeiro de 2024, que em março passado determinou a realização da visita técnica.