Em um vídeo gravado durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão em sua residência na manhã desta terça-feira (10), o prefeito de Corumbá e candidato á reeleição Marcelo Iunes (PSDB) afirmou que a operação está relacionada ao laboratório Citolab, investigado também pelo MPMS (Ministério Público Estadual). Ele concedeu breve entrevista e, em seguida, saiu em seu veículo sem dar mais explicações.

“Não aconteceu nada. Não, não, é investigação do laboratório. E minha esposa era dona do laboratório e eles estão vendo documentação”, respondeu Iunes a uma pessoa que o filmava pelo celular.

Informações preliminares apontam que o envolvimento do Citolab pode estar relacionado a uso indevido de recursos federais destinados à Covid-19. Todavia, a PF não confirmou as informações – os mandados de busca e apreensão foram expedidos pelo TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região), a partir de investigação que segue em sigilo absoluto.

Além da residência de Marcelo Iunes, a PF também cumpriu mandados na sede da Secretaria Especial de Cidadania, em que a esposa de Iunes está lotada, e um apartamento na região central de Corumbá.

Outro alvo do cumprimento de mandados de busca e apreensão foi a empresa J.B.A Iunes (José Batista Aguilar Iunes), mais conhecida como Citolab Laboratórios, pertencente ao irmão do prefeito Marcelo Iunes (PSDB). A reportagem também apurou que esta seria uma eventual terceira fase da operação, e que teria como alvo, inicialmente, José Aguilar Iunes, irmão de Marcelo Iunes.

Imagens: Ana Marchi, Correio da Manhã 

Laboratório investigado

Um dos locais alvo da PF, o laboratório Citolab, está associado ao nome de Marcelo Iunes (PSDB), que é suspeito de usar familiares como “laranjas” para contratar com quase R$ 1 milhão de verbas municipais e sem licitação um laboratório médico do qual seria o verdadeiro dono.

A esposa de Marcelo Iunes, Amanda Cristiane Balancieri, que Iunes nomeou como secretária especial de Cidadania e Direitos Humanos, saiu da sociedade em 19 de maio de 2017 e transferiu a parte que tinha do laboratório para o irmão do prefeito, João Batista Aguillar Iunes. Amanda deixou de ser oficialmente sócia no mesmo ano em que Marcelo assumiu o cargo, segundo a Junta Comercial de Mato Grosso do Sul. O prédio em que a primeira-dama está lotado também foi alvo de buscas.

Vale lembrar que o total de pagamentos da Prefeitura para o negócio da família de Marcelo Iunes saltou de R$ 271.873,55 para R$ 442.614,63 entre 2017 e 2018, segundo dados oficiais do Portal da Transparência. Após reportagem do Jornal Midiamax, a Justiça determinou que a prefeitura de Corumbá suspendesse os contratos com o referido laboratório.

Posicionamento

A reportagem solicitou posicionamento à Prefeitura de Corumbá acerca do cumprimento de mandados de busca e apreensão, que tiveram como alvos o prédio da Secretaria e a residência de Marcelo Iunes (PSDB), prefeito do município. Em nota, a assessoria pontuou que a Prefeitura “não vê nenhum fato novo que motivasse a operação policial às vésperas do pleito eleitoral, mas ainda assim se coloca à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento que seja necessário”. Confira-a na íntegra:

“Sobre a ação da Polícia Federal realizada em Corumbá nesta terça-feira, 10 de novembro, a Prefeitura de Corumbá esclarece que:

Pela imprensa, tomou conhecimento que a investigação é relacionada ao processo de credenciamento do Executivo municipal com o laboratório Citolab. O fato causou estranheza porque o mesmo objeto já foi averiguado pelo Ministério Público Estadual (MPE) e pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS), sendo arquivado por ambos.

No despacho de arquivamento dos autos n° 01.2018.00006204-5, o promotor Luciano Bordignon Conte afirmou que “as imputações genéricas de que a empresa pertencia de fato à esposa do prefeito e somente estaria registrada em nome de um “laranja” não encontram respaldo em qualquer elemento fático probatório, a não ser nas elucubrações infundadas do representante”.

Já o TCE-MS assegurou que “… temos que o objetivo da Inspeção foi atingido, eis que foram examinadas a legalidade e a legitimidade dos atos sujeitos ao controle desta Corte de Contas e foi avaliado o desempenho na utilização do Credenciamento pela Secretaria de Saúde no atendimento as necessidades de serviço de exames laboratoriais em Corumbá”.

O Tribunal ainda pontuou que “…verificamos que houve o credenciamento de outras empresas (para lotes distintos), e que estas também receberam da mesma forma que a empresa JBA Iunes, ou seja, somando-se o valor do SUS com o valor da complementação aprovada pelo Conselho Municipal de Saúde, o que corresponde ao valor da Tabela Municipal”.

“Também verificamos que a questão do parentesco dos ex-sócios e do atual com o Prefeito já foi objeto de análise pelo Ministério Público, que arquivou a notícia de fato por entender que inexiste irregularidade”, completou a manifestação do TC/4280/2019.

Mesmo com as decisões do MPE e do TCE-MS, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) suspendeu, em junho deste ano, o credenciamento da Citolab. A Prefeitura apresentou defesa e o processo está tramitando na Justiça Estadual.

Desta forma, o Executivo municipal não vê nenhum fato novo que motivasse a operação policial às vésperas do pleito eleitoral, mas ainda assim se coloca à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento que seja necessário”.

(Alterada às 11h40 para acréscimo do posicionamento da Prefeitura de Corumbá)