Investigação implica filho de Reinaldo em transição de esquema de propina no Detran-MS
Escutas telefônicas indicariam participação de Rodrigo Silva, filho de Reinaldo Azambuja, em articulação para manter negociata no Detran-MS
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Indícios apontados pelas investigações no âmbito da Operação Motor de Lama implicam o filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), Rodrigo Souza e Silva, na transição de esquema de pagamento de propina no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito). Ele foi alvo de mandados de busca e apreensão nesta terça-feira (24).
O esquema investigado consiste no favorecimento da Ice Cartões Especiais Ltda em licitação para emissão de CNHs (Carteiras Nacionais de Habilitação), rastreamento e monitoramento de lacres de segurança em placas veiculares. A empresa abocanhou o contrato, de R$ 152,3 milhões, em 2014.
Em contrapartida, a Ice pagava propina correspondente a até 10% sobre o valor recebido pelos serviços prestados. O repasse era feito via empresas de tecnologia e informática ligadas a Antonio Celso Cortez e João Roberto Baird. A dupla foi alvo de medidas de restrição de liberdade alternativas à prisão nesta fase da Operação Lama Asfáltica. Assim, está impedida de mudar de endereço e deixar o País.
As investigações conseguiram rastrear ao menos um beneficiário da propina – André Luiz Cance, ex-secretário-adjunto de Estado de Fazenda. Cance operava o esquema e ficava com 1% do que a Ice Cartões recebia pelo contrato.
‘Grampos’ indicam participação de Rodrigo
Rodrigo Souza e Silva foi flagrado em interceptação telefônica, em dezembro de 2014, quando falava com Cance. Àquela altura, seu pai Reinaldo se preparava para assumir o governo estadual.
O diálogo indica a marcação de um encontro com Antonio Ignacio de Jesus Filho, sócio da Ice, em São Paulo (SP). Rodrigo e André Cance teriam se deslocado até a capital paulista no dia seguinte à ligação, à bordo da aeronave Phenon PP-JJB, de Baird e João Alberto Krampe Amorim dos Santos, o João Amorim. O avião ficou conhecido pelo apelido de “Cheia de Charme” após ser apreendido na segunda fase da Lama Asfáltica, a Operação Fazendas de Lama.
Os investigadores acreditam que Rodrigo e Cance foram até São Paulo para tratar da manutenção e, consequentemente, da transição da negociata com a Ice Cartões no Detran-MS.
A mesma viagem teria sido aproveitada para tratar de outro esquema de pagamentos de propina, desta vez, pelo grupo JBS. O favorecido seria o próprio Reinaldo Azambuja, já denunciado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) junto com o filho e implicado em corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Interceptações telefônicas da Lama Asfáltica também sustentaram a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) contra Reinaldo, Rodrigo e mais 22 pessoas. Conversas gravadas entre dezembro de 2014 e janeiro de 2015 mostram o agendamento de encontros para tratar da manutenção do esquema com a JBS, bem como provam o papel dos operadores em favor de Reinaldo Azambuja.
‘Polaco’ pode ser elo entre negociata no Detran-MS e ‘bois de papel’
Outro elo entre o esquema no Detran-MS e os pagamentos ilícitos da JBS ao governador de Mato Grosso do Sul é José Ricardo Guitti Guimaro, o “Polaco”. Ele teve sigilo bancário e fiscal quebrado pelo juízo da 3ª Vara Federal de Campo Grande, no bojo da Motor de Lama.
As investigações revelam transferências que somam R$ 1,930 milhão da conta de Antonio Celso Cortez para a Polaco, em 2015 e 2016. À medida que os repasses para Polaco crescem, os pagamentos para André Cance diminuem, o que, para os investigadores, ratifica a transição do esquema.
Polaco foi denunciado juntamente com Reinaldo e Rodrigo no âmbito da Operação Vostok. Ele é apontado como arrecadador de propina do filho do governador, que teria recebido R$ 67,7 milhões, entre 2014 e 2016, via doações de campanha e emissão de notas fiscais “frias” de venda de gado. Em algumas ocasiões, as remessas de dinheiro recolhidas da JBS seriam entregues pessoalmente por Polaco a Rodrigo.
‘Motor de Lama’
A sétima fase da Operação Lama Asfáltica, batizada como “Motor de Lama”, investe contra 15 alvos. Investigados em fases anteriores da ofensiva voltaram à mira.
A Polícia Federal, junto com agentes da Receita Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União), cumpriram mandados de busca e apreensão em endereços ligados a João Roberto Baird, João Amorim, Antônio Celso Cortez e Antonio Celso Cortez Júnior, André Cance, e Rodrigo Souza e Silva. Além deles, também foram alvos Quirino Piccoli, dono da CQP Transportes Ltda e a Transpiccoli Transporte Ltda, e Alexandre Souza Donatoni, apontado como “testa de ferro” de Baird.
Após o pagamento da propina, o esquema culminava com a evasão de divisas para o Paraguai através de operações financeiras semelhantes ao método conhecido como “dólar-cabo”. Neste sistema, os recursos são transferidos de forma eletrônica para o exterior, através de uma rede de doleiros.
As fraudes e propinas pagas a integrantes da organização criminosa levam a um prejuízo de pelo menos R$ 400 milhões, se consideradas as sete fases da operação.
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