Correspondência anônima, entregue no TJ, diz que promotor vazava informações sigilosas
O promotor de Justiça Marcos Alex Vera de Oliveira, ex-chefe do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), disse ser ele “o maior interessado” em descobrir quem foi o responsável pelo envio de uma correspondência que teria saído do prédio do MPE (Ministério Público Estadual), no Parque dos Poderes, em Campo Grande, e seguido até a sede do Tribunal de Justiça, a uns mil metros dali, onde foi entregue ao desembargador Paulo Alberto Oliveira.
O conteúdo da mensagem, com erros grosseiros, segundo o promotor, tentariam implicá-lo no suposto vazamento de informações do MPE-MS para a imprensa. Vazar informações captadas em processos tocados em segredo judicial é prática criminosa, segundo resolução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça)
“Quero apuração rápida, estamos dando suporte à polícia para que se chegue logo ao autor”, disse Marcos Alex, que ocupa desde maio passado função burocrática, a de secretário-geral do MPE. Antes, era dele a missão de comandar o Gaeco, braço forte do MPE nas investidas contra o crime organizado.
Alex disse não ter a “menor ideia” de quem possa ter enviado a correspondência para o desembargador Paulo Alberto, que já foi comandante do MPE.
Dentro do envelope que teria saído do prédio do MPE, havia cópias de mensagens que teriam sido emitidas por Alex a determinados órgãos de imprensa. Os papéis exibem reportagens publicadas na imprensa local, uma delas de 2007. Ainda na correspondência consta que Alex recorria a e-mails para vazar informações. Ocorre que, segundo o promotor, o endereço do e-mail por onde ele estaria mandando dados sigilosos é desconhecido por ele, ou seja, teria sido inventado como tentativa de incriminá-lo.
O caso é investigado pela delegada Ana Cláudia Oliveira Marques Medina, titular da Deco (Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado), que impôs segredo na apuração. Embora a insistência da reportagem, ela recusa tratar do assunto. Limitou-se a dizer que, “quando puder me manifestar estarei à diposição”.
CISÂNEA INTERNA
O sigilo não foi imposto somente pela delegada que cuida da questão. No MPE, a discrição acerca do caso, é tão rigorosa quando a imposta pela delegada. Pelo apurado até agora, a carta emitida pelo suposto desafeto de Marcos Alex, teria saído do gabinete do Procurador Geral de Justiça, Paulo Cezar Passos.
Passos não quis comentar o caso por obedecer o sigilo da investigação, segundo ele, mas alegou que quer pressa no desfecho do episódio. Ele e Marcos Alex cumprem expediente em salas próximas e dialogam diariamente por força dos cargos que exercem.
Servidores ouvidos por Midiamax, que exigiram anonimato, disseram que o MPE vive um período de “cisânea interna”, isto é, grupos de procuradores e promotores, ligadas à cúpula da instituição, estariam “guerreando” por “causas ainda desconhecidas”.
“Estão pondo um contra o outro”, disse uma das fontes consultadas.
INVESTIGAÇÃO
Para chegar a essa conclusão de que a mensagem mandada para o desembargador saiu do gabinete de Paulo Passos, a polícia teve de recorrer ao setor de inteligência da corporação.
Assim que a correspondência foi entregue ao magistrado, no prédio do Tribunal de Justiça, ele quis saber quem seria o mensageiro.
Por meio da análise nas digitais do emissário chegou-se a ele, o motorista do gabinete do vereador Eduardo Romero (Rede, partido Rede Solidária). Os investigadores seguiram até o vereador, na Câmara Municipal.
Lá, segundo os policiais, soube-se que Romero nada tinha a ver com a correspondência. Contudo, um de seus assessores, Jean Fernandes, disse que era o responsável pelo envio da carta, tarefa que cumprira a pedido de sua mulher, Tatiane Armôa, assessora direta do atual chefe do MPE, Paulo Passos.
Inicialmente, Jean afirmou à polícia, que a mensagem teria sido enviada ao desembargador com “conhecimento, participação e anuência” de Passos. Já Tatiane Armôa assumiu que a correspondência foi enviada ao magistrado por vontade dela, eximindo a participação de Passos na participação da suposta trama.
Até agora, o mistério da carta enviada ao desembargador produziu um efeito: Paulo Passos demitiu Tatiane, sua assessora, funcionária do MPE há pelo menos 15 anos. Ela recebia R$ 16 mil mensais.