Empresa afirma não ter negócios com prefeitura de SP

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Quíron Serviços de Engenharia, com sede em Campo Grande (MS), denunciada pelo Ministério Público de São Paulo e Polícia Federal, por integrar um esquema de corrupção que teria causado um rombo milionário nos cofres da prefeitura de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, informou na manhã desta sexta-feira (2), que as atividades da empresa “seguem normalmente”.

De acordo com as investigações, as fraudes ocorriam na Secretaria Municipal e Educação, na Coderp (Companhia de Desenvolvimento de Ribeirão Preto) e no Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto).

Envolvidos na trama, políticos da cidade, entre os quais, firmavam contratos fictícios, incluindo com a empresa de Campo Grande, e o dinheiro arrecadado era usado para o pagamento de propina.

A Quíron não quis se pronunciar por meio de sua direção, apenas enviou um comunicado, por e-mail, à imprensa. Com conteúdo sucinto, a empreiteira confirma que a “Polícia Federal esteve em primeiro de setembro de 2016 em sua sede em Campo Grande e cumpriu mandados de busca e apreensão”.

Na nota é dito o que contraria as declarações dos investigadores do caso: “esclarecemos que não temos contratos com órgãos do município de Ribeirão Preto”, e acrescenta: “reforçamos nossa disposição em colaborar com as autoridades para quaisquer esclarecimentos”.

Fechando o comunicado, a empresa Quíron sustenta que “as atividades da empresa seguem normalmente”.

A reportagem insistiu em ouvir algum diretor da empreiteira, com sede no bairro São Francisco, na manhã desta sexta-feira (2), mas foi informado que ninguém iria falar e o que deveria ser divulgado era o comunicado, apenas.

Toda a investigação tem sido conduzida pelo Ministério Público e Polícia Federal, em Ribeirão Preto. A PF, em Campo Grande, informou que policiais da cidade paulista disseram aqui que iriam cumprir mandado de busca e apreensão, mas não detalharam a operação batizada de Sevandijo (viver à custa alheia), deflagrada nesta quinta-feira (1).

 ESQUEMAS

Segundo delegados da PF e promotores do Gaeco, de Ribeirão Preto, quatro esquemas de desvios de recursos públicos na prefeitura local surgiram durante as investigações na operação iniciada há pouco mais de um ano.

O delegado Flávio Vieitez Reis, da PF, informou ao jornal Estadão que as investigações começaram em julho do ano passado, inicialmente para apurar suspeita de fraude na aquisição e manutenção de catracas para o controle da entrada em escolas municipais, cujas fraudes são estimadas em R$ 26 milhões.

“Empresas concorrentes na licitação eram das mesmas pessoas e ainda não havia escola suficiente para tanta catraca”, disse o delegado. “Temos indícios que a Secretaria de Educação é uma fonte de propina”, emendou.

As investigações na compra e manutenção das catracas levaram a outro esquema envolvendo a Companhia de Desenvolvimento de Ribeirão Preto (Coderp), empresa de capital misto da administração direta.

Segundo o promotor do Gaeco Marcel Zanin Bombardi, Coderp e prefeitura celebravam contratos de repasses de recursos para a contratação de uma empresa uma terceirizada, para prestação de serviços de mão-de-obra.

Assim, cerca de 700 funcionários foram contratados pelo esquema de terceirização, todos apadrinhados de políticos, segundo o promotor. “Esses vereadores passaram a integrar o esquema ilícito montado. Se concluiu em uma compra de apoio político pelo governo municipal, em troca de indicações de pessoas do relacionamento familiar”.

Por meio do esquema iniciado em 2009 e investigado apenas desde 2012, foram feitos contratos e seis aditivos, em um total de R$ 28 milhões. Segundo o delegado Reis, nas investigações informações anônimas apontaram fraudes Daerp, em uma licitação de R$ 68 milhões que com, um aditivo, chegou a R$ 86 milhões.

“Os indícios apontam que o dinheiro voltava como propina a agentes públicos em contratações fictícias de empresas, uma em Ribeirão Preto, outra em Mato Grosso do Sul (a Quíron, no caso)”, afirmou o delegado.

O último esquema foi descoberto acidentalmente nas investigações que envolveram interceptações telefônicas, análise de milhares de documentos, de acordo com Leonardo Romanelli, promotor de Justiça Gaeco, e envolvia o pagamento de propina para a liberação de honorários advocatícios.

O promotor explicou que por conta do plano Collor, o Sindicato dos Servidores venceu uma ação de R$ 800 milhões em 2012 contra o poder público. “Até agora foram pagos mais de R$ 300 milhões aos servidores e R$ 40 milhões aos honorários, mas maus agentes públicos exigiam propina para que advogados recebessem tão logo fossem liberados os recursos”.