Tapa-buraco nas ruas da Capital: ‘tem que reclamar com os patrões’, diz operário

Funcionários que trabalham em empresas de tapa-buracos estão preocupados com a repercussão do vídeo no qual um trabalhador aparece cobrindo um ‘buraco fantasma’, no Jardim Veraneio, em Campo Grande. Um homem, dizendo-se operário deste tipo de serviço na Capital e que preferiu não se identificar, entrou em contato com o Jornal Midiamax dizendo que ele e os colegas de trabalho têm sido alvos de xingamentos e ameaças durante o trabalho desde o estouro da denúncia, na quarta-feira (28).

“A gente está trabalhando na rua e a pessoa está xingando, chamando de ladrão, tirando foto. Fica difícil trabalhar assim”, comenta o trabalhador. Além dos xingamentos, ele conta que durante o trabalho, nos últimos dias, os trabalhadores têm sido vítima de ameaças de atropelamento, com motorista jogando o carro em direção a eles.

Na visão do operário, em caso de reclamação, a população tem que falar com o patrão dele, não com os trabalhadores nas ruas, que apenas cumprem ordens do encarregado. Após a divulgação dos vídeos, o homem diz que o gerente responsável pelo trabalho dele está andando com o celular para tirar foto dos buracos, a fim de evitar qualquer tipo de problema.  

O trabalhador que entrou em contato com o Jornal Midiamax tem 26 anos e trabalha há quatro anos em tapa-buracos. Disse nunca ter enfrentado problema semelhante ao de agora.

Ainda segundo o depoimento à reportagem, o jovem é casado e tem uma filha. “Tem que reclamar com os patrões. A gente é só empregado e depende disso. A firma ganha dinheiro e a gente ganha R$ 700 por mês e mora na comunidade. Vai bagunçar com o bairro?”, questiona.

Segundo o operário, o trabalho é duro e, em um dia de serviço, eles passam por cerca de sete bairros até acabar com toda a massa que está no caminhão que vem da usina. A massa tem uma temperatura de 180°C.

Sobre o vídeo do ‘buraco fantasma’, o trabalhador analisa que só a rachadura não é motivo, mas que, caso tenha um buraco, mesmo pequeno, a ordem é para que eles o cubram. “Se deixa um buraquinho, infiltra água e depois fica maior”, analisa o trabalhador.

Demitido, só que não

Depois do flagra do ‘falso tapa-buraco’, um funcionário da Selco Engenharia – responsável pelo setor que aparece no vídeo – foi apresentado pela Prefeitura de Campo Grande como responsável pela irregularidade. Em entrevista acompanhada por assessores do município, ele disse ter sido demitido da empresa, em um primeiro momento, e depois os patrões teriam tentado voltar atrás, mas ele não aceitou.

Elton Farias dos Santos, de 32 anos, disse que havia uma falha no asfalto e, prevenindo um buraco futuro, cobriu o local com o material asfáltico. “Claro que a corda iria arrebentar para o lado mais fraco”, comentou o operário, ao explicar o caso, já na sexta-feira (30).

Armação

As denúncias sobre tapa-buracos em locais onde as ruas não apresentam buracos causou desconforto na Prefeitura. A assessoria de imprensa ainda não foi clara ao responder questionamentos sobre custos do serviço – fala-se em R$ 13 milhões mensais pagos a várias empreiteiras -, enquanto o prefeito, Gilmar Olarte (PP), esquiva-se da imprensa na tentativa de evitar responder sobre o assunto.

Na visão do prefeito, aliás, é sensacionalismo dar destaque ao caso. Segundo ele, é tudo armação política. Por outro lado, o Jornal Midiamax continua recebendo denúncias de leitores, alguns reclamando que, enquanto buracos falsos são tapados em algumas ruas, outros, de verdade, incomodam moradores.