Além de denunciar à Justiça suposta manobra para ‘tomar' Santa Casa após fim da intervenção, ABCG deve processar criminalmente secretários de saúde. Mazina alegou ‘dificuldade de localizar os sócios'.

A publicação do edital que tenta ‘atualizar' a lista de membros da ABCG (Associação Beneficente de – Santa Casa) substituindo associados históricos basicamente por servidores públicos em cargos de comissão e pessoas ligadas ao governador André Puccinelli, e ao prefeito Nelson Trad Filho, deve render ação criminal.

A ABCG, que mantém a Santa Casa de Campo Grande desde a fundação do hospital, já preparou uma petição informando à Justiça sobre as irregularidades que diz ter encontrado no documento. A entidade aguarda o cancelamento do edital e cogita entrar com ação criminal contra os interventores.

Wilson Teslenco, presidente da ABCG, considera a publicação uma manobra da Junta Interventiva que controla a Santa Casa para substituir os membros da Associação Beneficente de Campo Grande e tentar manter o controle sobre o orçamento do hospital, um dos maiores de Mato Grosso do Sul.

O edital tenta impor nomes de aliados na associação que vai escolher a nova diretoria da entidade e, indiretamente, quem controlará a Santa Casa. O edital é assinado pela secretária estadual de saúde, Beatriz Figueiredo Dobashi, e pelo secretário municipal de saúde de Campo Grande, .

De acordo com a assessoria jurídica da ABCG, a decisão judicial que determinou a intervenção na administração do Hospital limita os poderes dos interventores à gestão da Santa Casa.

“Nenhum dos dois secretários possui competência nem legitimidade para realizar qualquer ato em nome da Associação, a não ser para a gestão provisória da Santa Casa e sob ordem judicial”, diz Wilson.

Mazina: ‘dificuldade de localizar'

Para a imprensa, o secretário municipal de saúde de Campo Grande, Leandro Mazina, que é cunhado do prefeito Nelson Trad Filho, alegou que a lista foi atualizada porque tinha irregularidades. Ele não especificou quais seriam elas, no entanto.

“A gente teve dificuldade de localizar os sócios”, disse Mazina ao jornal diário O Estado de MS.

Teslenco ironiza o argumento do secretário. “Se ele não conseguiu encontrar todo mundo que faz parte da Associação há décadas, e tem endereço fixo, muitos sendo personalidades públicas, como o presidente do Detran-MS, Carlos Henrique dos Santos Pereira, e até o presidente do prórpio partido do prefeito, Esacheu do Nascimento, então eles têm um problema sério de eficiência”, alfineta.

‘Até o Puccinelli'

Na lista montada pelos secretários chamam a atenção nomes conhecidos da atual administração do governo do estado, como a secretária de Administração, Thie Higushi Viegas dos Santos, o diretor da Funsau, Ronaldo Perches Queiroz, e o próprio governador André Puccinelli. No total, são duzentos e dez nomes.

Além da presença em peso de aliados do governador e do prefeito, ambos do PMDB, membros históricos da Associação, como o ex-governador Wilson Barbosa Martins, o ex-senador Valter Pereira, e até o atual presidente com eleição registrada em ata, Wilson Teslenco, curiosamente ficaram fora da lista de “Atualização” montada por Dobashi e Mazina.

O estatuto da ABCG prevê que a inclusão de novos sócios só é possível por proposta escrita de pelo menos um associado, depois de aprovação unânime no Conselho Administrativo e a exclusão de qualquer associado só pode ser decidida pela Assembléia Geral.

Erros e Big Brother

Além da presença de servidores que ocupam cargos em comissão, grupos de parentes, e pessoas ligadas a vereadores e deputados do grupo político de Puccinelli, também se destaca na lista a forma como alguns nomes são citados, inclusive com erro de grafia.

A servidora Esterlita Fonseca Lelis, técnica de serviços organizacionais da Secretaria de Administração, por exemplo, é citada na lista como Esterlita Fonseca “Lela”. Ela teve prorrogada a portaria que a colocou à disposição da Secretaria de Gestão de Recursos Humanos, em janeiro de 2012.

Outro caso interessante é o do ex-big brother Dilson Walkares Rodovalho Filho, que, para se tornar associado, é citado no edital como “Dilson Madmax Walvares Rodovalho”. Além de ter o nome artístico estranhamente enxertado no documento oficial, ele também foi nomeado em cargo de comissão na Secretaria de Estado de Governo em abril de 2011.