As oitivas desta quarta-feira (11) na CPI do Consórcio atestaram o sucateamento do transporte público em Campo Grande. Ex-funcionários das empresas concordaram com a população, pois relataram superlotação e frota velha. Além disso, expuseram outra face da concessionária e narraram situações de condições abusivas dentro do ambiente de trabalho.
O ex-motorista do Consórcio, Wesley Moreli, já não mora em Campo Grande. Em Florianópolis encontrou o conforto e condições de trabalho que não tinha durante os quase dois anos atuando no Consórcio Guaicurus.
Assim, o vereador Coringa (MDB) questionou o motivo da saída do funcionário. “O motivo de eu sair da empresa foram as más condições para trabalhar com o transporte. Os ônibus são vários motivos, às vezes até faltam freios”, lamentou.
Acúmulo de função
Wesley, conhecido como ‘Príncipe do Consórcio’, relatou que possuía acúmulo de função. “A gente acabava exercendo mais de uma função, era motorista e acabava jogando a gente para fazer manobra”, disse.
Ônibus sucateados aumentavam os pesares do trabalho, informou aos vereadores. “O estresse diário, elevador e luzes queimados, em dia de chuva caia água na gente. Isso foi estressando, deixando a gente doente”, afirmou.
O ex-motorista relatou que realizou 11h de trabalho seguidas no Consórcio. Disse que os turnos adicionais são conhecidos como ‘pegas’ e já realizou pelo menos três no mesmo dia. A razão? Ele apontou falta de funcionários das empresas.
Questionado por Luiza Ribeiro (PT) sobre as horas extras, disse que as empresas não pagavam hora extra. “Tinha que fazer, porque tinha medo de ser mandado embora”, queixou-se.
Luiza disse que a situação seria até caso de polícia ou trabalhista. “A gente passa mal de ouvir isso”, afirmou a vereadora durante a oitiva.
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Sucata
Então, Wesley seguiu com os relatos, apontando os ônibus em Campo Grande como sucatas. “São carros despreparados para andar na cidade, levar a população de um ponto ao outro. Chove dentro dos ônibus. Peguei um dia de chuva, que a goteira estava pingando em cima da minha cabeça, lá no fundo molhando o passageiro”, relatou.
“Então, para mim é sucata, esses ônibus não tem nem condições de levar a população de Campo Grande, é um risco a saúde, a vida de terceiros”, destacou.
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Ademais, concordou com a necessidade de ar-condicionado. Wesley disse que já chegou a ver no painel do ônibus que a temperatura chegou a 42ºC no veículo.
Apontou que o relato de bordo é abandonado em determinado tempo, pois os relatos de problemas nos veículos são ignorados. “Desisti de relatar no diário de bordo, porque não mudava”, revelou.
Maicon Nogueira (PP) questionou sobre as despesas de acidentes que envolvem os ônibus do Consórcio. “Uma amiga se envolveu em um acidente e correram atrás do motorista para pagar os medicamentos”, relatou o ex-funcionário.
Bilhetagem
Ex-fiscal de bilhetagem, Gabriel Santos deu relato na CPI apontando questões trabalhistas. Contudo, pontou que presenciou falha das ‘catracas’ que marcam os passageiros que usam o transporte.
“Possíveis omissões intencionais também, porque ali você verifica. Talvez eles omitiam as informações para as Agências”, alegou Coringa após o relato.
Além disso, informou que a superlotação também ocorre dentro dos pontos de PegFácil em Campo Grande. Inclusive que colocam em risco a vida dos usuários. “Já aconteceu uma vez na cerca que tem para entrar no PegFácil, um passageiro quase ser atropelado por ônibus ali. Cercas estão velhas, quebradas”, apontou.

Impunidade
Presidente da Comissão, Lívio Leite (União), informou que as falas não se enquadravam na investigação. “Um objeto que não é pertinente à CPI. Senão fica só uma exposição”, disse sobre o relato inicial da testemunha.
Vale lembrar que Renato Assis Coutinho, diretor de Estudos Econômico-Financeiros da Agereg, chegou a apresentar até slides na CPI. Então, o ex-funcionário reforçou a relevância dos relatos.
“Acho no mínimo estranho que expor a qualidade do trabalho, que a gente tinha lá, não seja útil para a CPI. Acho que isso seja um ponto central, porque se o Consórcio faz isso com os próprios funcionários, quem dirá que eles estão se importando com os clientes, os passageiros”, destacou.
Logo, disse que os relatos expõem que “as empresas têm uma certa impunidade, eles não fariam isso se tivesse algum tipo de fiscalização”. Gabriel e Wesley informaram que foram contratados por uma das empresas e que as movimentações trabalhistas ocorriam entre as outras que atuam no Consórcio.
Carga horária extensa, calor excessivo e falta de suporte por parte da empresa também foram vivenciados pelo ex-fiscal. “As pessoas passavam mal lá dentro”, relatou sobre as cabines de cobrança da tarifa.
Por fim, disse que as empresas não trabalham em prol dos usuários. “Definitivamente o Consórcio não está se importando com o serviço prestado”.
Após os relatos, os vereadores informaram que devem oficiar o MPT-MS (Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul) sobre as condições trabalhistas das empresas que compõem o Consórcio.