Vereadores de Sidrolândia relatam perseguição após votarem contra urgência de projeto da Inpasa

Parlamentares explicam que não são contra empresa, mas sim contra a falta de discussão transparente da proposta

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Vereadores que votaram contra a pressa em aprovar o projeto em regime de urgência na sessão da Câmara de Sidrolândia, distante 70 quilômetros de Campo Grande, desta terça-feira (9), denunciam estar sofrendo perseguição de aliados da prefeita da cidade, Vanda Camilo (PP).

A proposta, segundo os parlamentares que estão sofrendo represálias, chegou à Casa de Leis 15 minutos antes da sessão começar. Trata-se da doação de área para a ampliação da instalação da Inpasa, usina de etanol de amido. A proposta entrou em regime de urgência e a população que acompanhava a sessão reclamou que sequer uma audiência pública foi realizada para discutir a doação da área.

A proposta foi aprovada com 10 votos favoráveis. Os parlamentares que votaram contra alegam perseguição. Os quatro vereadores que votaram desfavorável explicam que não são contra o desenvolvimento de Sidrolândia, mas são favoráveis à transparência.

O vereador Enelvo Junior, do PRD, disse que não é contra a empresa, mas lamenta a pressa em aprovar o projeto sem um plano de estudo antecipado.

“Não realizaram audiência pública ou plano de trabalho. O projeto chegou à Câmara 15 minutos antes da sessão. Não tivemos tempo de analisá-lo. Como vamos aprovar algo que não conseguimos estudar antes? Não somos contra o desenvolvimento de Sidrolândia, mas faltou tempo e transparência. Após a votação, possíveis aliados da prefeita espalharam um panfleto com o rosto dos quatro vereadores que votaram contra o projeto”, disse Enelvo.

Cleyton Martins Teixeira (PSB) também lamenta o ocorrido. O vereador disse que é favorável ao projeto, mas não apoia a pressa em aprovar a proposta sem ter tempo de estudá-la.

“Estão distorcendo a informação. A base da prefeita está alegando que não queremos que a cidade tenha desenvolvimento e não é verdade. O projeto não teve o parecer jurídico da Câmara, não teve um plano de trabalho e não sabemos quais os impactos a cidade pode sofrer. Precisamos estudar o que votamos. A proposta chegou 15 minutos antes da sessão. Não deveria ser votado em regime de urgência”, explicou.

José Ademir Gabardo, do PSDB, diz estar até assustado com as represálias e lamenta que a imagem dos vereadores que prezaram por transparência possa estar sendo confundida com quem não quer geração de emprego para Sidrolândia.

“Claro que queremos emprego e desenvolvimento. Na Câmara, tivemos elogios do público presente, mas começaram a espalhar panfletos com as nossas fotos, dando a entender que estávamos atrapalhando que a cidade cresça economicamente. O projeto poderia ser votado, mas não em regime de urgência”.

Clima esquentou durante a sessão

Durante a sessão de terça-feira, um parlamentar chegou a comentar que não votaria a proposta por não ter tempo hábil para ler o projeto. Ao ter a sessão interrompida com os protestos, Cledinaldo Cotócio (PP) se irritou.

“Eu estou c*gando para vocês. Não vou entrar nesse efeito, manada”, apontou. Outras pessoas reclamaram que, para aprovar projeto para ‘milionários’, a Câmara agia rápido. “Para resolver medicação para o povo, ninguém liga”.

Já o vereador Carlos Henrique (PSDB), que retornou na semana passada para a Câmara, após deixar o cargo de secretário municipal de Obras, afirmou que a população reclama, mas fica ‘pagando pau’ para a empresa.

“Quem não leu o projeto, tem que ler. Depois que a empresa é instalada ficam pagando pau”, falou durante a sessão.

Os manifestantes acreditam na importância da empresa para a região, e frisam que a preocupação é a falta de transparência em aprovar o projeto e na ‘pressa’ em pautá-lo em regime de urgência.

Manifestantes na Câmara

Grupos de moradores se mobilizaram para ir à Câmara de Sidrolândia para pressionar os vereadores a abrirem uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra a prefeita Vanda Camilo (PP), nesta terça-feira (9), primeira sessão após a prisão do ex-secretário de Fazenda da cidade, o vereador de Campo Grande Claudinho Serra (PSDB).

Para a população, é muito difícil que a prefeita não saiba o que acontece na própria família, com o genro nomeado na prefeitura, acusado de desviar mais de R$ 15 milhões em recursos públicos.

Vanda escapou de Comissão

Em outubro do ano passado, também em decorrência da Operação Tromper, o relatório final da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra a prefeita de Sidrolândia, Vanda Camilo (PP), pedia abertura de Comissão Processante por irregularidades e indícios de improbidade administrativa.

O relatório apontava indícios de ilegalidades em três contratos. Havia suspeita de dano ao erário, direcionamento e obras contratadas que não foram executadas.

Apesar do relatório, Vanda escapou de investigação por ter, à época, maioria dos vereadores na sua base de apoio na Câmara.

Vereador preso

Vereador de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB) foi preso no dia 3 de abril, uma quarta-feira, após mandado de prisão autorizado pela Justiça por suspeitas de esquema de corrupção, durante a terceira fase da Operação Tromper.  

Não foi encontrada arma durante busca e apreensão na casa do vereador, em um condomínio da Capital. O parlamentar é ex-secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica de Sidrolândia e

genro da prefeita Vanda Camilo. Ele foi um dos oito alvos de prisão da operação, comandada pelo Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), com apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e da Polícia Militar, que apura corrupção na prefeitura de Sidrolândia.

Foram cumpridos também 28 mandados de busca e apreensão por suspeita de corrupção em contratos de asfalto, segundo divulgou o MPMS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul).

A investigação, tocada pela 3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Sidrolândia, ratificou a efetiva existência de uma organização criminosa voltada a fraude em licitações e contratos administrativos com a Prefeitura Municipal de Sidrolândia, bem como o pagamento de propina a agentes públicos municipais.

Também foi identificada nova ramificação da organização criminosa, atuante no ramo de engenharia e pavimentação asfáltica. Os contratos já identificados e objetos da investigação alcançam o montante aproximado de R$ 15 milhões.

A operação contou com o apoio operacional do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), do Batalhão de Choque e da Força Tática da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul, além da assessoria militar do MPMS.

Operação Tromper

Nas duas primeiras fases da Operação Tromper, os agentes investigaram corrupção na prefeitura de Sidrolândia, cidade distante 70 quilômetros de Campo Grande. Durante as investigações, foi descoberto, segundo o Gecoc, conluio entre empresas que participaram de licitações e firmaram contratos com a Prefeitura de Sidrolândia, que somados chegam a valores milionários.

Ainda segundo as apurações, também foi investigada a existência de uma organização criminosa voltada à fraude em licitações e desvio de dinheiro público, bem como o pagamento de propina a agentes públicos, inclusive em troca do compartilhamento de informações privilegiadas da administração pública.

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