O Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) autuou o frigorífico JBS para tomar uma série de providências sobre o mau cheiro da região do Nova Campo Grande. A empresa tem até o dia 20 de maio para esclarecer se irá se comprometer a cumprir ou não as exigências decorrentes de uma audiência pública que aconteceu nesta manhã de quarta-feira (3), que debateu o odor da região.  

Entre as ideias fomentadas no encontro estão: o aumento do cinturão arbóreo em torno da planta frigorífica, revitalização de canos e estruturas em torno do frigorífico, ações sociais para os bairros do entorno, patenteados pelo frigorífico e fiscalizações com maior intensidade por parte dos órgãos (Imasul, Ministério Público e Sesau).

Nesta manhã, os moradores do Nova Campo Grande participaram de uma audiência pública na Câmara da Capital. No encontro, a população relatou o drama enfrentado diariamente devido ao mau cheiro que assola a região há anos.

A audiência foi convocada pela Comissão Permanente de Meio Ambiente da Casa, composta pelos vereadores Zé da Farmácia (presidente), Silvio Pitu (vice), Dr. Jamal, Betinho e Prof. André Luís.

Após o encontro, o presidente da Comissão, Zé da Farmácia, irá enviar um relatório de todas as ideias propostas pelas entidades presentes, assim como a população do bairro, para o JBS e os órgãos que não se fizeram presentes na audiência.

Suposto causador do mau cheiro, o frigorífico da JBS não compareceu à audiência de hoje. O frigorífico encaminhou um ofício alegando que o encontro “não contemplou outras empresas que igualmente operam na região em questão e possuem potencial contribuitivo relevante para a temática em discussão”. Ministério Público também não se fez presente e não encaminhou representante.

Mau cheiro assola a população há anos

A moradora Fábia Brites, que reside no bairro Nova Campo Grande há mais de duas décadas, comentou sobre como é conviver com o odor.

“Nós convivemos com a podridão do bairro há mais de duas décadas. São 24 anos vivendo com um mau cheiro. O odor é tão grande que parece que abriu a descarga do fedor. Isso desvaloriza nossos imóveis. São pelo menos 8 bairros atingidos. A gente espera um dia conseguir receber visitas sem constrangimento. Esperamos conseguir jantar sem precisar fechar todas as portas e janelas de casa”, disse Fábia.

Eugênia Portela mora na região há meio século. Ela diz que, há pelo menos dois anos, o mau cheiro se intensificou. Na esperança de dias melhores, a moradora resolveu comparecer na Câmara para ajudar ‘na luta contra o odor’.

“Moro na região há 50 anos. Teve período que foi menos, mas de dois anos para cá, está muito ruim, principalmente quem mora mais próximo do frigorífico. O vento acaba levando o mau cheiro. Até para quem mora mais distante chega. A audiência pública é esse instrumento que nós temos para vir até o legislador para que ele vá junto conosco nessa luta. O meu entendimento é que nós vamos precisar mesmo do Ministério Público, atuando com a empresa. A audiência pública tem essa finalidade de denunciar, de fortalecer a luta”, disse Portela.

“Detectamos um forte odor, difícil até de respirar. Fazer uma alimentação com aquele cheiro deve ser algo horrível. Hoje, essa audiência pública traz os moradores da região do Imbirussul, Nova Campo Grande, Vila Eliane, Vila Popular e outros bairros também ali adjacentes, para discutirmos uma solução e levarmos uma solução para aquele fedor”, disse Zé da Farmácia.

A fiscalização realizada pelo Imasul em fevereiro passado, atesta o relato de moradores da região do bairro Nova Campo Grande sobre a emissão de mau cheiro vindo do frigorífico da JBS/SA, na Avenida Duque de Caxias, em Campo Grande.

O Parecer Técnico Nº 052/2024, elaborado a partir de vistorias em 17 e 19 de fevereiro deste ano para investigar o fedor, evidencia que a fedentina não dava trégua nem durante a madrugada – como já foi noticiado pelo Midiamax a partir de relatos da população. As fiscalizações também resultaram em uma multa de R$ 100 mil para a planta frigorífica devido ao lançamento irregular de resíduos.

O mau cheiro virou alvo de protestos, agendamento de audiência pública na Câmara de Vereadores e de 70 processos de moradores que pedem indenizações por danos morais coletivos ambientais e pela desvalorização dos imóveis.

Outro relatório do Imasul, feito a partir de vistoria em outubro de 2023, “livrava” o frigorífico pela culpa do mau cheiro ao dizer que odores eram “intrínsecos da atividade”. Contudo, a fiscalização deste ano atestou que a planta, de fato, emitia uma fedentina perceptível na região.