Apoio a peça de teatro ‘trans’ gera discussão entre deputados Gleice Jane e Catan

Peça foi alvo de fake news e deputada esclareceu que não são abordados assuntos de gênero

Dândara Genelhú – 09/05/2024 – 14:06

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teatro peça
Moção acabou não sendo votada. (Reprodução, Facebook)

A deputada Gleice Jane (PT) e João Henrique Catan (PL) protagonizaram discussão durante a sessão desta quinta-feira (9). O assunto foi o apoio ao grupo de teatro ‘UBU TRANS – Transformando Caminhos e Fronteiras’, que foi alvo de fake news em Mato Grosso do Sul.

Nos últimos dias o grupo foi alvo de notícias falsas e ataques virtuais, que afirmavam que as peças de teatro tratavam sobre questões de gênero. Assim, a deputada fez breve explicação sobre a peça ‘Uma moça na cidade’.

“Começa a contar uma história de uma moça do interior que vem para a capital, que se apaixona, que vive todos os dramas da adolescência, de uma menina que ama um menino, mas outro menino que também amava ela. Sabe, um triângulo amoroso? Uma história muito bonita”, contou na tribuna.

Gleice afirmou que a peça tem um “final que traz para gente uma reflexão muito importante sobre a juventude”. Assim, destacou que o espetáculo “é uma história que acontece em 1950, em uma relação heterossexual, mas que foi questionada na redes sociais porque o grupo traz no seu tema a palavra ‘trans’. E trans nesse caso em específico vem de trânsito e transformações”.

Segundo a deputada, “o grupo resolveu dar esse nome porque iria apresentar essa peça pelo interior de MS e principalmente na fronteira”.

Peça cancelada e apoio ao grupo

Gleice classificou as pessoas que movimentaram as notícias falsas como “desavisadas, desprovidas de conhecimento”. Para ela, o grupo criou “um clima de tensão em alguns municípios e esses municípios começaram a cancelar a peças. O evento foi cancelado baseado em fake news”.

Disse que os integrantes foram ameaçados. “Durante esse processo eles tiveram muito medo, porque lá no interior houve muita ameaça aos integrantes do grupo”, contou.

Então, apresentou moção de apoio para o grupo que possui investimento do FIC (Fundo de Investimentos Culturais). “Não se pode pensar que o Estado e instituições estejam pautadas por fake news. Uma prefeitura não pode cancelar um projeto que é financiado por recurso público com base em uma fake news”, pontuou.

Discordância

A moção foi colocada em votação e discussão, quando o deputado João Henrique Catan fez discurso contra a aprovação. O parlamentar disse que “particularmente não concordo com o aporte, a utilização de recursos públicos” para a peça.

“A deputada Gleice coloca uma moção de apoio a esse grupo que eu não conheço quantos anos tem, qual a formação, eu não sei o CPF do transsexual que é responsável pelo grupo, eu não sei o que é a extensão da transsexual que é responsável pelo grupo”, se posicionou.

Para o deputado, a moção é inconstitucional. “Eu não sei a extensão que o apoio desta Casa e a vinculação, até que ponto, as ações de qualquer grupo que seja. Eu não quero ser responsável, dando meu apoio extensivo”, disse.

Catan pediu que a Casa reavalie a moção. “Acho que é um ato muito sério a Assembleia aprovar isso. Acho que algo que a gente deveria reavaliar”. O parlamentar ainda questionou “qual os valores, qual a cooptação ideológica” do grupo. “Eu não gostaria particularmente de ter dentro de uma escola a participação de este debate”, finalizou.

“Nobre deputado João Henrique, que se o senhor não viu, não ouviu, não entendeu. Mas o senhor está falando mais uma vez fake news. Eu acabei de vir aqui, usar a Tribuna para falar sobre a situação”, respondeu Gleice Jane.

Durante a discussão, a deputada alegou que a fala de Catan ‘não apoia a cultura, não apoia a arte’. “Não dá mais para aceitar esse discurso da extrema direita. É uma moção de apoio a arte, de apoio a cultura, é uma peça que não tem qualquer debate polêmico e nem conceitualização de direita esquerda ou ideológica”, justificou a matéria.

Por fim, a deputada pediu que debate aprofundado sobre o tema. “A gente precisa parar de encontrar desculpas para enfrentar o ódio, a violência de gênero, para justificar que as pessoas de extrema direita não aceitam que pessoas trans estejam circulando nos mesmos espaços que a gente”.

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