Vereadores avaliam falta de diálogo com a prefeita em meio à 2ª greve em menos de um ano

Adriane Lopes enfrenta mais uma ‘bomba’ e tem atrito com servidores municipais

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Prefeita Adriane Lopes. (Foto: Marcos Ermínio, Midiamax)

Em menos de um ano como prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (Patriota) já enfrenta a segunda paralisação de servidores municipais. Vereadores avaliam o desgaste político do atrito com servidores e criticam dificuldade de diálogo com o Executivo.

Nesta manhã de segunda-feira (27), técnicos de enfermagem e enfermeiros entraram em greve e parte do efetivo deixou os postos em UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e unidades de saúde. A categoria reivindica adicional de insalubridade, enquadramento no Plano de Cargos e Carreira da categoria e implementação do piso nacional.

No início de dezembro, a prefeita também enfrentou uma greve: a dos professores municipais. Neste caso, a categoria recusou proposta apresentada pela prefeita e aderiu à paralisação em meio a críticas sobre falta de diálogo com a gestão municipal. O Executivo chegou a ingressar com ação na Justiça para barrar a greve e a situação só foi contornada dois meses depois, com acordo sobre inclusão de verba indenizatória – não incide sobre salário-base – de 10,39%.

Ainda assim, a ‘solução’ encontrada por Adriane Lopes é vista como frágil, uma vez que os professores cobram que o aumento salarial seja incorporado ao salário-base, para dessa forma incidir sobre contribuição previdenciária, por exemplo.

Dessa forma, a ‘bomba-relógio’ pode estourar em breve, já que a Comissão de Educação da Câmara já adiantou que irá buscar diálogo com o município para que a reivindicação dos professores seja cumprida.

‘A bomba explodiu em cima da prefeita’

Oposição da prefeita na Câmara, o vereador Marcos Tabosa (PDT) diz que apoia a greve dos enfermeiros e considera como péssima a gestão da prefeita.

“A greve é justa. Eu vou apoiar o movimento grevista e pressionar a Câmara na próxima sessão que acontece nesta terça-feira. Vou falar sobre o assunto. A Adriane tem uma péssima administração. Buracos, saúde, infraestrutura, tudo está um caos”.

Já o vereador André Luis (Rede) ameniza a situação e diz que a prefeitura está sem dinheiro e adianta que o clima está ‘tenso’. “Não tem dinheiro para pagar os reajustes que são legais. Vamos primeiro acompanhar para poder saber como intermediar. É complicado pelo fato do município não ter dinheiro, mas ela precisa resolver o problema”, ressaltou.

Para o vereador Professor Juari (PSDB), a prefeita assumiu a gestão com o município em situação ‘financeiramente ruim’, herdada pelo ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD). “Os problemas estão explodindo em cima dela. A saúde e a educação, são serviços essenciais, assim como todos os servidores. Precisamos dialogar e cumprir a Lei. Paralisação é sempre ruim para todos, para a prefeita, para os trabalhadores e para a população”, disse.

Também, Junior Coringa (PSD), aposta no diálogo para enfrentar mais uma greve e não descarta a possibilidade de agendar uma reunião com a prefeita. “Estamos aguardando posicionamento dos sindicatos. Vamos dialogar com a categoria, saber a demanda e buscar uma solução”.

Braço direito da prefeita na Casa de Leis, Edu Miranda (Patriota), destaca que a greve é um ‘efeito cascata’.

“Teve com o Consórcio Guaicurus, com os professores e tudo foi resolvido. A prefeita vai conversar e resolver a paralisação. É um efeito cascata e as categorias reivindicam mesmo, é normal”.

Ainda para a base da prefeita, o vereador Beto Avelar do PSD, Adriane vem cortando gastos para tentar arcar com os compromissos. “A greve é uma busca legítima. A prefeita vem cortando comissionados e outros gastos para conseguir oferecer esses aumentos. Temos que ver a parte legal da greve e tentar resolver”.

Greve da enfermagem

A deflagração do movimento grevista foi definida em assembleia da última quinta-feira (23). Os trabalhadores decidiram aguardar as 72 horas estabelecidas em lei para iniciar a paralisação dos atendimentos nas unidades de saúde de Campo Grande.

Os enfermeiros que atuam nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e outras unidades de saúde geridas pela prefeitura aderem à paralisação.

Segundo Ângelo Macedo, presidente do Sinte/PMCG (Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Enfermagem de Campo Grande), a greve respeita a legislação e apenas 30% dos trabalhadores continuam em atividade, enquanto 70% paralisam.

“O enquadramento na carreira tinha prazo legal já vencido, era para ter ocorrido até 31 de dezembro do ano passado. Isso somado ao desgaste de uma categoria desvalorizada resultou na aprovação do nosso movimento grevista”, relata.

Uma manifestação está marcada em frente ao Paço Municipal de Campo Grande às 10h. O sindicato afirmou que uma notificação informativa foi enviada para prefeitura sobre a greve, que deve impactar o atendimento na cidade.

Prefeita diz buscar consenso

Em agenda pública na última sexta-feira (24), a prefeita Adriane Lopes (Patriota) disse que a negociação para o reajuste do teto ainda está em andamento e enxerga como um direito da categoria.

“Já houve uma primeira conversa, recepcionamos a comissão no início de janeiro com a Sesau. É um direito dos nossos servidores e vamos buscar o consenso”, afirmou.

Paralisações de motoristas de ônibus

Além das paralisações dos servidores municipais, a prefeita também enfrentou empasse com a empresa responsável pelo transporte coletivo urbano e com o Hospital do Câncer, o qual a prefeitura é responsável por uma parcela do repasse e ainda segue com médicos em greve.

Com a empresa de transporte coletivo, o Consórcio Guaicurus, o impasse foi em relação ao aumento da tarifa. Uma reunião técnica do Conselho de Regulação, realizada no dia 19 de janeiro, aprovou aumento da passagem para R$ 5,80. O valor é o que o Consórcio Guaicurus deve receber por passagem, no entanto, o preço pago pelo consumidor será menor.

Em junho de 2022, Termo de Convênio nº 32.097 transferiu R$ 7,2 milhões (pouco mais de R$ 1 milhão por mês) em recursos do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul para ajudar a arcar com a gratuidade do passe dos estudantes de Campo Grande. O termo foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Estado de 30 de junho.

No último dia 14 de fevereiro, com 27 votos favoráveis e um contrário, os vereadores de Campo Grande aprovaram a isenção do ISSQN (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza) para 2023 na Câmara. Muitos justificaram o voto afirmando que se não fosse dada a isenção, o valor do passe de ônibus poderia sair ainda mais caro para a população.

Após a aprovação do ISSQN na Câmara, a prefeita anunciou o reajuste na tarifa de ônibus da capital. A passagem vai passar de R$ 4,40 para R$ 4,65 a partir do dia 1 de março.

Médicos do Hospital do Câncer também continuam em greve. Na última semana, a categoria se reuniu com a prefeitura e destaca um déficit mensal de R$ 770 mil. O representante da instituição disse que Adriane sabia do problema desde dezembro, mas como não resolveu, a categoria entrou em greve.

Na contramão, a secretária-adjunta da Sesau, Rosana Leite de Melo, explica que quando o estudo foi apresentado para a Prefeitura, a secretaria acolheu as informações que foram encaminhadas para uma auditoria. Ela também destaca que a instituição poderia ter avisado sobre o déficit com mais antecedência, acompanhando os trâmites legais.

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O Presidente da ASMMP, Fabrício Secafen Mingati, que também assinou a nota conjunta (Reprodução, MPMS)