Federal confirmou encontros e ligações de Reinaldo e do filho em ‘dias de receber propina’
Na apuração que levou o MPF (Ministério Público Federal) a denunciar o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), foram documentadas visitas suspeitas em datas próximas aos pagamentos da propina para organização criminosa que, segundo a PF (Polícia Federal), é chefiada pelo político tucano. Os registros de rastreio telefônico e de geolocalização dos […]
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Na apuração que levou o MPF (Ministério Público Federal) a denunciar o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), foram documentadas visitas suspeitas em datas próximas aos pagamentos da propina para organização criminosa que, segundo a PF (Polícia Federal), é chefiada pelo político tucano.
Os registros de rastreio telefônico e de geolocalização dos envolvidos não deixam margem para questionar a presença dos implicados em locais estratégicos para negociações e recebimentos. Desde 14 de outubro, está no STJ (Superior Tribunal de Justiça) a denúncia que indicia, além de Reinaldo, os irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, e outras 21 pessoas.
Os crimes apurados são corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Agora, está nas mãos do ministro Félix Fischer, do STJ a análise da denúncia.
Em sua delação premiada, Joesley relatou encontros com o governador em Campo Grande e em São Paulo. Em uma das ocasiões na capital de MS, Reinaldo teria dito que iria conseguir cinco notas fiscais de compra de boi, para gerar o valor que lhe seria pago a título de propina. Sempre que ele obtivesse os documentos, sua secretária entraria em contato.
“Assim foi feito”, traz um trecho do depoimento citado na denúncia do MPF. É apontado que, entre agosto e dezembro de 2016, o depoente saiu de São Paulo com destino a Campo Grande, para buscar tais “notas fiscais fraudulentas que lhe foram entregues em mãos pelo próprio Reinaldo Azambuja”.
Ainda em 2014, o depoente afirma que o governador de MS, então candidato, procurou o irmão de Joesley, Wesley Batista, na sede da JBS, em São Paulo. Depois da posse em 2015, as tratativas sobre o assunto foram quase sempre presenciais, traz trechos da denúncia.
Rastreamento
Estes e outros relatos da delação, afirma a investigação, são confirmados por dados obtidos com a quebra de sigilo telefônico. O relatório cita também análises de ERB (Estação de Rádio Base) – conhecida como antenas – e coordenadas disponíveis pelo aplicativo Google Maps, com o rastreio da localização dos envolvidos.
Por estes meios, portanto, foi possível confirmar, por exemplo, que Reinaldo Azambuja esteve ao menos duas vezes na sede do grupo em Campo Grande e em São Paulo, em 19 de setembro de 2014 e 12 de novembro de 2014.
No caso da ida do governador no início de 2014, citada acima, a investigação afirma que, segundo dados extraídos do Google Maps, há coordenadas que indicam o endereço da controladora da JBS, na Rua General Furtado Nascimento, nº 66, Alto dos Pinheiros, em São Paulo.
As mesmas coordenadas ainda foram confrontadas com os registros da estação telefônica registrada no CPF de Reinaldo Azambuja. Em 19 de setembro de 2014, também “há registros convergentes com as proximidades do endereço da J&F”.
Em outro trecho, os investigadores perguntam aos analistas que comparam os dados, se é possível confirmar a ida do governador à sede da JBS entre início de 2014 e fim de 2016. Ainda com o Google Maps, foram extraídas coordenadas do endereço da JBS na Avenida Marginal Direita do Tietê, nº 500, Bairro Vila Jaguará.
Os investigadores confrontaram, então, tal endereço com uso de estações de números telefônicos também associados a Reinaldo. Determinado número, citado na investigação, apresentou convergência com o endereço de São Paulo em 12 de novembro de 2014.
Caminho até o Parque dos Poderes
Considerado peça-chave da investigação, José Ricardo Guitti Guimaro, conhecido como Polaco, também é ‘interceptado’. Em 9 de abril de 2015, a JBS faz depósitos na conta administrada pelo escritório Carandá. Um dia antes, esta empresa transfere R$ 100 mil para Polaco – quantia que é sacada em cheque por ele.
Em 11 de abril de 2015, um dia depois do saque, segundo os registros telefônicos, foram verificados quatro ligações e “fortes indicativos de encontros entre José Ricardo” e Rodrigo Souza e Silva, filho do governador.
Em uma análise mais ampla, ainda segundo a denúncia, os dados de rastreio do celular de José Ricardo no dia 11 de abril indicam ida em direção ao Parque dos Poderes. O mesmo foi feito com o terminal telefônico de Rodrigo. Comparando os dados, “percebe-se que os terminais se deslocam rumo à região da Governadoria do Estado”.
Entrega de R$ 1 milhão e ligação para o pai
Em 20 de fevereiro de 2015, os investigadores rastrearam também entrega por parte de funcionário da JBS de R$ 1 milhão para Antônio Celso Cortez, considerado um dos operadores do ‘grupo criminoso’. Neste dia, foi verificado que o filho do governador, Rodrigo Silva, também apontado no esquema, troca ligações com o operador e, em seguida, liga para o pai.
A primeira chamada (para o operador) durou 69 segundos e a ligação com o governador ocorre 10 segundos depois. “Muito provavelmente para colocá-lo a par da operacionalização da entrega de valor que ocorrera naquele dia”, conclui a apuração.
Ivanildo da Cunha Miranda, colocado como ‘importante’ operador da organização criminosa, é citado por Joesley Batista como responsável por intermediar tratativas em favor do governador. No decorrer dos depoimentos, foi mencionado que ele esteve na JBS com o governador, bem como se dirigia ao escritório da empresa em São Paulo, mensalmente, entre 2015 e 2016.
“Os analistas afirmaram positivamente, indicando que existem ligações entre Ivanildo da Cunha Miranda” por meio de números dele, entre 2 de julho de 2014 e 20 de março de 2016. Um dos rastreios indicou que Ivanildo esteve na controladora da JBS em 2 de setembro de 2014, quando confrontados registros da estação telefônica com o endereço da empresa.
Com 351 páginas de denúncia, essas são somente algumas das menções feitas pelos investigadores. Ao longo do processo, há outras ligações e dados que reforçam suspeita de pagamento de R$ 67 milhões em propina ao tucano, entre 2015 e 2016, em troca de R$ 209 milhões em incentivos fiscais ao grupo.
Outro lado
A reportagem entrou em contato com a defesa de todos os citados, e ainda aguarda posicionamento. O advogado de Antônio Celso afirmou que ainda não foi nomeado formalmente como defesa e, assim que tomar conhecimento do conteúdo da denúncia, se pronunciará.
José Roberto da Rosa, que defende José Ricardo Guitti, disse que as informações necessárias foram prestadas no bojo do inquérito 11.190 e que só se manifestará novamente no processo, após ser aceito pela Justiça. O governador Reinaldo Azambuja, em nota oficial, repetiu que recebeu com ‘indignação e surpresa’ a denúncia no STJ.
Apesar de dizer que são infundadas, o governador de Mato Grosso do Sul contratou 14 advogados, com alguns dos mais caros escritórios jurídicos do Brasil, para a defesa.
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