Tema era eliminação da violência contra as mulheres

Sessão da Câmara Ativa debateu o fim da violência contra a mulher na manhã desta quarta-feira (29). Realizada na escola municipal Maria Tereza Rodrigues, no Santa Emília, a edição contou com falas da diretora, Rosinete de Jesus Nascimento, que relatou casos de agressão doméstica que afetam as mães de alunos da unidade.

“Tem mãe de aluno que tem quatro, cinco até nove filhos. O aluno às vezes diz algumas coisas, mas a mãe nunca confirma porque tem medo. Muitas dependem financeiramente do homem, muitas são analfabetas e os maridos não as deixam voltar aos estudos. Elas simplesmente não conseguem se livrar da violência”, contou.

Rosinete expôs a dificuldade que é tentar ajudar quando a própria mulher não diz o que acorre, mas contou que a escola já promoveu palestras para conscientização da proteção que a denunciante tem nestes casos. Alunos do 8º ano também receberam orientações no início do ano letivo.

Ela avaliou que nesta idade os meninos já começam a compartilhar fotos de nudez que as meninas enviam. “E aí começa a agressão psicológica”, observou. Os vereadores presentes, que não chegaram nem a metade dos 29 representantes do Legislativo de Campo Grande, se comprometeram a elaborar projetos voltados ao tema.

Discrepâncias

Mesmo em uma sessão teoricamente para debater a violência contra a mulher em todos os sentidos, algumas falas e atitudes ainda apresentaram resquícios de machismo, como a própria vereadora Cida Amaral (Podemos) pontuou, mesmo que em tom de brincadeira. A enfermeira, que estava na mesa que presidiu os trabalhos, começou a discursar, mas teve que ceder sua vez ao vereador Wilson Sami (PMDB).Aos vereadores, diretora de escola relata casos de mães que sofrem violência doméstica

O peemedebista, que também é ginecologista e obstetra, justificou que precisaria se ausentar para conduzir uma cirurgia. Contou que já atendeu mães que precisou refazer os pontos da cesariana porque o marido da paciente não respeitou o tempo correto para voltar a manter relação sexual. O médico aproveitou para falar sobre os abortos que evitou.

“Já conseguimos evitar mais de 3 mil abortos de mulheres que não foram estupradas e sim tinham gestação indesejada. Deus deu a vida para cada um respeitar”, opinou. Então, após a fala do colega, Cida retomou de onde parou e não deixou passar em branco. “Antes de continuar vou fazer uma brincadeirinha”, disse. “Olha só, um homem passou na frente de uma mulher para falar. É cultural. Precisamos mudar isso”, completou.

Ademir Santana (PDT), mesmo em um evento promovido pela procuradoria da Mulher na Câmara Municipal e com uma mesa presidida por representantes da Casa de Mulher Brasileira e Secretaria Municipal de Políticas Públicas para Mulheres, parabenizou o prefeito Marquinhos Trad (PSD) ao qual chamou de feminista.

“Marquinhos é feminista, tanto que escolheu uma vice”, disse referindo-se à vice-prefeita Adriane Lopes (PEN). Valdir Gomes (PP), chegou no final da sessão, porém a tempo de dizer que a mulher que sofre violência também é culpada. “As mulheres são omissas. Elas têm um pouco de culpa porquê de dia apanham e à note recebem carinho e fica por isso mesmo”.

Para exemplificar, narrou o caso de uma amiga que, após sofrer violência doméstica e denunciar o companheiro, entrou no camburão com ele para ir à delegacia retirar a queixa. Dharleng Campos (PP), tentou amenizar a fala do colega de partido dizendo que as mulheres têm sensibilidade e não acreditam inicialmente que os próprios companheiros estão as violentando.

“Custam a acreditar e entender que o fato de os homens xingarem, já é violência verbal. Que não se trata de um momento de raiva, estresse ou nervoso com o trabalho e outras coisas. Afinal é o pai de seus filhos, com quem pretendiam passar o resto da vida”, expôs. Além disso, pontuou a dependência financeira que pesa muito para muitas.

A vereadora observou que, mesmo diante da resistência de algumas, é necessário que o debate seja aberto, para que as vítimas tenham consciência da rede de proteção formada para não desampara-las. “Tenho certeza de que muitas mulheres já vão sair daqui diferentes. Já vão identificar que xingar é agressão verbal. Não adianta se libertar e não ter para onde ir. Este é o nosso papel, criar espaços para serem ocupados por mulheres”, finalizou.