Bens e imóveis foram comprados com dinheiro não declarado

O ex-deputado federal e ex-secretário estadual de obras, Edson Giroto, preso na 2ª fase da Operação Lama Asfáltica, denominada Fazendas de Lama, teve gastos registrados pela Justiça com ‘acréscimos patrimoniais’ sem declarar fonte de suas receitas, o que para polícia, configura ‘indícios de lavagem de dinheiro’.

De acordo com o processo, que culminou com o pedido de prisão preventiva de Giroto, ele iniciou sua vida pública coordenando a campanha vitoriosa de André Puccinelli (PMDB) à Prefeitura de Campo Grande em 1996, permanecendo à frente da Secretaria Municipal de Obras durante todo o mandato do peemedebista, e por mais dois anos na gestão de Nelsinho Trad (PTB).Relatório de Giroto na PF revela gastos de milhões sem origem declarada

Durante as investigações, a Polícia Federal pontuou indícios de irregularidades na relação do ex-deputado com sua esposa, Rachel Portela Giroto, seu cunhado, o empresário Flávio Henrique Garcia Schocchio, também preso na Fazendas de Lama, suas três filhas, sendo duas de seu casamento anterior, e uma de sua atual mulher. A ex-esposa de Giroto também foi investigada.

No seu último ano à frente da secretaria municipal de obras, em 2006, Giroto adquiriu um apartamento no Condomínio Manoel de Barros e dois terrenos no Damha I, com dinheiro emprestado de sua esposa, Rachel, que não declarou à Receita Federal origem dos valores emprestados ao marido.

Em 2010, já como secretário de obras do governo André Puccinelli (PMDB), a principal transação de Giroto foi a compra de um Mitsubishi Pajero Dakar, ao custo de R$ 136 mil. Neste mesmo ano, houve, sendo as investigações, redução nos rendimentos declarados à Receita Federal, capaz de suprir somente gastos também declarados, deixando de fora custos como cartão de crédito, quase R$ 200 mil ao longo de 12 meses.

Apesar de ter declarado queda nos rendimentos, no ano em que foi eleito deputado federal, a movimentação financeira do ex-secretário foi superior a R$ 1,5 milhão, mais que o dobro dos R$ 600 mil declarados. Rachel e a ex-mulher de Giroto também movimentaram montantes superiores ao que declararam, R$ 450 mil em movimentação para atual, com declaração de R$ 50 mil, e R$ 199 mil para ex, com declaração de R$ 40 mil.

Em seu primeiro ano como deputado federal, 2011, Edson Giroto recebeu da Câmara dos Deputados, apontam as investigações, cerca de R$ 252 mil líquidos, que somados a outros créditos bancários, como atividade rural, gerariam crédito bancário próximo de R$ 1 milhão ‘desconsiderando, é claro, várias situações hipotéticas’, diz trecho do relatório. Todavia, a movimentação bancária de Giroto neste ano ficou em quase R$ 3 milhões.

No ano que disputou e perdeu a Prefeitura de Campo Grande, o ex-deputado iniciou a construção de sua casa no Damha I, com gastos declarados de materiais de construção na ordem de R$ 175 mil. “Contudo, não há valores declarados referentes à construção, podendo ser um indício de que os valores empregados na obras tenham sido sonegados face a sua origem, porventura, ilícita”, aponta a investigação.

Enquanto acompanhava o marido na campanha contra Alcides Bernal (PP), Rachel se tornou sócia do Studio 7 Centro de Beleza. Um ano depois, o salão faturou R$ 1,6 milhão, e a mulher de Giroto declarou rendimentos isentos. “Comparando-se os rendimentos mensais com a movimentação financeira e com os valores recebidos em cartão de crédito, há uma discrepância elevada que somente seria justificada com receitas próximas de 60% do faturamento mensal recebidas em espécie”, diz trecho do processo.

Constam ainda nos autos da investigação, a compra de seis terrenos no Damha em nome das três filhas de Giroto, sendo que nenhuma delas declarou rendimentos à Receita Federal e todas eram dependentes do pai.

Um ano após perder a eleição para Bernal, Giroto adquiriu, alem dos terrenos, participação em duas fazendas, sendo que ‘não houve saídas das contas de Edson Giroto compatíveis com o valor declarado como pago no ano’. Todavia, há em sua declaração de imposto de renda há um financiamento de R$ 1 milhão, possivelmente, para a polícia, usado na construção de sua mansão no Damha.

Seu apartamento no Manoel de Barros foi vendido, também em 2013, por R$ 800 mil, para uma pessoa que emprestou R$ 650 mil de uma empresa de uma filha de João Amorim, para comprar o imóvel de Giroto. Ele também vendeu um apartamento no Rio de Janeiro, por R$ 1,7 milhão, adquirido em 2009 por R$ 500 mil.

Além da compra de fazendas outros imóveis que constam no relatório específico de Edson Giroto, a empresa de seu cunhado, a Terrasta Engenharia, tiveram aumento  nos lucros, de cerca de R$ 500 mil para R$ 6 milhões, em 2013, sendo que Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos), órgão comandado por Giroto, foi responsável por 95% do montante recebido pela empresa.

Giroto e seu cunhado, Flávio, além de João Amorim e Beto Mariano, tiveram suas prisões temporárias convertidas em prisão preventiva, sem prazo para vencer e estão à disposição da justiça.