Pecuarista sul-mato-grossense tenta revogação da prisão 

O pecuarista sul-mato grossense José Carlos , amigo do ex-presidente Lula e preso desde 24 de novembro de 2015 na Operação Passe Livre, desdobramento da Lava Jato, se considera o ‘trouxa perfeito do PT'. Em peça decisiva na ação em que configura como réu, o pecuarista afirma ao juiz Sergio Moro que sabe ter cometido “ um grave equívoco”.

Nas alegações finais, apresentadas nesta sexta-feira (12), a defesa de Bumlai diz que ele ‘sabe ter cometido um grave equívoco, que redundou na acusação, tem consciência de seus atos e de muitos deles se arrepende'. O pecutista é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta de instituição financeira.

Bumlai é protagonista do emblemático empréstimo de R$ 12 milhões que tomou junto ao Banco Schahin, em outubro de 2004. O dinheiro, segundo o próprio pecuarista, foi destinado ao PT, na ocasião em dificuldades de caixa.

Segundo a , em troca do empréstimo, o Grupo Schahin foi favorecido por um contrato de US$ 1,6 bilhão sem licitação com a Petrobrás, em 2009, para operar o navio sonda Vitória 10.000. Lula, que não é acusado nesta ação, teria dado a ‘bênção' ao negócio – o que é negado pela defesa do petista.Defesa cita Bumlai como 'trouxa perfeito do PT'

“A prova dos autos explica o que de fato aconteceu: o PT precisava de dinheiro para, entre outras providências, quitar dívidas da campanha da prefeitura de Campinas”, alega a defesa. “Por sua vez, o Banco Schahin, representado pelo então presidente Sandro Tordin e seus controladores Salim e MIlton Schahin, tinha dinheiro disponível e muito interesse em se aproximar do Governo Federal e do Partido dos Trabalhadores para se beneficiar de novas ‘oportunidades de negócios'… Nesse contexto, como esclareceu Bumlai, ‘o empréstimo já estava totalmente aprovado' e ‘só precisava de um trouxa' ‘pra assinar e ficar responsável por ele. E o ‘trouxa' escolhido foi José Carlos Bumlai que, além de ser conhecido de todos os envolvidos, era adimplente e amigo do presidente Lula24. Eis o trouxa perfeito!”

Ao final do documento de 70 páginas, a defesa pede a Moro que devolva a Bumlai a liberdade. “Na contramão do que tem sido comum nos processos envolvendo a Força-Tarefa da Lava-Jato, José Carlos Bumlai não é lobista, não é empreiteiro, não é político e tampouco se beneficiou de contratos milionários com o Governo Federal. Tudo o que tinha a esclarecer, foi esclarecido. Bumlai errou e arrepende-se imensamente”.

Enfraquecido por um câncer na bexiga e problemas cardíacos, Bumlai, de 71 anos, há alguns meses foi autorizado pelo juiz Moro a fazer tratamento em casa. Mas, nesta quinta-feira (11), o juiz da Lava Jato mandou o amigo de Lula voltar para a prisão em regime fechado.

Nas alegações finais, os advogados de Bumlai argumentam. “Ainda que a acusação insista em apontar José Carlos Bumlai como grande ‘protagonista' dos fatos, o que a instrução comprovou é aquilo que ele mesmo disse em seu interrogatório em Juízo: foi apenas o ‘trouxa', o homem de paille, de que o Partido dos Trabalhadores e o Banco Schahin precisavam para simular o empréstimo de R$12 milhões. Nada mais do que isso!”

Segundo os juristas, o tempo que já permaneceu preso já seria o suficiente para pagar pelos erros que cometeu. A defesa também alega incompetência de Moro para o caso, aponta ‘a imprestabilidade das provas obtidas por interceptações telefônicas ilegais', a ‘ilegalidade da interceptação telemática' e diz que ‘é inepta' a denúncia do Ministério Público Federal.

Agora a defesa tenta revogar a prisão. “José Carlos Bumlai é um senhor de 71 anos, primário e de bons antecedentes e acometido por uma série de enfermidades recentemente descobertas”, ponderam.

Ao pedir a Moro que mande soltar Bumlai, os advogados destacam um ponto que reputam importante. “Ele jamais quebrou as condições estabelecidas para a prisão domiciliar, de modo que não há nenhum indicativo de que sua manutenção nesse regime possa colocar em risco a ordem pública ou a aplicação da Lei Penal e, ao mesmo tempo, permitirá que ele possa cuidar dignamente de sua saúde”. Em tom de apelo, também pedem que na remota hipótese de condenação, a possibilidade de responder o processo em liberdade ou, ao menos, a fixação de uma medida cautelar menos gravosa, como o uso da tornozeleira eletrônica em regime domiciliar. (Com informações Estadão)