Mensagens sobre o período entre 1976 a 1983

Milhares de pessoas estão nas ruas de Buenos Aires e outras províncias da Argentina para relembrar os 40 anos do Golpe Militar no país desde as primeiras horas desta quinta-feira (24). Famílias e grupos de direitos humanos se reúnem com cartazes de desaparecidos políticos, além de mensagens sobre o período entre 1976 a 1983, que começou com a repressão a rebeldes marxistas, sindicatos e opositores de esquerda, durante a qual as forças de segurança do país mataram 30 mil pessoas.

Carros e ônibus vindos de cidades do interior do país estão nas ruas da capital, que também recebe o presidente americano Barack Obama desde a quarta-feira (23). O grupo de direitos humanos “Encuentro Memoria Verdad y Justicia” chamou a população ao ato que saiu da Praça do Congresso, às 15h30 locais, e seguiu em direção a Praça de Mayo, reunindo a multidão com a presença de carros de sons, movimentos políticos diversos, além de cidadãos comuns. O lema da manifestação é: “Não à adaptação, saques e repressão: 30.000 companheiros presos e desaparecidos Presentes!”.

Outra marcha saiu da sede das Mães da Plaza de Mayo e também segue em direção a Praça de Mayo.

A brasileira Júlia Matravolgyi, que mora em Buenos Aires, está nas ruas acompanhando a marcha. Segundo ela, há um intenso movimento de pessoas desde a manhã com cartazes e reflexões políticas importantes. “Para mim, é muito importante estar aqui hoje, relembrando um período triste da História argentina, mas também pensando sobre o momento em que o Brasil vive, com essa crise política intensa. A democracia é algo complicado e tenho a impressão de que não somos conscientes da importância dela. As pessoas estão nas ruas hoje para pensar sobre isso, reafirmar isso”, conta.

Júlia diz estar emocionada em ver tantas pessoas nas ruas como “nunca viu antes” em prol da liberdade, dos direitos humanos. “Em São Paulo, ultimamente, vemos o contrário disso, inclusive, de pessoas pedindo intervenção militar. Não acho que a Argentina seja melhor do que nós, ou mais maduros politicamente. Mas esse movimento hoje me faz refletir”, pontua.

Outro brasileiro que participou do ato em Buenos Aires é João Gustavo Munhoz, que disse se sentir revigorado. “Gostei de participar principalmente para entender um pouco mais do contexto da esquerda e dos movimentos sociais na América Latina. Pra mim é revigorante ver que as pessoas estão nas ruas e seguem lutando por justiça e por manutenção e ampliação de direitos – ainda mais quando as ruas aí no Brasil ecoam um discurso ignorante e evocam a volta da ditadura. Aqui, hoje, a mensagem é clara: ditadura nunca mais”, conta.

Há também eventos nas províncias de Entre Rios, Chubut, Mendoza, Catamarca, Neuquén, La Pampa, San Luis, Chaco, Rio Negro, Santiago del Estero entre outros.

Golpe Militar no país

A Ditadura na Argentina começou com um golpe de Estado pelos militares que assumiram o poder, criando um dos governos mais autoritários da América Latina no último século. A estimativa é de que, pelo menos, 30 mil argentinos tenham sido sequestrados e aproximadamente 2,5 milhões tenham fugido do país durante o período.

Obama na Argentina

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta quinta-feira (24) que os EUA precisam examinar suas próprias políticas relacionadas ao início do período ditatorial da Argentina (1976 a 1983). “Há controvérsias sobre as políticas dos Estados Unidos no início destes tempos sombrios”, afirmou o líder americano após visita a memorial das vítimas da ditadura.

No aniversário de 40 anos do golpe, o presidente americano afirmou que o seu governo vai tornar públicos documentos militares e de agências de inteligência relacionados à ditadura militar da Argentina. Obama fez uma homenagem às vítimas em visita ao Parque de la Memoria.

O presidente também disse que os EUA demoraram a condenar as atrocidades cometidas contra os direitos humanos durante a ditadura na Argentina entre 1976 e 1983 ao homenagear as vítimas da “guerra suja”, mas não chegou a pedir desculpas pelo apoio dado inicialmente por Washington à junta militar.